Um dia depois de se ver obrigada a fazer a primeira mudança na equipe com nem três meses de mandato, a presidente Dilma Rousseff disse que a saída de Cid Gomes do Ministério da Educação (MEC) foi um ato “pontual”, ocorrido porque “as circunstâncias, às vezes, obrigam você a alterar, como foi o caso”. Em seguida, a petista negou planos de uma “ampla” troca de cadeiras na Esplanada como tática para contornar a crise política enfrentada pelo governo.

“Não tem reforma ministerial. Vocês (imprensa) estão criando uma reforma de ministério que não existe”, disse Dilma, após participar de cerimônia de lançamento de um pacote de modernização do futebol, no Palácio do Planalto. Para a presidente, reforma ministerial “(não) é uma panaceia,que resolve todos os problemas”. E emendou: “O que resolve problemas nós estamos colocando em prática, como essas medidas”.

A troca de ofensas no plenário da Câmara entre Cid Gomes e parlamentares contribuiu para acirrar ainda mais a tensão entre o governo e a base aliada e foi classificada pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, como um “incidente político grave”. Segundo o ministro, a permanência do colega “prejudicaria muito” o próprio MEC. Mercadante negou-se a comentar uma possível saída da Casa Civil para reassumir a Educação, como especulado no governo e no PT. “Tenho trabalho demais”, desconversou o chefe da Casa Civil.

Apesar de Dilma negar com veemência uma nova troca de ministros, a presidente está sendo pressionada pelos partidos a mexer na equipe. O PMDB quer mais espaço na Esplanada e pleiteia a Integração Nacional, que está nas mãos do combalido PP, sigla mais atingida pela Operação Lava Jato. A pasta, com grande capacidade de influência no Nordeste, tem um orçamento cobiçado pelas legendas.

Além disso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já recomendou à sucessora que transfira Jaques Wagner da Defesa para a Casa Civil, o que levaria Mercadante de volta ao M E C, e a troca de cadeiras entre o petista Pepe Vargas – titular da Secretaria de Relações Institucionais criticado pelas falhas na articulação política – e o peemedebista Eliseu Padilha, próximo do vice presidente Michel Temer e hoje responsável pela Aviação Civil.

Há ainda outro problema a ser resolvido, que é a decisão sobre a permanência ou não do ministro Thomas Traumann, depois da publicação pelo Estado de um documento da Secretaria de Comunicação Social (Secom) no qual afirma que o País vive “um caos político”. Ontem, Dilma não quis dizer se vai substituí-lo.

Sem dono. Na quinta-feira, ao designar Mercadante para comunicar que Cid Gomes deixaria o MEC, Dilma deu um sinal de que estaria fortalecendo seu ministro da Casa Civil. Na entrevista de ontem, questionada se devolveria a pasta da Educação para o PT ou a entregaria ao PMDB, ela respondeu que o MEC “não é dado a ninguém”. “Vou escolher uma pessoa boa para a Educação, e não pessoa deste, daquele ou de outro partido”. A presidente afirmou que fará a nomeação “o mais rápido possível”.

Dilma evitou responder sobre sua relação com a base aliada no Congresso, atualmente conflagrada. Mas exemplificou que, na elaboração das propostas de refinanciamento de dívidas de clubes em troca de regras de governança, houve amplo diálogo e o governo teve capacidade de “escutar todos os lados”. Na semana pós-manifestações contra o governo, Dilma e seus ministros têm dado ênfase ao “diálogo” com diversos setores políticos e da sociedade.

O Planalto está em busca de agendas positivas para tentar reverter a onda de más notícias.
Como parte dessa estratégia, o governo anunciou para a próxima semana uma nova revisão da lei do Super simples – sistema de tributação diferenciado para pequenas empresas –, a fim de se criar faixas de transição conforme o faturamento das empresas. Para Dilma, “o Brasil tem hoje todas as condições para superar este momento de dificuldades e encontrar caminhos sustentáveis”. / COLABOROU ERICH DECAT

UM TUCANO DÓCIL COM A PRESIDENTE
Desafeto de Lula, Perillo afaga petista em Goiás
Rafael Moraes Moura - ENVIADO ESPECIAL / GOIÂNIA

Em sua primeira agenda pública fora de Brasília desde as manifestações de domingo, a presidente Dilma Rousseff viajou ontem a Goiânia para assinar a ordem de serviço da obra do BRT Norte/Sul e ouviu palavras de solidariedade do governador tucano Marconi Perillo, que lhe ofereceu apoio para a governabilidade. A passagem de Dilma pela capital goiana foi marcada por um forte esquema de segurança montado pelo Palácio do Planalto e a prefeitura local, que blindaram a petista de qualquer contato com manifestantes.

“Eu recebi conselhos para não estar aqui, mas eu disse que eu, enquanto governador, jamais concordei com a intolerância e as injustiças em relação à presidente”, discursou Perillo, que ouviu gritos de “Fora Perillo” ao discursar.

“Eu, que sempre a recebi aqui respeitosamente, não vou temer comparecer a um evento porque uma parte possa me hostilizar. Venho aqui receber a presidente da República que foi legitimamente reeleita e que tem meu apoio para a governabilidade. O Brasil não pode ser vítima da intolerância ou desrespeito, o Brasil não pode ser vítima de minorias que não querem uma democracia.”

O governador destacou que o seu partido, o PSDB, faz oposição à presidente – mas ele não. “Nunca ninguém ouviu em Goiás uma palavra minha que não fosse de respeito e reconhecimento pelo que a senhora fez pelo nosso Estado”, disse o tucano.

As palavras dóceis de Perillo contrastam com as falas dirigidas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2013, durante uma convenção do PSDB, o governador chamou Lula de “canalha” ao se referir ao mensalão.

Dilma, por sua vez, elogiou no discurso a parceria com o governador. “Essa parceria se dá acima das nossas diferentes filiações partidárias.”

Segurança. Em um esforço para encher a solenidade de militantes petistas, a prefeitura decretou ponto facultativo para os funcionários que trabalham nas repartições com sede no Paço Municipal, palco do evento.

A reportagem flagrou ônibus da prefeitura transportando funcionários e populares simpatizantes ao governo para o evento, enquanto agentes da guarda civil metropolitana tentaram conter o avanço de manifestantes anti-Dilma. O esquema de segurança foi reforçado e jornalistas tiveram revistados até kits de higiene pessoal.

“Aviso aos navegantes. Gostemos ou não, existe um protocolo presidencial. Ponto final”, escreveu o prefeito Paulo Garcia (PT) em sua conta no Twitter. Assessores palacianos alegaram que o procedimento de segurança foi “padrão”.

Texto que cita ‘caos político’ não é oficial, afirma petista
• A presidente Dilma Rousseff disse ontem não reconhecer o documento em que a Secretaria de Comunicação Social da Presidência admite haver “caos político” no País e uma “comunicação errática” do Palácio do Planalto. “Não é um documento oficial, não foi discutido no governo. Não reconheço como tal”, afirmou a presidente em Brasília.

O texto foi revelado pelo portal estadao.com.br na terça-feira. O documento afirma que os apoiadores do governo estão levando uma “goleada” da oposição nas redes sociais e recomenda o investimento massivo em publicidade oficial na cidade de São Paulo.

Depois de o texto ser revelado, aumentou a pressão por setores do PT pela substituição do ministro Thomas Traumann, que comanda a Secretaria de Comunicação Social e saiu de férias. Questionada ontem, Dilma descartou realizar uma reforma ministerial. / T.M. e R.D.C.