Nenhuma das pessoas que aparecem na lista dos que possuíam contas secretas no HSBC suíço admitiu a prática e, consequentemente, ninguém respondeu se os recursos foram devidamente declarados ao Fisco. No caso Alstom, Paulo Celso Mano Moreira da Silva não quis se manifestar sobre a conta e solicitou que a reportagem entrasse em contato com Guilherme Braz, seu advogado. Braz, por sua vez, disse que seu cliente não foi citado em nenhum inquérito ou ação relativos ao cartel de trens e metrô em São Paulo e ressaltou que a ação proposta pelo Ministério Público ainda não foi julgada. O advogado reforçou que Moreira da Silva só se manifestará em juízo sobre o dinheiro que teria aplicado na Suíça. Já Ademir Venâncio de Araújo foi contatado através do escritório Luiz Fernando Pacheco, que o defende, mas não houve resposta.

Citado pelos delatores da Operação Lava-Jato, Henry Hoyer de Carvalho não foi localizado. O GLOBO tentou contato através do celular e do telefone residencial do administrador de empresas. Entre os envolvidos no escândalo da Previdência, Ilson Escóssia da Veiga e Tainá de Souza Coelho já morreram. O GLOBO tentou sem sucesso localizar os advogados de Nestor José do Nascimento. Também telefonou para todos os números da lista telefônica associados a esse nome.

Desde a terça-feira, O GLOBO tenta localizar representantes da família Nasser, envolvida no caso de supostas fraudes financeiras no Banco Excel Econômico. Nos telefones que constam na internet, ninguém atendeu. A advogada Sônia Ráo, que representou Edmond Nasser numa ação na Justiça Federal, foi procurada três vezes, mas não retornou.

Piada de mau gosto

Dov Bigio, filho do ex-gerente do Excel nas Bahamas, foi localizado e, por e-mail, classificou como "uma piada" o fato de constar como cliente do HSBC suíço. "Não sei de onde você tirou estas informações, mas isso não faz o menor sentido. Em 1997, eu estava no 3º ano de faculdade, nem fazia estágio ainda e, no máximo, fazia uns trabalhos como freelancer desenvolvendo sites para alguns amigos... Minha renda na época devia ser de uns R$ 300 por mês ou até menos". O GLOBO pediu para que ele entrasse em contato com Alain, seu pai, mas Dov afirmou que não via "nenhum motivo para envolvê-lo em algo que parece mais uma piada de mau gosto e sem fundamento".

Dos envolvidos nas operações Roupa Suja e Sexta-Feira 13, O GLOBO tentou contato com Luciano Saldanha Coelho, que representa Dario e Rosane Messer na ação que desdobrou o caso. A reportagem enviou perguntas por email, seguindo indicações do escritório do advogado, dadas por telefone, mas não obteve resposta. Já o advogado Ubiratan Guedes, que representa Chaim Zalcberg na ação ligada às duas operações, afirmou que seu cliente, atualmente com 92 anos, aguarda ansiosamente uma decisão da Justiça para provar sua inocência:

- Ele é a pessoa mais injustiçada que eu conheço, um homem ilibado, com mais de 60 anos de exercício da advocacia. Nos autos do processo, ele comprovou sua inocência, mas espera a decisão para que possa ter sequência de vida adequada.

Já sobre a conta numerada na Suíça, Guedes disse não ver qualquer ilegalidade:

- Está se criando um mito em torno dessas contas. Ter dinheiro no exterior não é algo proibido.

Beth Tedeschi, que responde pela família Tedeschi, atendeu a telefonema do GLOBO e negou a existência de qualquer conta na Suíça:

- Nós não temos nenhuma conta. Não temos nada com isso.

No caso Serpro, o advogado Rogério Maia de Sá Freire, filho de Ricardo José, foi contatado por telefone na tarde de terça-feira e ficou de responder e-mail com perguntas da reportagem, mas não retornou.

Já no caso do TRE-RJ, a advogada Alexandrina Formagio, advogada e viúva de Marco Túlio Galvão Bueno, respondeu que "não tem subsídios para responder às perguntas no momento", que foi "pega de surpresa" e que desconhece qualquer conta em seu nome no exterior.

Joaquim Pizzolante, ex-presidente da Fundação Pró-Into, disse que não se lembra de nenhum dinheiro ou conta na Suíça, mas que iria revisar suas anotações para tentar encontrar algo. Seu advogado, Leonardo Paradela, garantiu que Pizzolante foi absolvido da denúncia criminal no processo envolvendo as fraudes no Into.

O advogado da viúva de Laerte de Arruda Correa Júnior, Paloma Helene Abecassis de Arruda Correa, do caso da Operação Vampiro, não respondeu.

O advogado Felipe Pozzebom, que defende José Alexandre Guilardi de Freitas, envolvido nas denúncias do Portocred, disse que não tem conhecimento de qualquer conta na Suíça de seu cliente e que não há qualquer decisão transitada em julgado contra Guilardi.

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O técnico de informática que virou o 'snowden dos bancos' 

O ex-técnico de informática do HSBC Hervé Falciani, também conhecido como o Edward Snowden do setor bancário, está no centro das revelações do SwissLeaks. Acusado de roubo de dados pela Suíça, Falciani hoje mora em Paris, usa disfarces para resistir a tentativas de extradição e só aparece em público com guarda-costas.

Sua história com o SwissLeaks começou em 2006, quando foi transferido do HSBC de Mônaco para a sede do banco em Genebra. Segundo relato que deu meses mais tarde a autoridades francesas, ele foi encarregado de implementar um novo sistema para proteger melhor os dados do cliente. Mas, em suas palavras, a tarefa o "permitiu descobrir atividades fraudulentas".

- Bancos como o HSBC criaram um sistema para ficarem ricos às custas da sociedade, através do apoio à evasão fiscal e à lavagem de dinheiro - destacou ele, em julho 2013, à revista alemã "Der Spiegel".

Falciani afirmou que o HSBC tinha uma divisão para ajudar a esconder as identidades e transações de seus clientes.

No último domingo, em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", Falciani foi além. Disse que "o Brasil é o maior cliente de bancos opacos do mundo" e que, no Brasil, assim como em muitos outros países, acredita-se que uma investigação relacionada a contas secretas deve priorizar os clientes. Na verdade, defendeu o vazador de dados, o maior problema seriam as estruturas financeiras. "Os clientes são (apenas) os sintomas da doença".

Para o HSBC e as autoridades suíças, Falciani roubou os dados e tentou vendê-los primeiro a bancos no Líbano e, depois, na própria Suíça.

Em 2008, a polícia federal daquele país o deteve, confiscou seu computador e o interrogou por horas. Liberado na condição de que voltasse no dia seguinte, o ex-técnico fugiu para a França com a família. Lá, começou fazer o download de dados que havia armazenado em servidores remotos.

Em entrevista ao jornal "New York Times" em 2013, Falciani disse que foi caçado por investigadores suíços, preso por autoridades espanholas e até sequestrado por agentes do Mossad, serviço de inteligência de Israel.

Hoje, de acordo com seu próprio relato, não tem "casa, endereço fixo, cachorro, automóvel ou celular".