Em meio a divergências na condução do governo, crise política e econômica e queda na popularidade, a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor e padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, se encontraram nesta quinta-feira, 12, a portas fechadas, em São Paulo, depois de mais dois meses sem uma conversa a sós. Foi o maior período de afastamento entre os dois petistas desde que Lula transmitiu o cargo a Dilma, em janeiro de 2011.

A intenção da conversa foi corrigir os rumos do governo, principalmente na relação política com o Congresso e com os partidos aliados. Mas para Dilma, segundo interlocutores, o encontro também teve como objetivo quebrar a imagem de isolamento criada neste início de segundo mandato e tentar estancar a queda abrupta na aprovação do governo colando a imagem dela à de Lula.  

 

 

Lula e Dilma durante reunião em São Paulo

Lula e Dilma durante reunião em São Paulo

 

Segundo o Datafolha, desde outubro de 2014, o porcentual de eleitores que consideram o governo Dilma ruim ou péssimo subiu de 20% para 44%. Já Lula, segundo o mesmo instituto, é considerado o melhor presidente da história por 64% dos entrevistados.

Os dois se reuniram por pouco menos de três horas em um hotel na zona sul da capital paulista. Confirmado anteontem pelo ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, o encontro não foi incluído na agenda oficial de Dilma, que previa apenas exames no hospital Sírio-Libanês, por se tratar de uma agenda particular.

Embora tenha cobrado de seus ministros que façam a "batalha da comunicação", Dilma tratou o encontro com Lula como um evento sigiloso. A assessoria de imprensa da Presidência não confirmou o local da conversa. O Planalto orientava os jornalistas a procurarem uma assessora que acompanhava Dilma, mas que não atendia os telefonemas.

Na tentativa de despistar jornalistas, a Presidência não informou nem sequer o horário em que Dilma deixou o hospital.

A presidente foi obrigada a esperar pelo encontro por mais de uma hora. Dilma saiu do Sírio-Libanês por volta das 11h, mas Lula chegou de uma viagem ao Rio só depois das 12h30.

Despistes. Para justificar a viagem a São Paulo, Dilma tentou mudar para a capital paulista a reunião com o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, mas depois voltou atrás. Segundo funcionários de um sofisticado hotel da cidade, os alemães chegaram a reservar (e cancelar) mais de 20 quartos.

Jornalistas foram impedidos de entrar no hotel onde ocorreu o encontro entre Dilma e Lula. A gerência tentou expulsar uma repórter que almoçava no bar do saguão, mas recuou. "Não queremos a imprensa aqui", disse um funcionário identificado como Carlos.

Mesmo depois de toda a imprensa ver a chegada do helicóptero presidencial ao hotel, o Planalto continuou omitindo o encontro. O horário da partida de Dilma de volta a Brasília só foi revelado quando ela já estava em voo. Só no fim da tarde o Instituto Lula publicou em seu site - com autorização do Planalto - uma foto de Dilma com o ex-presidente.

Bombeiro. O teor da conversa não foi revelado, mas antes mesmo do encontro Lula já atuava como articulador do governo. Anteontem, no Rio, ele foi recebido em jantar pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB). À mesa, estavam outros dois peemedebistas, o governador Luiz Fernando Pezão e o antecessor, Sérgio Cabral. Na semana passada, o prefeito havia recebido o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), desafeto do governo Dilma.

Paes e Pezão atuaram pela eleição de Cunha, mas mantêm boas relações com Lula e agora farão o papel de "bombeiros" na difícil relação do presidente da Câmara com o governo e o PT. Lula decidiu agir para evitar que a tensão do PT com o PMDB se agrave ainda mais.