A balança comercial registrou deficit de US$ 2,8 bilhões em fevereiro, sinalizando mais um ano ruim para o comércio brasileiro com o resto do mundo. O resultado foi o pior já registrado para o mês na série histórica do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), iniciada nos anos 1980. O dado superou o recorde anterior, de fevereiro de 2014, quando a diferença entre as exportações e as importações ficou no vermelho em US$ 2,1 bilhões.

Os embarques para o mercado externo recuaram 15,7%, pela média dos dias úteis, na comparação com fevereiro de 2014 e somaram US$ 12,1 bilhões. Os desembarques tiveram recuo de 8,1% na mesma base de comparação e ficaram em US$ 14,2 bilhões. Nos dois primeiros meses do ano, o deficit comercial somou US$ 6 bilhões, o segundo pior da história, abaixo apenas do saldo negativo de US$ 6,2 bilhões registrado no mesmo período de 2014.

O péssimo desempenho da balança deixa dúvidas se o governo conseguirá alavancar as exportações brasileiras. No ano passado, o rombo foi de US$ 3,9 bilhões e não há sinais concretos de que esse quadro poderá ser revertido. Ao contrário, na última sexta-feira, a alíquota do Reintegra, principal benefício fiscal dado ao exportador foi reduzido de 3% para 1% sobre o total de vendas ao exterior.

Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a mudança no Reintegra, além de prejudicar o Plano Nacional de exportação, que deverá ser lançado pelo Mdic na segunda quinzena deste mês, prejudicará ainda mais a competitividade do Brasil.

"O Reintegra era o coração desse plano. Sem esse benefício, as exportações podem travar", disse Castro. O diretor de Estatística e Apoio à exportação do Mdic, Herlon Brandão, afirmou que mantém a expectativa de superavit neste ano, mas não informou o valor. Para Castro, só haverá saldo positivo se houver uma retração mais drástica nas importações.

China preocupa

Os principais produtos da pauta brasileira, Soja e minério de ferro, tiveram queda tanto em quantidade quanto em valores exportados para o principal destino: a China. No bimestre, a Soja encolheu 77,5% em volume, e 20,9% em preço. "Em 2014, os embarques ocorreram mais nos primeiros meses, e parece que agora vão se concentrar mais no meio do ano, a partir de maio, como é corriqueiro", explicou Brandão. As vendas de minério para a China tiveram redução de 9,3%, em volume, e 52,4%, em preço.

Não à toa, o volume das exportações do Brasil para o mercado chinês recuou 42% no primeiro bimestre, passando de US$ 5 bilhões, no ano passado, para

US$ 2,9 bilhões, neste ano. "É uma queda muito forte. Não duvido que, neste ano, o Brasil tenha deficit comercial com a China ", disse José Augusto de Castro. A última vez em que isso aconteceu foi em 2008, quando foi registrado saldo negativo de US$ 3,5 bilhões.

Em fevereiro, os Estados Unidos superaram novamente a China como maior destino dos produtos brasileiros e foram o único país para o qual as exportações do Brasil aumentaram. No primeiro bimestre, os EUA compraram US$ 3,8 bilhões, pouco abaixo dos US$ 3,9 bilhões do mesmo período de 2014.

Veículos: vendas mais baixas em sete anos

A piora da situação econômica, o aumento dos juros e a retirada dos incentivos fiscais fizeram as vendas de veículos desabarem. Em fevereiro, foram emplacados no país 186 mil veículos novos, entre carros de passeio, utilitários, caminhões e ônibus. O número é o mais baixo desde novembro de 2008, no auge da crise global. A comercialização foi prejudicada, ainda, pela paralisação do carnaval, mas, segundo analistas, o que pesou mesmo foi a instabilidade econômica o receio dos consumidores de perder o emprego. Em relação a fevereiro de 2014, as vendas caíram 28%. Na comparação com janeiro último, a queda foi de 26%. A retração foi verificada em todos os segmentos da indústria.