Uma disputa pelos cargos da Mesa Diretora do Senado pode ter consequências sérias para a relação entre o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) e os partidos de oposição, que ficaram de fora da composição da Mesa, em votação ocorrida ontem.

O impasse em relação à representação de cada partido nos cargos à disposição descambou em uma áspera discussão no plenário entre Renan e o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB), que trocaram acusações aos berros em um intenso bate boca.

PSB e PSDB acusaram Renan de patrocinar nos bastidores a formação de uma chapa que excluiu os dois partidos de postos na Mesa, em retaliação ao apoio dado pelos dois partidos à candidatura do senador Luiz Henrique (PMDB-SC) à presidência da Casa, contra Renan. Informações de que Renan se reuniu com partidos aliados em sua residência e deu aval para "atropelar" quem votou contra ele na disputa a presidente inflamaram os ânimos. Renan, frio, apenas alegava não ser sua atribuição, e sim dos líderes dos partidos, construir um acordo para que todos fossem contemplados em uma mesma chapa.

"O que está ficando claro é que houve compromissos excessivos feitos para a eleição do Renan e que estão sendo agora cobrados. Caberia a vossa excelência conduzir esta Casa a um consenso, respeitando a proporcionalidade", disse Aécio, dirigindo-se a Renan. "Vossa excelência será o presidente dos ilustres senadores que o apoiaram, mas perde a legitimidade de ser o presidente de todos nessa Casa", apontou.

Foi o que bastou para o presidente do Senado, furioso, responder. "É bom que vossa excelência, que disputou uma eleição presidencial, esteja dizendo isso. Veja em que conta o senhor coloca a democracia, como é estreita".

Aécio, gritando ao microfone, devolveu: "Perdi de cabeça erguida! Olho nos olhos do cidadão, eu falo com a população brasileira. Vossa excelência perdeu a dignidade desse cargo".

"Respeite a Mesa. Tenha a dimensão da democracia", rebateu Renan. Entre gritos disparados de lado a lado, Renan disse a Aécio: "Vossa excelência perdeu a chance de ser presidente da República".

A distribuição de cargos na Mesa também levou a senadora Lúcia Vânia (GO) a anunciar sua desfiliação do PSDB. Segundo a senadora, a decisão foi tomada por causa de boatos espalhados por integrantes da sigla de que ela teria contrariado a decisão partidária na eleição da presidência do Senado em troca de se manter na primeira secretaria.

"Não tenho mais motivação para ficar no PSDB. Me massacraram. Renan, quando impôs meu nome para a primeira-secretaria, jogou a isca. E o Aécio mordeu o anzol. Ele podia ter dito que agradecia a indicação, reconhecia meu valor, mas isso ia ser discutido internamente. Mas não levantar suspeitas sobre o meu voto ", afirmou na tribuna.

Para a senadora, o partido agiu de maneira rasteira para queimá-la na disputa, em favor de Paulo Bauer (PSDB-SC), também postulante à vaga. Ela disse que vai recorrer à Justiça para tentar não perder seu mandato e que, por enquanto, não tem a intenção de se filiar a nenhum outro partido.