A direção nacional do PSDB quer se aproximar dos líderes dos grupos contrários ao governo Dilma Rousseff (PT), tais como Vem para Rua e Movimento Brasil Livre, que foram às ruas de todo o país em 15 de março e no domingo passado. A interlocução caberá ao presidente da legenda, senador Aécio Neves (MG), que optou por não participar da passeata em Belo Horizonte, anteontem, com a justificativa de não interferir no caráter apartidário do movimento. O objetivo dos tucanos é afinar o discurso da oposição aos anseios dos manifestantes, o que será feito com cautela, levando-se em conta o perfil difuso dos grupos.

De acordo com o senador e vice-presidente nacional do PSDB, Alvaro Dias (PR), há, hoje, uma divisão clara nos movimentos entre aqueles que querem a participação de políticos nos atos e os que preferem manter o viés apartidário. Por isso, a necessidade da conversa, que será marcada nos próximos dias. “Vamos ouvi-los para saber o que eles desejam, se preferem ou não o distanciamento dos partidos”, afirmou. 

O tucano lembrou que, independentemente de participação nas ruas, os parlamentares da oposição têm usado a tribuna da Câmara dos Deputados e do Senado para manifestar o descontentamento com o Palácio do Planalto. “Temos a nossa forma de nos expressarmos, mesmo sem sair às ruas”, disse o senador.

O PSDB vem sendo criticado por manifestantes, que cobram uma posição mais incisiva da legenda contra o governo federal. No domingo, Alvaro Dias preferiu não participar das manifestações para evitar o risco de ser classificado como “oportunista”.

Embora, institucionalmente, o PSDB tenha optado por não participar dos protestos, vários filiados à legenda foram às ruas. Foi o caso do presidente estadual do partido em Minas Gerais e deputado federal, Marcus Pestana. “Nós precisamos estabelecer um diálogo com os movimentos”, argumentou o tucano.

Marcha complica trânsito no Eixo Monumental
Um grupo de cerca de 800 manifestantes da Frente Nacional da Luta Campo e Cidade ocupou três faixas do Eixo Monumental na manhã de ontem. Segundo a Polícia Militar, o protesto foi pacífico. O motivo da caminhada, iniciada por volta das 7h, em direção ao Congresso Nacional, foi pedir a reforma agrária. Com
as faixas interditadas, um grande congestionamento se formou próximo à Rodoviária do Plano Piloto, causando transtornos aos motoristas. A orientação do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) foi para que os condutores evitassem trafegar pela região até o fim da marcha, por volta das 11h.

Planalto: insatisfação vista com “normalidade”

O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, comentou os protestos de domingo, que reuniram cerca de 700 mil pessoas em todo o país — em Brasília, foram 25 mil manifestantes, segundo a Polícia Militar. Segundo Silva, o governo federal acredita que o movimento contra a gestão da presidente Dilma Rousseff e a corrupção no país esteve dentro da “normalidade”. “O governo encara com normalidade. Nós entendemos que, dentro de um regime democrático, em uma democracia, todas as manifestações são legítimas e expressam o sentimento democrático de um país como o Brasil”, afirmou o ministro ontem.

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Atos tem dinamica propria, diz FHC

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defendeu ontem o distanciamento dos partidos de oposição dos protestos promovidos no país no domingo. Segundo o tucano, não era papel das legendas aproveitar o momento para endossar as críticas ao governo, devido ao caráter apartidário dos atos.

“O movimento tem sua dinâmica própria, não foi convocado pelos partidos. Os partidos têm uma responsabilidade institucional. É natural que os movimentos exijam mais, e os líderes políticos têm que mensurar, têm que ver o que é possível fazer ou não em cada momento.”

Fernando Henrique ainda minimizou as críticas de alguns manifestantes, que cobraram a presença de políticos nos protesto. Segundo o ex-presidente, a participação institucional de siglas da oposição seria “grave”. “Se os partidos fossem para as ruas, acho que seria mais grave, porque ia se tentar instrumentalizar aquilo que não é instrumentalizável”, afirmou. “É natural que os movimentos (de rua) exijam mais (dos partidos). Os líderes políticos têm que mensurar, ver o que é ou não possível.”