Para reverter a queda abrupta de popularidade de Dilma Rousseff, a pior marca de um presidente desde Fernando Henrique Cardoso em 1999, o Palácio do Planalto vai reformular sua estratégia de comunicação. Em meio à sucessão de notícias negativas envolvendo os rumos da economia, as denúncias de corrupção na Petrobrás e os efeitos das crises energética e hídrica, auxiliares da petista avaliam que chegou a hora de a própria presidente assumir o protagonismo da “batalha da comunicação” e defender a posição do governo perante a opinião pública. 

A recuperação da imagem de Dilma também passa por uma reformulação da relação com o Legislativo. Integrantes do governo vão intensificar nesta semana uma repactuação com o PMDB após a vitória em turno único de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara e o consequente isolamento dos petistas na Casa. Os cargos de segundo escalão serão a moeda de troca.

 

 

Aprovação de Dilma Rousseff é a mais baixa desde FHC

Aprovação de Dilma Rousseff é a mais baixa desde FHC

Dentro do novo roteiro, a ideia é que Dilma rompa o isolamento do Planalto, cumpra mais agendas públicas e retome o hábito de conversar com a imprensa – a última entrevista ocorreu em 22 de dezembro, em café da manhã de fim de ano.

Promessas. O Planalto aposta na construção de uma agenda positiva com o lançamento da terceira fase do Minha Casa Minha Vida nos próximos dias e do Mais Especialidades, uma das promessas da campanha da petista. Em outra frente, há a expectativa que o pacote anticorrupção para endurecer penas contra malfeitos e a proposta de emenda constitucional para aumentar as atribuições do governo federal na segurança pública – também temas da campanha à reeleição – ganhem respaldo popular. Dilma tem sido acusada pela oposição de ter praticado “estelionato eleitoral”. 

O governo estuda ainda reformular canais de comunicação direta da presidente com os eleitores, como o programa de rádio Café com a presidenta e a coluna semanal Conversa com a presidenta, publicada em jornais. Ambos estão suspensos desde a campanha eleitoral.

A avaliação de conselheiros de Dilma é que o governo tem de bater “mais bumbo” e não ficar refém da agenda negativa que desidratou a popularidade da presidente. O Planalto reconhece que há um sentimento de frustração por parte dos eleitores da petista com os rumos do País neste início de ano, mas acredita que o cenário pode ser revertido se o governo se empenhar em mostrar com clareza as medidas adotadas e o que propõe a médio e longo prazo. 

“As denúncias sobre corrupção ocupam grande parte da agenda política e não há ainda julgamento e punição, o que cria um evidente descontentamento da população, que espera uma resposta rápida das instituições”, disse ao Estado o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto. “Já convivemos com período de baixa aprovação, fomos capazes de responder às expectativas do povo e assim faremos nesses quatro anos.”

Partidos. Na avaliação de petistas e de aliados, a reconstrução de pontes com o PMDB deve ser feita de um modo que deixe claro que o partido é o aliado preferencial do governo. Só assim, avaliam, será suficiente para evitar uma sucessão de derrotas no Congresso que possam agravar a agenda negativa. O primeiro teste de fogo será o pacote da equipe econômica que endurece o acesso a benefícios trabalhistas como o seguro-desemprego e o abono salarial. 

“Numa democracia só tem um caminho, que é o do diálogo. A questão econômica está entrelaçada na política. Se você tem crise política e ela gera insegurança, ela reflete na economia”, considera o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). 

No PT, também há a avaliação de que reconstruir a relação entre Dilma e a corrente majoritária e mais moderada do partido, a Construindo um Novo Brasil (CNB), é fundamental para distensionar a base. A CNB quer a saída do ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas (PT-RS), por um nome com mais trânsito entre os peemedebistas. Por ora, a presidente não considera demitir o ministro, uma de suas indicações pessoais.OLUÇÃO  

Economia estagnada e aperto fiscal Medidas de austeridade

A desaceleração do PIB e o risco de que a inflação neste ano fique acima do teto da meta - de 6,5% - são alguns dos desafios para o segundo mandato

A partir de uma estratégia de comunicação, explicar que as medidas do ajuste fiscal são necessárias e conseguir aprová-las no Congresso

Divergências com a base

 Realinhamento com os aliados

A derrota de Arlindo Chinaglia (PT-SP), apoiado pelo Planalto, na escolha do presidente da Câmara expôs a desmobilização dos partidos aliados Reaproximação com os partidos que apoiaram o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na eleição para a presidência da Câmara

Corrupção na Petrobrás Restauração da confiança

Os casos de corrupção na Petrobrás e de pagamento de propina a políticos ligados ao governo, expostos pela Operação Lava Jato, preocupam o Planalto

Escolha de um Conselho de Administração mais alinhado com o mercado e superar a desconfiança sobre o novo presidente da estatal, Aldemir Bendine

Distanciamento do PT Reaproximação partidária

Dilma deixou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a corrente majoritária do partido, a Construindo um Novo Brasil (CNB), de fora do núcleo do novo governo Reconstruir pontes com a corrente majoritária, mais moderada em relação às alianças políticas, e com movimentos sociais, além de se reaproximar de Lula

Crise energética Defesa de modelo

O risco de apagões, como o que atingiu parte de 11 Estados e do Distrito Federal em janeiro, e a necessidade de racionamento de energia estão no foco Defender o modelo brasileiro e explorar o racionamento de energia ocorrido no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso