Ao comentar a crise no Brasil durante seminário em Lima, no Peru, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou ontem que “o ciclo de governo do PT já acabou, para a felicidade dos brasileiros”. A declaração foi feita em resposta a um questionamento do escritor peruano Álvaro Vargas Llosa — filho do prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa — sobre o mistério do Brasil “que não termina de decolar e que todos os latino-americanos precisamos que decole para que se torne a potência da região, como uma Alemanha”. O tucano foi convidado para palestra durante o Seminário Internacional América Latina: Desafios e Oportunidades, organizado pela Fundação Internacional para a Liberdade (FIL). De acordo com o senador, um dos pontos principais da crise é a centralização de poder adotada pelo PT, que classificou como “presidencialismo imperial”.

O tucano afirmou ainda que governos populistas, como no Brasil, “têm muito pouco apreço” por regras de boa gestão fiscal e criticou o baixo crescimento do PIB do país em 2014, cujo índice foi de 0,1%. “Essa é a herança de um governo que abandonou os pilares macroeconômicos solidificados no governo do presidente Fernando Henrique e nos levou a uma absoluta aventura. E hoje o que existe no Brasil não é apenas uma insatisfação em relação aos vergonhosos casos de corrupção, não é apenas uma enorme indignação com a perda desses pilares econômicos que nos têm levado a esse crescimento medíocre, ao retorno da inflação, à fuga dos investimentos. Há, hoje, no Brasil, um sentimento que permeia a nossa sociedade, de engodo”, disse.

Impeachment
Em relação à pesquisa CNT/MDA, que mostrou que 59% de eleitores apoiam o impeachment de Dilma, Aécio disse que “os brasileiros se sentem enganados” e acusou o PT de abdicar de um projeto de país pra ter um “projeto de poder”, estabelecendo o “vale-tudo”. Apesar de classificar a crise brasileira como “gravíssima”, o senador Aécio Neves elogiou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em quem reconhece méritos, mas enxerga pouca margem de manobra. “É um técnico extremamente competente, mas está longe de ter a autonomia para fazer a reforma estruturante que o Brasil precisa. O que se apresenta até agora é absolutamente rudimentar, por mais que se apresente na direção correta. É rudimentar porque se limita ao aumento de tributos, e o Brasil já tem uma escorchante carga tributária de mais de 35% do PIB”, afirmou.

Em outro tema discutido no seminário, a relação com a Venezuela, o tucano acusou o governo federal de ser “cúmplice” da escalada de repressão adotada por Nicolás Maduro contra opositores e manifestantes. “Uma das mais dramáticas consequências dos equívocos do governo do PT se dá na política externa.”

Dirceu tem pico de pressão e é internado
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu teve um pico de pressão — que chegou a 19/14 — e foi levado a um hospital em Brasília no fim da tarde de ontem, para exames. Segundo o advogado Luis de Oliveira Lima, responsável pela defesa dele no processo do mensalão, Dirceu teria sentido dores de cabeça ao longo da tarde. Amigos chegaram a temer um acidente vascular cerebral, o que foi descartado pelos exames. Atualmente, Dirceu cumpre prisão domiciliar em Brasília e é investigado pela força-tarefa responsável pela Operação Lava-Jato. No fim do dia, ele teve alta e voltou para casa.

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Conselho na mira do TCU

O Tribunal de Contas da União (TCU) decidirá, nas próximas semanas, se cabe a responsabilização dos membros do Conselho Administrativo da Petrobras por irregularidades ou negligências que causaram prejuízos bilionários à estatal. Em entrevista ao Correio ontem, o ministro Augusto Nardes afirmou que o órgão analisa cerca de 40 processos envolvendo a estatal que podem ser resultado de problemas na gestão, e que a atuação de cada conselheiro será avaliada de forma separada. “Essa é uma questão interna do TCU, que está trabalhando para avaliar se responsabiliza o conselho sobre esses processos. Como fizemos com os diretores da estatal, estamos avaliando caso a caso, de forma pormenorizada, a atuação do conselho em que a presidente Dilma Rousseff foi presidente”, explica Nardes.

Segundo o ministro do TCU, o tema é discutido pelo tribunal com outros órgãos que atuam nas investigações da Operação Lava-Jato. “Nos últimos dias, foi aprovada no TCU uma avaliação do Conselho de Administração. Faremos a avaliação de todas as ações envolvidas na Operação Lava-Jato e as decisões da estatal, como a compra da refinaria de Pasadena. Já tínhamos analisado o pedido para tornar disponível os bens dos diretores da Petrobras, agora o órgão pode apurar sobre a atuação dos conselheiros”, diz Nardes. Dilma ocupou o principal cargo do conselho da petroleira entre 2003 e 2010, período em que foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A aquisição de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006, foi o estopim para a criação da CPI da Petrobras que funcionou no ano passado. O negócio foi considerado ruim até mesmo por dirigentes da estatal, uma vez que o montante desembolsado superou o valor de mercado da refinaria. Segundo a Presidência da República a aquisição foi aprovada pelo conselho com base em um parecer “técnico e juridicamente falho”, que “omitiu informações e cláusulas do contrato”.

Acordos de leniência
O ministro do TCU afirmou que vai se manifestar em 15 dias sobre os pedidos de acordos de leniência feitos à Controladoria-Geral da União (CGU) por cinco empresas envolvidas no escândalo da Petrobras. As companhias OAS, Galvão Engenharia, Engeviz, SOG Óleo e Gás e SBM Offshore formalizaram pedidos para colaborar com informações sobre eventuais delitos em troca de benefícios, como imunidade contra processos e garantias para continuar participando de licitações do governo federal.

“Temos, na Lei Anticorrupção, essa opção para as empresas. O processo começa com a CGU e passa pelo TCU. Propus uma oitiva para ouvir a controladoria, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e o Ministério Público Federal (MPF). Ainda não recebi a resposta do MPF sobre os acordos de leniência. Então, vou me posicionar sobre a questão nos próximos 15 dias”, disse Nardes, que participou ontem do Seminário Internacional de Contabilidade Pública, em Belo Horizonte.