Com a crise hidrológica que assola o país, a capacidade de reserva do nosso sistema hidráulico está sendo substituída pela complementação térmica, utilizando-se combustíveis fósseis e biomassa, além da geração eólica e, espera-se, em um futuro próximo, pela solar. Considerando o nosso propalado potencial nessas outras fontes, o Brasil pode abrir mão da geração termonuclear. Afinal de contas, não importa se nós já temos duas usinas nucleares em funcionamento, que operam a plena carga. Isso não vem ao caso...

Usinas nucleares são caras. Não importa se o custo de construção de cada uma delas é equivalente a um terço da conta anual que o país já está pagando por não dispor de uma complementação térmica adequada. Ou seja, com o desembolso anual necessário para custear a operação contínua das térmicas convencionais, poderíamos concluir Angra 3 e construir mais duas usinas nucleares do mesmo porte.

Nessa mesma linha de “redução ao absurdo”, poderíamos até cancelar a conclusão de Angra 3 e desativar Angra 2 e Angra 1, aumentando ainda mais o gasto anual necessário para custear o acréscimo da geração térmica equivalente.

Além disso, abrindo mão da geração termonuclear, evitaríamos o problema de lidar com o temido lixo nuclear, o que deve ser mesmo um problema gravíssimo. Afinal de contas, o armazenamento de todo o rejeito gerado até agora, e ainda por gerar, considerando nossas três usinas, necessitará de um volume inferior a dez mil metros cúbicos. Para avaliarmos o que isso significa, acondicionando todo esse rejeito em contêineres de navio eles ocupariam a metade de um campo de futebol. Mas isso não importa, deve ser preferível lançar na atmosfera milhões de metros cúbicos de gases poluentes, impregnados de resíduos tóxicos a reservar um espaço tão pequeno para confinar, de forma absolutamente segura e definitiva os resíduos radioativos das usinas.

 

 
 

Finalmente, estaríamos nos livrando do perigo que são as usinas nucleares. Não importa se no acidente de Fukushima só os reatores resistiram ao impacto do terremoto e à tsunami que arrasaram aquela região do Japão. Isso não vem ao caso. Afinal, os sistemas de refrigeração ficaram sem energia e isso causou a fusão do núcleo de três dos reatores atingidos. O material fundido ficou retido na contenção de concreto, que tem exatamente essa função, impedindo o seu vazamento para o meio ambiente. Mas, e daí? Não interessa se a população no entorno das usinas foi evacuada e nenhum indivíduo foi contaminado, certo?

E assim, somente por essa abordagem do absurdo, estaríamos encontrando as justificativas para privar a sociedade de uma opção energética segura e sustentável, da qual o país, definitivamente, não pode abrir mão. Mas parece que isso não vem ao caso...

Resta uma pergunta, que vem bem ao caso: a quem isso não importa?