BRASÍLIA

Nas vésperas da eleição, uma proposta, rejeitada pelos deputados, deixou claro o esforço final do governo para minimizar os efeitos de uma derrota na Câmara. Segundo relato de parlamentares, o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais) teria sido o portador, a aliados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de uma proposta de rodízio no comando da Casa entre o peemedebista e o petista Arlindo Chinaglia., apoiado pelo Planalto.

- Ele me chamou para propor o acordo do rodízio, e eu disse que não tinha qualquer chance - contou o deputado Sandro Mabel. (PMDB)-GO), que afirmou ter sido procurado duas vezes por Pepe Vargas para falar sobre o acordo, rejeitado por Cunha e Chinaglia.

Na última terça-feira, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, que é do PT, já havia sondado sem sucesso o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, sobre a mesma possibilidade.

Com a vitória provável do peemedebista, o desafio do governo será unir a base aliada, fragmentada pela disputa.

Cunha, oficialmente integrante da base, mas na prática um parlamentar que se declara "independente", tem repetido que não será submisso e que sua eleição quebraria a hegemonia do PT. Ele se diz irritado com a ingerência do governo na Casa e sinalizou que, eleito ou não, a ação do Planalto terá consequências. Júlio Delgado (PSB-MG), apoiado pelo PSDB, e Chico Alencar (PSOL-RJ) também concorrem.

- Se eu ganhar, foi sem a ajuda do PT. E, se perder para Chinaglia, continuarei liderando a segunda maior bancada da Casa, o que me daria poder de fogo para causar dores de cabeça ao governo - destaca.

Uma das batalhas de Dilma neste início de segundo mandato será a prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU), que permite gastar livremente até 20% dos recursos previstos na proposta de Orçamento aprovada pelo Congresso. Cunha lembra que, sem ajuda do PMDB, o Planalto não aprovará a medida, que precisa do apoio de dois terços dos parlamentares. Outro risco é a reedição da CP I mista da Petrobras, pois Cunha é a favor de sua instalação.

Pepe: 'Eles queriam acordo'

O ministro Pepe Vargas confirmou que conversou com o deputado Sandro Mabel, sobre o rodízio entre PMDB e PT "três ou quatro vezes'', mas insiste que foi Mabel quem pediu o encontro.

- O rodízio sempre existiu na Câmara, e o Eduardo Cunha é que acabou agora com esse sistema. Eles queriam fazer um acordo para formar um bloco, mas nós dissemos que só aceitaríamos fazer um bloco de apoio ao governo, e o Eduardo não quis conversa porque queria formar um bloco de oposição - disse Pepe Vargas.

Chinaglia , candidato apoiado pelo Planalto, negou que o PT tivesse feito essa proposta:

- É mais uma tentativa, não desesperada, mas mais uma vez inócua, de tentar tergiversar. É obvio que isso não ocorreu - disse o petista.

- A mim, não chegou nenhuma proposta. Acho que o jogo está jogado. Vamos disputar o voto - afirmou Cunha.

No processo de escolha, que começa às 18h, caso nenhum dos concorrentes obtenha 257 dos 513 votos, a segunda votação ocorrerá ainda hoje. Petistas e Planalto também tentam reverter defecções na base aliada em favor do peemedebista. Evangélico, Cunha ontem fez referências religiosas, ao participar de um evento com mulheres de deputados:

- Nada acontece se não for pela ajuda de Deus.

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Na luta PMDB versus PMDB, Renan apela a Aécio  

 

BRASÍLIA

Com o crescimento da candidatura avulsa do senador Luiz Henrique (PMDB-SC), o presidente do Senado e candidato à reeleição, Renan Calheiros (PMDB-AL), procurou ontem até o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), para atrair a bancada e tentou garantir os 15 dos 19 votos do PMDB. Renan conversou duas vezes por telefone com Aécio, e, no final da tarde, foi até o Senado se encontrar com o tucano, mesmo depois de Aécio ter se reunido com o candidato avulso, senador Luiz Henrique (PMDB-SC), que acusou o presidente do Senado de "desespero".

Renan chegou ao Senado por volta das 18h. Por telefone, Aécio dissera a ele que não iria até a residência oficial, QG da campanha da reeleição de Renan. Aécio disse que Luiz Henrique é o "candidato da instituição" e não da oposição. Em seguida, Aécio se reuniu com a bancada do PSDB e com o próprio Luiz Henrique para deixar clara a posição dos 11 senadores tucanos. Na saída, Luiz Henrique disse que Renan está "desesperado" e utiliza métodos da "política velhaca". A eleição é hoje, e Renan concorrerá pela quarta vez, tendo vencido em 2005, 2007 e 2013.

Pelas contas, Renan teria de 44 a 47 votos, num cenário pessimista e de 50 a 55, num otimista. Mas as ações de Renan mostraram sua preocupação. Nos últimos dias, ele também conversou com o senador eleito José Serra (PSDB-SP), pedindo que o "amigo" não o abandonasse nesse momento grave.

Na tarde de ontem, Aécio se reuniu com a bancada do PSDB e com Luiz Henrique. Foi anunciado o apoio ao candidato.

- Ele (Renan) disse que me faria uma visita. Claro que vou recebê-lo como presidente do Senado. Mas ele foi muito subordinado ao Planalto. O que queremos é uma proposta independente - disse Aécio.

Aécio disse que os 11 senadores estavam "fechados" com Luiz Henrique. Aécio criticou a condução de Renan na votação da proposta que mudou a meta fiscal de 2014 e permitiu ao governo ter déficit no ano passado. Animado, Luiz Henrique disse que Renan dá "sinais de desespero" ao tomar algumas atitudes, como acionar o suplente de Jader.

No final da tarde, Renan foi surpreendido na saída do gabinete de Aécio e negou que a visita tenha sito um ato de "desespero", afirmando que o resultado da eleição é incerto. Na correria, saiu sem o paletó e voltou para buscar.

- Só vim fazer uma visita de cortesia ao Aécio. O resultado da eleição só saberemos quando os votos forem contados - disse Renan, ao ser questionado sobre a possibilidade de uma eleição muito apertada