Mulheres de líderes opositores presos na Venezuela pedem ajuda ao Brasil
Luiz Raatz
Carla Araújo
As mulheres dos opositores venezuelanos Antonio Ledezma, prefeito de Caracas, e Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular, se encontraram nesta terça-feira, 5, com o ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Mitzy Capriles e Lilian Tintori estão no Brasil como parte de uma viagem pela América Latina para buscar apoio internacional para a campanha pela liberdade de seus maridos.
Ledezma está preso desde fevereiro e López, há mais de um ano. A campanha realizada pelas duas opositoras, segundo um comunicado divulgado em São Paulo, pretende "divulgar mundialmente a injustiça nestes casos (prisões dos líderes) e no de todos os outros 98 presos políticos na Venezuela".
Lilian Tintori (esquerda) e Mitzy Capriles se reúnem com Fernando Henrique Cardoso
Após o encontro na capital paulista, Lilian postou uma foto em seu Twitter junto com o ex-presidente brasileiro e Mitzy com a legenda: honradas que estar com Fernando Henrique Cardoso, promotor de reformas democráticas que criaram um Brasil de progresso.
Na "Declaração do Panamá", realizada mês passado, 27 ex-presidentes, entre eles Andrés Pastrana (Colômbia), José María Aznar (Espanha), Felipe Calderón (México) e o próprio FHC expressaram sua solidariedade à campanha pela liberdade de Ledezma, López e demais presos políticos.
Na quarta-feira, Lilian e Mitzy viajarão para Brasília. Antes do Brasil, elas visitaram o Panamá, durante a Cúpula das Américas; Peru e Chile, países onde foram recebidas por autoridades, políticos, acadêmicos e intelectuais locais, como o Nobel peruano de Literatura Mario Vargas Llosa.
'Opositoras venezuelanas tomaram a frente'
Mulher de Antonio Ledezma, preso em fevereiro por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência sob a acusação de planejar um golpe contra o presidente Nicolás Maduro, Mitzy Capriles ressalta a importância das mulheres de líderes da oposição venezuelana depois de o chavismo ter prendido três prefeitos e o líder Leopoldo López nos últimos 15 meses. Enquanto ela e Lilian Tintori viajam pela região em busca de apoio diplomático, Patricia de Ceballos e Rosa Scarano comandam as prefeituras de San Cristóbal e San Diego. "São mulheres muito valentes", disse ela ao Estado. A seguir, trechos da entrevista.
Como está seu marido depois da cirurgia?
Está se recuperando do pós-operatório. Foi muito difícil. Ele estava na cadeia e sentiu dores durante 18 dias até que fosse levado a um hospital. Então, os médicos se deram conta de que o teriam de operar de uma hérnia. Os chavistas falam que agora ele está em casa, mas está preso (Ledezma se recupera da cirurgia em casa sob prisão domiciliar). Mas ele segue animado e disposto a lutar por seu país e buscar diálogo entre os dois lados. Ele é um democrata. É impossível brigar com ele. Pode-se conversar sempre com Antonio.
Nos últimos meses, depois das prisões de líderes da oposição, suas mulheres ganharam proeminência na política venezuelana. Por que isso aconteceu?
Não sei se há uma "feminização" da oposição. Se fossem prefeitas que tivessem sido presas, acredito que seus maridos estariam fazendo o mesmo. Quando eles foram reprimidos, suas mulheres tomaram a frente. Mas, de fato, o caso de Patrícia de Ceballos (eleita prefeita de San Cristóbal depois da prisão do marido, Daniel) é impressionante. Ela assumiu a responsabilidade de substituí-lo e ganhou de maneira avassaladora, assim como a Rosa, mulher de Enzo Scarano, em San Diego. As duas e Lilian são mulheres muito valentes.
E a senhora não pensou em substituir Ledezma na prefeitura metropolitana?
Jamais. Ele é o prefeito metropolitano e foi eleito e reeleito.
A Venezuela vive um grave problema cambial e o governo limita o acesso a dólares para as pessoas que querem deixar o país. Como vocês conseguiram financiar essa viagem?
Nós evidentemente temos amigos que nos ajudam na nossa causa. Seria uma bobagem pensar que Leopoldo López, Antonio Ledezma e a oposição não teriam amigos que nos possam ajudar. Pessoalmente, não podemos comprar dólares a não ser que os compremos no câmbio negro, a preços extorsivos. O importante não é perguntar como podemos viajar. O importante é saber como gente do governo viaja como quer, vivendo a vida que vive, e diz que defende os mais pobres.
E o chavismo tentou de alguma maneira dificultar a viagem?
Até agora não. Nem poderiam. Seria o cúmulo. Não estou presa. Se me perguntam para que vou viajar, não preciso responder. Afinal de contas, vivemos supostamente numa democracia. Entretanto, uma vez já retiveram minha filha numa sala do Sebin (o serviço secreto chavista) antes de uma viagem apenas por ser filha de Antonio Ledezma.
A senhora tem um genro que foi ministro chavista, Andrés Izarra. Como é essa convivência com alguém do "outro lado"?
Você é muito jovem. Não sabe ainda que não se escolhe os amores dos seus filhos. Para nós, a família e o amor são parte fundamental da nossa vida. Simplesmente não falamos de política. Nunca dizemos nada que desrespeite a maneira dele de pensar, assim como ele nunca nos desrespeitou e nos deu dois netos espetaculares.
Deputada liga governo à morte de promotor
A deputada Elisa Carrió, uma das principais críticas do governo de Cristina Kirchner, afirmou ontem em depoimento que o condomínio em que o promotor Alberto Nisman foi encontrado morto em 18 de janeiro com um tiro na cabeça estava propositalmente desprotegido. A parlamentar vinculou a Polícia Federal, uma empresa de segurança e o chefe de gabinete, Aníbal Fernández, à morte que classificou de "terceiro atentado" na Argentina.
Carrió referia-se aos ataques à embaixada de Israel, que deixou 29 mortos em 1992, e ao atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), que matou 85 em 1994. Nisman comandava uma equipe que havia dez anos investigava, com auxílio do serviço secreto argentino, esse último caso.
Quatro dias antes de seu corpo ser achado com um tiro na cabeça no banheiro de seu apartamento, em Buenos Aires, o promotor havia denunciado a presidente e outros altos funcionários por acobertar os iranianos acusados de atacar a Amia.
Em 2013, Cristina impulsionou um acordo com o Irã para que os acusados fossem ouvidos em Teerã. Nisman dizia ter provas de que esse pacto tinha apenas interesses comerciais. Sua denúncia foi rejeitada duas vezes na Justiça e tem possibilidade remota de ir adiante.
Aliada do conservador Mauricio Macri na eleição presidencial de outubro, a deputada da Coalizão Cívica afirmou que Nisman foi morto porque tinha razão em sua denúncia. No terceiro dos cinco textos que apresentou à promotora Viviana Fein, encarregada da investigação, Carrió descreveu "uma zona liberada pela Polícia Federal" a serviço de Aníbal Fernández e denunciou cumplicidade da empresa de segurança do condomínio Le Parc, que acusou de ser um grupo de fachada a serviço da Secretaria de Inteligência (Side) argentina.
Como o conteúdo do depoimento de Carrió - aceito pela investigadora porque a deputada alegou ter evidências importantes para solucionar o caso - não foi revelado em sua íntegra, nenhum dos grupos ou indivíduos mencionados se defendeu das acusações ontem.