Homenageado pela Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) com a presença do governador e do prefeito do Rio, representantes de vários partidos, executivos e empresários, o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que responde a inquérito de corrupção passiva aberto no Supremo Tribunal Federal (STF), disse que não irá praticar retaliações na pauta do Congresso. "Não pensem que porque a gente está em uma disputa política faremos pauta para incendiar o país", afirmou o deputado.

Cunha voltou a acusar ontem o governo e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de tentarem comprometer o Congresso Nacional nas denúncias decorrentes da Operação Lava-Jato. Para ele, a petição de Janot "é uma piada". "Houve uma tentativa de dividir [com o Congresso] o ônus numa crise instalada no executivo, porque a Petrobras é do governo. Foi o que eles tentaram, às vésperas dessas manifestação", disse, referindo-se aos atos programados para o próximo fim de semana.

Cunha disse que a relação entre os dois Poderes - Executivo, sob o comando do PT, e Legislativo, sob comando do PMDB - será institucional a partir de agora. Assim, como as do PMDB com o PT, que não deverão estar juntos em 2018, em sua opinião. "É pouco provável por vários fatores. Por diferenças ideológicas, essa relação tumultuada. Poderia dizer um rosário de diferenças. Estamos chegando a um momento em que as divergências são maiores que as convergências", resumiu, declarando apoio para a próxima disputa presidencial ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, por quem foi bastante elogiado.

O presidente da Câmara questionou a forma como o pacote fiscal foi enviado pelo governo ao Congresso, e lembrou que até agora as Medidas Provisórias (MPs) não foram remetidas à comissão mista das duas casas. Segundo ele, esta é uma atribuição do presidente do Senado, Renan Calheiros, também citado por Janot. Para ele, o PT está se isolando no Congresso e o governo precisa buscar sua maioria para conseguir influenciar na pauta da Casa.

"Não há dúvida de que algum ajuste terá que ser feito. Se o Brasil perder o grau de investimento, as reserva de R$ 300 bilhões se evaporam", frisou.

O partido da presidente Dilma também falha ao não contar com o vice-presidente e presidente do PMDB, Michel Temer, na articulação política, segundo Cunha. "É o melhor quadro político dentro do governo, com mais capacidade de articulação. Não usar o Michel Temer em uma articulação política é não ter compreensão de como funciona o Congresso. Por isso, talvez a articulação política esteja desse jeito", criticou.

Entre outros argumentos em sua defesa, o presidente da Câmara disse que foi envolvido nas denúncias de Janot porque o único depoimento que cita um representante da oposição, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), é também o único que o cita. "Não tenho dúvida de que terei facilidade para desmascarar cada acusação. O ponto principal das minhas manifestações é que o procurador escolheu a quem investigar. E teve motivações políticas. Não haveria outra maneira de validar as denúncias contra o Anastasia se não me incluísse também", afirmou.

O deputado também negou mais uma vez as acusações de que tenha pressionado as empresas Mitsui e Samsung através de requerimentos propostos pela aliada Solange Almeida (PMDB-RJ), ex-deputada federal. Criticou ainda a menção a doações da Camargo Correia para sua campanha, que considera uma tentativa de criminalização do financiamento privado de campanha.

Sobre a convocação para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, disse não haver necessidade. "Já fui espontaneamente na quinta-feira", completou.