O esforço do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para convencer as agências de classificação de risco a não rebaixar a nota do Brasil começa a fazer efeito. Ontem à noite, a Standard y Poor's confirmou o grau de investimento do país ao manter a nota ( Rating ) de crédito soberano de longo prazo em moeda estrangeira em "BBB-" e com perspectiva estável. A decisão da agência é baseada na mudança de rumo na condução da política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff e na confiança de que, apesar do cenário desafiador, o governo conseguirá gradualmente apoio para implementar as medidas de ajuste fiscal consideradas necessárias.

"Em uma reversão da política de seu primeiro mandato, a presidente encarregou sua equipe econômica de desenvolver um ajuste acentuado nas diferentes políticas - não só fiscal - para restaurar a credibilidade perdida e fortalecer os perfis fiscal e econômico do Brasil que agora estão mais fracos", avaliou a agência.

chance de queda do dólar

O Rating "BBB -" é a última nota antes do grau especulativo na escala da SyP. O Brasil também é grau de investimento na avaliação das agências Fitch e Moody's, mas com duas notas acima do grau especulativo - o que reduz a chance de perda de grau de investimento no curto prazo.

A SyP avalia que levará algum tempo para o Brasil corrigir os efeitos "maiores que o esperado" das manobras fiscais feitas em 2014, em meio a um cenário de contração econômica agravado pela investigação de um esquema de corrupção na Petrobras. A agência espera que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2015 tenha uma retração de 1% e cresça 2% no ano que vem.

A notícia da manutenção da nota soberana do Brasil deve ter efeito nos mercados financeiros hoje. Para Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, havia o temor da perda de grau de investimento no curto prazo.

- A SyP deixa claras as dificuldades da economia brasileira, mas irá acompanhar essa mudança de rumo, e a manutenção do Rating acaba sendo positiva. Acredito que a volatilidade do dólar possa ser acentuada, e, hoje, a cotação pode até cair - disse.

A notícia da manutenção da nota do Brasil foi dada após o fechamento dos mercados, mas pode fazer com que a moeda americana tenha uma nova depreciação. Ontem, o dólar comercial no Brasil acompanhou o movimento global de desvalorização e recuou mais de 2%. A divisa caiu 2,63% ante o real e terminou o pregão a R$ 3,145. Foi a segunda queda consecutiva - na sexta, o recuo foi 2%. Já o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, teve leve recuo de 0,11%, aos 51.908 pontos.

Essas duas quedas consecutivas ajudaram a melhorar o desempenho do real no ano. Até o dia 19, quando a cotação da moeda americana atingiu R$ 3,296, a maior em praticamente 12 anos, a alta acumulada no ano chegou a 23,8% ante o real. Agora, a diferença caiu para 18,14%.

Segundo Aurélio Barbosa, analista da CM Capital Markets, apesar das preocupações com o ambiente político, o que mais pesou sobre as negociações foi o bom humor no mercado externo.

- A articulação política tem que melhorar, até porque as medidas do ajuste fiscal são impopulares, mas hoje, o que dominou foi a tendência de fora. No exterior, o mercado recebeu bem o encontro do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, com a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel. Mas esse bom humor é uma exceção. Não há uma tendência definida para os mercados - avaliou.

A declaração do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, sobre a continuidade das medidas de estímulo por ao menos 18 meses, para que a inflação na União Europeia reaja e volte à meta de 2%, também contribuiu para o bom humor dos mercados globais, uma vez que esses estímulos irão manter a liquidez em alta. Já nos Estados Unidos, dados da venda de imóveis usados ficaram abaixo do esperado, o que, para investidores, significa que a alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode ter uma magnitude menor.

Marcelo Castello Branco, economista-chefe da Saga Capital, avalia que o Fed deixou claro, na semana passada, que não está com pressa em ajustar as taxas.

- Não houve nenhuma notícia interna para pressionar a moeda. Do lado externo, o Fed deixou claro, desde a semana passada, que não está com pressa para mover os juros. A maior parte dos economistas ainda espera uma alta em junho, mas a parcela já é menor do que o registrado antes do comunicado do Fed - afirmou.

à espera da 'ração diária'

No Brasil, os investidores aguardam a definição do Banco Central sobre a ração diária (venda de dólares) e o programa de swaps cambiais. A oferta de US$ 100 milhões ao dia está prevista para encerrar no dia 31 de março.

Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, esse estímulo deve acabar, mas a autoridade monetária deve ser mais flexível na rolagem dos contratos de Swap cambial (que têm efeito equivalente a uma compra da moeda), aumentando o percentual dos contratos renovados quando a divisa estiver mais pressionada.