A Petrobras pressiona 23 empresas do cartel alvo da Operação Lava Jato, que corrompia agentes públicos em troca de obras e serviços bilionários, a assinarem acordos de leniência. Em troca, acena com suspensão da medida que as impediu preventivamente de serem contratadas ou participarem de licitações na estatal petrolífera.

Com base em seu código de regras, a Petrobras condiciona o fim do bloqueio administrativo imposto cautelarmente às maiores empreiteiras do País, como OAS, Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, à assinatura dos acordos.

A comunicação foi enviada simultaneamente a executivos das gigantes da construção em e-mail de 29 de dezembro de 2014. Os termos da leniência proposta terão de atender cinco exigências. "A empresa reconheça sua culpa, comprometa-se a ressarcir a Petrobras dos prejuízos causados, inclusive à sua imagem, repactue contratos vigentes, adote medidas adequadas de compliance e atenda eventual outra condição imposta pelas autoridades (de investigação)", diz a mensagem.

O bloqueio e a pressão pelos acordos de leniência fazem parte das sanções adotadas preventivamente pela Petrobras, no âmbito administrativo, após as 23 empreiteiras terem sido citadas como parte de um cartel que fatiava obras da estatal.

São considerados pela Petrobras os depoimentos de quatro delatores da Lava Jato: o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e os executivos dos grupos Toyo e Setal Julio Camargo e Augusto Mendonça.

A Setal já firmou acordo de leniência, em outubro, no qual se propõe a relatar a ação do cartel - os depoimentos de Camargo e Mendonça foram decisivos para a Procuradoria da República denunciar os empresários à Justiça Federal.

"Considerando a gravidade dos fatos apontados, bem como o perigo iminente de novos danos à Petrobras, estamos adotando cautelarmente, a medida de bloqueio", assinala o atual diretor de Engenharia, Tecnologia e de Materiais da estatal, José Antônio de Figueiredo, no e-mail às empreiteiras.

A Petrobras condiciona o fim do bloqueio administrativo imposto cautelarmente às maiores empreiteiras do País (Foto: Divulgação)

A Petrobras condiciona o fim do bloqueio administrativo imposto cautelarmente às maiores empreiteiras do País (Foto: Divulgação)

 

Condições

A assinatura de acordos de leniência é uma das três condições elencadas pela Petrobras para que as empreiteiras voltem a ter chances de participar dos contratos. As outras duas são "eventual aplicação de sanção administrativa pela Petrobras" ou "decisão em sentido contrário", isto é, conclusão de que a empresa em questão não cometeu irregularidades. Foi dado às empresas prazo de 15 dias para apresentarem suas defesas à estatal.

Quem conduz o procedimento interno da Petrobras é a Coordenadoria de Comissões para Análise de Aplicação de Sanção (Caase), sob comando de Joel Trindade Mariz Júnior.

Vinte e cinco executivos e funcionários de seis das 23 empresas do cartel foram denunciados pela força-tarefa da Lava Jato em dezembro, no primeiro pacote de acusações judiciais. Desses, 11 permanecem presos preventivamente na sede da Polícia Federal, em Curitiba, desde 14 de novembro, quando foi deflagrada a sétima fase da operação, a Juízo Final, que teve como alvo empresários sob suspeita de corromperem agentes públicos.

Os executivos das demais empresas serão alvo da Lava Jato neste ano. Eles responderão por formação de organização criminosa, fraude em licitações, cartel, corrupção e lavagem de dinheiro.

As empreiteiras negam a prática de cartel. Parte delas alega, perante a Justiça Federal, ter sido vítima de extorsão de lobistas com trânsito livre em diretorias estratégicas da estatal.

Em 30 de dezembro, a estatal divulgou nota comunicando a medida aprovada pela Diretoria Executiva, na qual afirma: "A adoção de medidas cautelares, em caráter preventivo, pela Petrobras tem por finalidade resguardar a companhia e suas parceiras de danos de difícil reparação financeira e de prejuízos à sua imagem".

"A Companhia notificará as empresas do bloqueio cautelar e respeitará o direito ao contraditório e à ampla defesa." O embargo está previsto no Manual da Petrobras para Contratação (MPC), informa o documento.

Procurada para se manifestar sobre a medida, a Petrobras não respondeu à solicitação.