Temer sobre Levy: "um Cristo"

Correio braziliense, n. 19006, 09/05/2015. Política, p. 3

Julia Chaib

Paulo de Tarso Lyra

Na semana em que a política econômica do governo será massacrada no 5º Congresso Nacional do PT, de 11 a 13 de junho, em Salvador, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o ajuste fiscal rigoroso implantado pela equipe dele foram beatificados pela cúpula do governo. Um dia após a presidente Dilma Rousseff ter dito, em entrevista ao O Estado de S.Paulo, que Levy não “pode ser pego para Judas”, o vice-presidente, Michel Temer, afirmou que a comparação entre o titular da Fazenda e o apóstolo traidor não é a mais correta.

“Ele (Levy) tem que ser tratado como um Cristo, que sofreu muito, foi crucificado, mas teve uma vitória extraordinária na medida em que deixou um exemplo magnífico, extraordinário, para todo mundo”, afirmou. “Penso que o ajuste fiscal que o Levy está levando adiante vai representar exatamente isso. Num primeiro momento, parece uma coisa difícil, complicada, mas que vai dar os melhores resultados. Acho que (ele tem que ser visto) muito menos Judas e muito mais Cristo”, completou Temer.

À frente da defesa do ajuste fiscal conduzido pelo governo, Levy tem sido alvo de críticas, especialmente de setores de dentro do PT, pela condução da política econômica. O pacote de ajuste fiscal atingiu diversos setores, inclusive benefícios trabalhistas. A defesa pública de Dilma em favor de Levy é uma resposta às críticas do próprio partido direcionados ao ministro. A corrente do PT Mensagem ao Partido pretende lançar um documento com comentários contra o ministro no Congresso Nacional da sigla, que ocorrerá de 11 a 13 de junho em Salvador (leia mais na página 5).

Para concluir o ajuste, ainda falta aprovar na Câmara dos Deputados o projeto que reduz a desoneração da folha de pagamentos, o que deve ocorrer nesta semana. A leitura do relatório ocorrerá na quarta-feira, quando Temer se reunirá com líderes da base na Câmara. Ontem à noite, o vice-presidente reuniu-se com Levy, com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e com líderes da base do governo no Senado para discutir a agenda da semana, que inclui a análise da medida provisória que muda o cálculo do imposto e a proposta de reajuste para servidores do Judiciário.

Discurso
Mas aqueles que esperam uma mudança no discurso da presidente já durante o Congresso do PT devem ficar desapontados. Segundo apurou o Correio, a presidente não deve anunciar nenhuma grande novidade no encontro, como o anúncio da nova regra do fator previdenciário. Primeiro, ainda não há certeza se ela, de fato, comparecerá ao evento, já que estará retornando de uma viagem à Bélgica e só chegará ao Brasil no dia 13, data de encerramento do encontro.

Segundo articuladores, contudo, a fala presidencial deve manter o tom do discurso proferido no aniversário de 93 anos do PCdoB, quando defendeu o ajuste fiscal. Dilma deverá falar que o governo do PT conseguiu superar a crise internacional de 2008 com medidas anticíclicas mas que, com a mudança na conjuntura internacional, houve a necessidade de adotar medidas mais amargas. “E dirá que o ajuste não faz parte do programa de governo e sim, é uma etapa necessária para implementarmos nossos programas para o país”, acrescentou um aliado da presidente.