Lula pede 'paciência' com Dilma; Aécio afirma que presidente se 'acovardou'

Pedro Venceslau

Fausto Macedo

 

Em discurso no palanque da Central Única dos Trabalhadores (CUT) nas comemorações do Dia do Trabalho no centro paulistano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que a população tenha paciência com a sua sucessora, Dilma Rousseff. A quilômetros dali, na zona norte, o principal líder da oposição, senador Aécio Neves (PSDB-MG), subiu ao palco da Força Sindical para atacar o governo e dizer que a data será lembrada como o “Dia da Vergonha” pelo fato de Dilma ter desistido de falar em rede nacional de TV.

“A gente tem que ter paciência com a Dilma, como a mãe da gente tem com a gente. Ela foi eleita para governar quatro anos. Ela tem um programa de quatro anos. Esperem o resultado final do governo”, disse Lula a quem foi ao Vale do Anhangabaú na festa da CUT. “Todos têm que saber, sobretudo os adversários, que mexeu com a Dilma mexeu com muita gente desse País e mexeu com a classe trabalhadora.”

“Esse Primeiro de Maio será lembrado como o dia da vergonha e o dia que a presidente da República se acovardou. A presidente se esconde daqueles que sustentam o Brasil”, disse Aécio a quem foi à Praça Campo de Bagatelle na festa da Força Sindical. “O legado do PT é a inflação alta e o desemprego crescendo”.

Na prática, os eventos organizados pelas centrais sindicais em São Paulo acabaram por reproduzir a polarização política que marca o segundo governo da presidente Dilma Rousseff desde sua posse, em 1.° de janeiro.

A Força Sindical levou o “Fora Dilma” para cima de seu palanque, evitou falar da terceirização - projeto do qual é apoiadora - e reproduziu as palavras de ordem das manifestações anti-Dilma em várias cidades nos dias 15 de março e 12 de abril. O deputado Paulinho da Força (SDD-SP), fundador da entidade, pediu o impeachment e chegou a chamar a presidente de “desgraçada” em seu discurso. A central diz ter reunido 1 milhão de pessoas, mas a Polícia Militar não confirmou esse número. A corporação disse não ter feito cálculos.

Governista rebelde que tem imposto várias derrotas ao governo no Congresso, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), também foi à festa da Força. Ele anunciou que apresentará um projeto de lei, em regime de urgência, que altera o índice de correção do FGTS. Segundo ele, os novos depósitos serão corrigidos pela poupança.
Coube ao ministro do Trabalho, Manoel Dias (PDT), a difícil tarefa de representar o governo no palco oposicionista da Força. Não foi vaiado, mas também não foi aplaudido. Saiu antes da chegada de Aécio à festa.

Elite

A CUT, que é ligada ao PT, aproveitou a presença de Lula para tentar tirar o partido e o Planalto da defensiva. As manifestações contrárias ao projeto de terceirização recém-aprovado na Câmara dos Deputados dominaram os discursos. O ex-presidente, porém, foi além ao falar ao público, que foi de 30 mil pessoas segundo os organizadores - a PM também não fez o cálculo.

“O que me deixa inquieto é o medo da elite brasileira que eu volte para a Presidência da República. E é um medo inexplicável. Porque nunca eles ganharam tanto dinheiro na vida como ganharam no meu governo”, disse Lula no discurso. Em seguida, declarou: “Eu cheguei até onde cheguei, eu fiz o que eu fiz nesse País e eu vou baixar o rabo? Eu estou quietinho no meu lugar, não me chamem para briga, porque eu sou bom de briga”.

Embora tenha dito que não tem “intenção” de ser candidato “a nada”, o ex-presidente sinalizou que estará na disputa em 2018. Disse que “aceita” a provocação daqueles que tentam ligar seu nome à Operação Lava Jato e a outras irregularidades. Ele citou uma reportagem da revista Época publicada nesta semana que revela a existência de uma investigação do Ministério Público Federal na qual seu nome é ligado a suspeitas de tráfico de influência internacional por ajudar empreiteiras brasileiras a obter contratos fora do País em obras financiadas pelo Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Lula afirmou quer as revistas brasileiras são “são um lixo, não valem nada”. “Pega todos os jornalistas da Veja e da Época e enfia um dentro do outro e não dá 10% da minha honestidade”, discursou - as revistas não quiseram comentar a fala do petista.
Lula afirmou ainda que em seus dois mandatos, entre 2003 e 2010, socorreu empresários das mais diversas áreas, inclusive da mídia. “Quando alguém dizia que o BNDES não podia financiar prédios e editoras eu dizia pode. Um dono de jornal tem que ser tratado como qualquer empresário, se ele quiser pedir o financiamento ele tem o financiamento e não é obrigado a falar bem de um governo”, disse.

“Não tem um cara da elite brasileira que já não tenha recebido favor do Estado, que não tenha recebido e não tenha sido salvo pelo Estado. Eu conheci muitos meios de comunicação falidos e ajudei porque acho importante ajudar. A comunicação tem que ser forte, tem que ser democrata e tem que funcionar”, afirmou.

Lula disse ainda que vai começar a viajar mais. “Eu vou voltar a conversar com trabalhadores, eu vou começar a desafiar aqueles que não se conformam com o resultado da democracia.”