BRASÍLIA - Depois de fazer várias críticas à condução do ajuste fiscal nos últimos dias, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), outrora visto como principal fiador da governabilidade no Congresso, desistiu de participar do jantar da noite desta segunda-feira no Palácio da Alvorada com a presidente Dilma Rousseff.

Dilma convidara o vice-presidente Michel Temer e a cúpula do PMDB, incluindo os presidentes da Câmara e do Senado, os líderes do partido e os ministros, para um jantar de reaproximação. A decisão de Renan de não ir foi mais simbólica da crise entre o partido e o governo do que o próprio encontro.

VEJA TAMBÉM

 

Durante o primeiro mandato de Dilma, o presidente do Senado era visto como o principal aliado do governo no PMDB. Em 2013, em meio à crise provocada pelas manifestações de rua, Renan participou de seis audiências com Dilma e liderou uma força-tarefa pela aprovação de projetos para arrefecer os protestos. Há apenas um mês, quando foi reconduzido para mais dois anos no comando da Casa, o Planalto comemorou a vitória dele como uma garantia de segurança, diante das incertezas provocadas pela eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um histórico desafeto de Dilma, na Câmara.

Renan não tem escondido sua insatisfação com o governo nos últimos dias. O senador chamou a coalização do governo Dilma de “capenga” e depois afirmou que houve um “escorregadão” na política econômica e fiscal. Renan dito que o ajuste fiscal anunciado é insuficiente e atinge o trabalhador e não o governo. Nesta segunda-feira, ele optou por uma curta nota divulgada no site do Senado para informar que não compareceria ao jantar.

“Decidi abster-me do jantar entre o PMDB, a Presidente da República e ministros, em que se discutirá a coalizão. O Presidente do Congresso Nacional deve colocar a instituição acima da condição partidária”.

Apesar do discurso de que não participaria de evento partidário, Renan recebeu o ex-presidente Lula na residência oficial do Senado para discutir a relação do partido com o governo. A desistência de comparecer ao jantar pegou os peemedebistas de surpresa e deixou lideranças do partido perplexas. Foi preciso uma operação para evitar o esvaziamento do evento, o que aprofundaria a crise entre o governo e o PMDB.

PUBLICIDADE

 

Pouco antes de divulgar a nota, Renan telefonou a Michel Temer para comunicar sua decisão. Temer pediu para Renan reconsiderar, argumentando que o jantar seria no Alvorada, um evento mais social, ao invés de encontro formal no Planalto e, por isso, não interferiria na relação entre os dois Poderes. Mas Renan estava irredutível e não cedeu. O vice-presidente então ligou para a presidente para avisá-la do imprevisto.

O líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), um dos mais insatisfeitos com o governo e com o PT, também cogitava faltar ao jantar. Quando Temer soube da intenção do senador cearense, telefonou para pedir que ele estivesse presente e ajudasse a evitar o fiasco de um encontro esvaziado. Segundo assessores palacianos, a própria presidente Dilma pediu que Eunício fosse procurado para garantir sua presença.

Peemedebistas acharam estranho o gesto de Renan, já que ele mesmo havia pautado a necessidade de uma recomposição com o governo. Políticos do partido lembram que na reunião, na semana passada, com ministros da equipe econômica e a cúpula do PMDB no Palácio do Jaburu, Renan foi uma das vozes mais enfáticas na queixa da má relação e da escassa participação na formulação das políticas do governo. Posteriormente, Renan levou o mesmo assunto ao ex-presidente Lula.

Ao deixar seu gabinete no início da noite, o vice-presidente da República minimizou a ausência de Renan no evento.

— O presidente Renan não se opõe à coalizão. Ele tem sido um colaborador extraordinário em relação ao governo. Basta lembrar muito recentemente a questão do superávit primário, em que ele enfrentou uma dificuldade extraordinária dentro do Congresso e o governo venceu. Esse gesto dele não atrapalha em nada — disse Temer.

As especulações de peemedebistas são de que Renan desistiu de ir ao jantar porque queria uma agenda mais restrita com a presidente para tratar assuntos de seu interesse, como a permanência de Vinícius Lage no Ministério do Turismo e o comando da Transpetro. Com a presença de ministros e de Eduardo Cunha, que defende a ida de Henrique Alves para o Turismo, Renan não poderia acertar suas demandas.

Apesar do contratempo, Temer defendeu a realização do jantar:

PUBLICIDADE

— Acho que vamos tratar da relação do PMDB com o governo e ela vai se solidificar muito com esse encontro.

Eduardo Cunha afirmou que caberia à presidente definir o que seria abordado:

— Nós fomos convidados para jantar, não cabe a nós dar o tom. Quem dá o tom é quem convida. (Colaborou Isabel Braga)

Cunha convoca reunião e propõe recuo em passagens para cônjuges após polêmica

 

 

Brasília - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou nesta tarde que convocou uma reunião da Mesa Diretora para esta terça-feira, 3, para rever a cota de passagens aéreas para cônjuges de parlamentares. "Reconheço que a repercussão foi muito negativa", afirmou o peemedebista.

 

O benefício foi aprovado na reunião da Mesa Diretora na última quarta-feira, 25. No ato da Mesa, o presidente da Câmara alegava que a Constituição "dispensou especial proteção à família, privilegiando a unidade familiar". Hoje, Cunha disse que não houve entendimento correto da situação e que se passou à sociedade a impressão de que o benefício era uma "regalia". 

 

O presidente afirmou que está subordinado à vontade da opinião pública e disse que cabe aos componentes da Mesa fazerem um mea-culpa. "Haverá um recuo, sim, com relação a essa situação", declarou. Apesar de defender agora uma revisão do benefício, Cunha lembrou que cabe à Mesa a decisão de revogar a cota. "Não pode a decisão da Mesa ter causado o desgaste e eu ser o salvador da pátria e revogá-la", justificou.

 

Cunha vai sugerir que a Mesa crie condições excepcionais para o uso de passagens de cônjuges com autorização da Casa, como já acontece com assessores dos parlamentares. "Se a repercussão não foi positiva, por que manter?", questionou.