A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem que o filósofo Renato Janine Ribeiro, de 65 anos, professor aposentado de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo, será o novo ministro da Educação, em substituição a Cid Gomes, que pediu demissão semana passada após confronto com a base aliada no Congresso. Janine assume com a missão de comandar a "Pátria educadora", lema lançado pela presidente em seu discurso de posse e que acabou gerando constrangimentos a Dilma em razão dos problemas no acesso de estudantes ao Fies (financiamento estudantil) e das turbulências que culminaram na queda de Cid Gomes.

Também foi anunciado ontem o novo ministro da Secretaria de Comunicação Social: o petista Edinho Silva, que foi o tesoureiro da campanha de Dilma a presidente, em 2014. Na semana que vem, a presidente fará nova mudança no primeiro escalão, indicando o ex-presidente da Câmara Henrique Alves para o Ministério do Turismo, em lugar de Vinicius Lages.

A indicação de Janine, considerada técnica e elogiada por educadores e intelectuais, se sobrepôs a possíveis indicações políticas. Cid Gomes, ex-governador do Ceará, é filiado ao PROS, partido da base aliada. O cargo já foi ocupado pelos petistas Fernando Haddad, hoje prefeito de São Paulo, e Aloizio Mercadante, atual ministro da Casa Civil. Apesar de escolher o lema "Pátria educadora" para seu segundo mandato, Dilma foi obrigada a trocar o ministro da Educação com menos de três meses de governo.

A escolha de Janine, porém, também gerou certo desconforto em razão de críticas recentes feitas por ele ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com quem o governo vive às turras, e à própria Dilma. Sobre a presidente, o professor disse ao GLOBO há duas semanas que se sente enganado em relação a seu modo de governar e que a maioria dos atuais ministros "é fraca".

- Eu me sinto enganado no sentido em que houve um compromisso implícito de que ela (Dilma) mudaria o estilo de governo, ia parar de governar pela braveza e ia começar a dialogar mais e a delegar mais - disse ele.

Prêmio e condecoração

Desde 1993, o novo ministro foi professor titular de Ética e Filosofia Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Em 1998, foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito Científico. Entre 2004 e 2008, foi diretor de Avaliação da Capes, órgão ligado ao MEC responsável pelos programas de pós-graduação. Tem 18 livros editados, além de inúmeros ensaios e artigos em publicações científicas. Publicou "A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil", que ganhou o prêmio Jabuti de 2001.

Embora esteja fora das salas de aula há anos, Janine não perdeu o tom pausado, calmo e explicativo de responder perguntas. Na entrevista ao GLOBO, apesar de ter declarado voto na petista, ele falou sobre o estilo de governar da presidente e a escolha do ministro Joaquim Levy (Fazenda):

- Com ele (Levy), eu suponho que ela não grite. A maior parte do ministério é fraca, com honrosas exceções. Ela (Dilma) tem uma imagem de quem dialoga e delega pouco, e isso não é uma boa imagem para um presidente na democracia.

Em comentário sobre os presidentes do Senado e da Câmara, afirmou:

- Eles são muito diferentes entre si. Renan (Calheiros) é habilidoso. (Eduardo) Cunha é brutal.

Em artigos publicados no jornal "Valor Econômico", o novo ministro também criticou Dilma. Em dezembro, ele escreveu que "não vamos bem de líderes", citando a presidente e seus principais adversários na eleição do ano passado: Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB). Em 26 de janeiro, chegou a comparar Dilma a Aécio, dizendo que são mais semelhantes do que aparentam ser: "Temos um paradoxo: candidato, Aécio Neves prometeu continuar a política social do PT; reeleita, Dilma Rousseff adotou medidas econômicas dos tucanos. Portanto, a realidade não os afasta tanto mas, na aparência, eles parecem estar quase em guerra".

Janine faz um paralelo entre o jeito de governar do primeiro mandato - "Pessoa centralizadora, desconfiada, preocupada em articular as diversas ações ministeriais, empenhada em gerar sinergias, mas que não conseguiu tanto êxito quanto pretendia" - e o desafio da segunda gestão, ressaltando que Dilma precisa delegar mais, para desbloquear "algumas travas políticas, econômicas e sociais a que chegamos".

Em outro texto, do início deste ano, o agora ministro refutou a possibilidade de impeachment da presidente, destacando que "Dilma pode estar desprestigiada, mas continua representando uma fração importante da sociedade brasileira". Em outro trecho, afirmou: "Em que pesem seus erros, sua má comunicação, possivelmente um estresse pessoal, (Dilma) continua representando forças políticas significativas".

Em fevereiro, quando analisou a proposta de reforma política do vice-presidente Michel Temer, Janine classificou a aliança entre o PT e PMDB como um frágil casamento de conveniências. "Temer defende uma reforma política que nada tem a ver com a proposta pelo partido da presidente Dilma Rousseff", disse.

Pelas redes sociais, o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, da FGV, considerou a notícia da escolha de Janine "estupenda". O escritor Fernando Morais, que já trabalhou com Janine quando era secretário de Cultura do estado de São Paulo, também comemorou:

- É o primeiro gol da Dilma reeleita.