Nova fase da operação vai investigar se esquema que beneficiou Vargas na Caixa e na Saúde foi replicado nos contratos da petrolífera

Edifício da Petrobrás, no Rio. Foto: André Dusek/Estadão

Edifício da Petrobrás. Foto: André Dusek/Estadão

Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, e Fausto Macedo

Contratos da área de Comunicação da Petrobrás são o novo foco prioritário força-tarefa da Operação Lava Jato, a partir das descobertas da 11.ª fase da investigação, deflagrada na sexta-feira. A suspeita é de que o modelo de desvios de até 10% em contratos de publicidade da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Saúde, entre 2011 e 2014, tenha sido replicado na estatal petrolífera.

Batizada de A Origem, a mais recente etapa da Lava Jato detectou o uso de empresas legais e de fachada em um esquema que beneficiou o ex-deputado paranaense André Vargas, que foi vice-presidente da Câmara e secretário de Comunicação do PT na período investigado. Ele teve ordem de prisão cumprida pela PF na sexta-feira, assim como os ex-deputados Luiz Argôlo (SD-BA) e Pedro Corrêa (PP-PE) e outras quatro pessoas.

O ponto de partida da nova frente de investigações na Petrobrás serão as empresas LSI, Limiar e IT7 (da área de tecnologia) – controladas por Vargas e usadas para os desvios na Caixa e na Saúde, segundo a Lava Jato. Um inquérito aberto no fim de 2014 para a área de Comunicação na petrolífera servirá para centralizar as apurações.

André Vargas foi preso nesta sexta-feira. Foto: AlbariI Rosa/AGP

André Vargas foi preso na sexta-feira. Foto: AlbariI Rosa/AGP

Os investigadores buscarão novos envolvidos, além de Vargas, e vão reunir elementos já levantados de sobrepreço e pagamentos sem contrato no setor, via Diretoria de Abastecimento. “Existe uma investigação aberta e é preciso olhar melhor essa área de Comunicação, em especial, na Diretoria de Abastecimento”, afirmou o procurador da República Carlos Fernando Lima.

Ex-gerente.A força-tarefa da Lava Jato vai se debruçar na atuação do ex-gerente executivo de Comunicação Institucional da Petrobrás Wilson Santarosa, que deixou o cargo no mês passado. Ele havia assumido em 2003 a função, responsável por patrocínios, contratos de publicidade, atendimento à imprensa e planejamento institucional da marca. No ano passado, o orçamento da área foi de cerca de R$ 1,2 bilhão.

Apadrinhado político do ex-ministro José Dirceu e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Santarosa não é alvo formal de inquérito da operação, mas foi citado em depoimentos colhidos pela força-tarefa. O ex-gerente também foi alvo de outras investigações, como a CPI da Petrobrás aberta em 2009 – comissão sob a qual há suspeita de que o PSDB tenha recebido R$ 10 milhões do esquema do doleiro Alberto Youssef, por meio do ex-presidente do partido Sérgio Guerra, morto em 2014, para “esvaziá-la”. O PSDB nega a acusação e diz defender a apuração do caso.

A Comunicação da Petrobrás já foi citada como foco de desvios pela ex-gerente executiva de Abastecimento Venina Vellosa da Fonseca, que era braço direito do ex-diretor Paulo Roberto Costa, delator da Lava Jato. Ela apontou irregularidades que, em 2008, teriam provocado prejuízo de R$ 133 milhões só na Comunicação da Diretoria de Abastecimento. O responsável pela área era o ex-gerente Geovane de Moraes, que teria sido indicado pelo ex-presidente da Petrobrás José Sergio Gabrielli e demitido de fato em 2013, após quatro anos sob licença médica.

Defesa. Procurada ontem, a Petrobrás não respondeu até esta edição ser concluída. Em dezembro, a estatal informou ter aberto investigação interna sobre a denúncia de Venina que levou à demissão de Moraes. Santarosa não foi localizado. Gabrielli nega “com veemência” declarações que lhe imputam a fatos “mentirosos e de pura ficção” e diz ter aberto a investigação que culminou na demissão de Moraes.

 

Juiz aponta omissão do Ministério da Saúde

Curitiba – O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, apontou omissão do Ministério da Saúde em resposta a questionamentos sobre uma suposta reunião entre o ex-titular da pasta Alexandre Padilha e o ex-deputado André Vargas (sem partido-PR) para tratar da contratação da empresa Labogen S/A Química Fina e Biotecnologia, que havia sido comprada pelo doleiro Alberto Youssef, em parceria para produção de medicamentos.

A omissão do dado em nota técnica enviada no dia 26 de março de 2014 pelo ministério à Justiça Federal, após a deflagração da Operação Lava Jato, foi considerada suspeita por Moro, conforme escreveu o juiz na ordem de prisão de Vargas, executada ontem.

Desde abril de 2014, a Lava Jato havia divulgado relatórios em que apontava o encontro entre Padilha e Vargas. Os dois negaram relações no negócio.

Na sexta-feira, Moro afirmou em seu despacho que “foram colhidas provas que indicam, em cognição sumária”, que Vargas teve “papel fundamental para que a Labogen lograsse obter a aprovação do Ministério da Saúde para a parceria”, já que, segundo o juiz, a empresa não tinha estrutura adequada para obtê-la sem a ajuda.

O encontro com Padilha foi descrito por Youssef em delação premiada, quando o doleiro disse que “Vargas efetivamente ajudou” nas negociações, apresentando a Labogen ao então ministro.