PMDB no comando

 

A engenhosa manobra de indicar o vice-presidente Michel Temer para fazer a coordenação política do governo no Congresso foi da presidente Dilma, mas foi ideia de Temer a extinção do ministério para agregar suas funções à vice-presidência. E o que poderia parecer à primeira vista um golpe da presidente Dilma no PMDB, que recusara a coordenação, foi na verdade a consumação da hegemonia política do PMDB, que agora controla os três principais cargos do jogo político com os três primeiros na linha de sucessão presidencial.
O PT perdeu formalmente o ministério de relações institucionais, que deverá ser extinto, e também a função política do Gabinete Civil, cujo ministro, Aloísio Mercadante, ficará fora desse circuito por desejo de boa parte do próprio PT e, principalmente, do ex-presidente Lula. Mercadante é uma vítima colateral do fogo amigo que atingiu Pepe Vargas, mas com muito mais importância política que o alvo central.
A demissão de Pepe Vargas, que havia sido escolhido pela própria Dilma para a coordenação política contra a vontade da maior facção petista e do próprio ex-presidente Lula, não tem a menor importância política, e só merece registro lateral pela falta de educação com que foi tratado, vindo a saber do convite a seu colega de ministério Eliseu Padilha pelo noticiário da internet.
O vice Michel Temer tem a capacidade de parecer não confrontar o adversário, mesmo quando o está confrontando. Parece ser esse o caso, pois a supremacia do PMDB sobre o PT consumou-se, voltando a uma experiência que já vingou no país, em outros moldes: de 1891 a 1967, o vice-presidente atuava também como Presidente do Senado Federal e de 1967 a 1969 como Presidente do Congresso Nacional, função que hoje é exercida pelo presidente do Senado. E tinha seu gabinete no prédio do Congresso. Nos Estados Unidos, o vice-presidente da República automaticamente preside o Senado. E Temer, é bom não esquecer, é indemissível, isto é, a coordenação política tendo passado oficialmente para suas funções, de lá só sairá num próximo governo.
Mas o que sai de toda essa enrascada política é a imagem de um governo fragilizado, que vai sendo controlado pelo PMDB. Pegue-se um ministro que assume o cargo e diz que não aderiu ao governo, só aceitou trabalhar nele, e misture-se com outro que, já sendo ministro, recusou o convite da presidente para mudar de pasta e assumir o ministério das relações institucionais, e temos a imagem de um governo enfraquecido por seus próprios aliados.
O ministro da Educação, Renato Janine, é um intelectual respeitado que fez diversas críticas ao governo Dilma antes de aceitar integrá-lo, mesmo considerando-o “autoritário”. Diz ele que não poderia recusar o convite, depois de ter feito críticas ao governo. Seria desperdiçar uma chance de consertar o que considera errado. Com essa estranha maneira de encarar a participação em um governo, Renato Janine transformou-se em um “ministro crítico”, ou um “antiministro”.
Já Eliseu Padilha foi aconselhado pelo PMDB, e em especial pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha, a não aceitar a mudança de ministério, enfraquecendo a presidente que o convidou e fortalecendo a percepção de que o PMDB não é mais governo, simplesmente está no governo, aguardando o rumo dos acontecimentos.
A ida de Temer pode evitar mais trapalhadas na área política, mas não tirará a proeminência de Eduardo Cunha e Renan Calheiros no Congresso, pois os dois defendem uma agenda parlamentar que interessa ao PMDB liderar.
Os movimentos sociais já não metem medo aos políticos, nem os apelos do governo têm o poder de conter o Congresso, tanto que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, decidiu colocar em votação o projeto da terceirização, e o relator do projeto, do Solidariedade, disse que achou muita graça da marcha convocada pela CUT que reuniu apenas 400 pessoas em São Paulo.
A falta de manifestantes nos vários estados em que houve marcha patrocinada pela CUT foi compensada pela violência em Brasília, onde deputados favoráveis à terceirização foram agredidos por sindicalistas, que também foram agredidos pela segurança do Congresso.
O fracasso das manifestações convocadas por incentivo de Lula mais uma vez demonstra que a capacidade de mobilização dos chamados movimentos sociais está exaurida diante da realidade política. Prometem novas manifestações no dia 15, em resposta ao que acontecerá no país no próximo domingo, dia 12.
Essa queda de braço reflete-se no Congresso, onde os projetos contrários aos interesses do PT avançam. Todos estão à espera do dia 12 para ver como as ruas se comportarão.