Valor econômico, v. 15, n. 3741, 23/04/2015. Política, p. B2

Caixa e redução da dívida são prioridades, diz Bendine

 

Por Rodrigo Polito, André Ramalho, Claudia Schüffner e Camila Maia | Do Rio e de São Paulo

Divulgado o balanço auditado de 2014, a geração de caixa e a equalização das dívidas serão os desafios centrais da Petrobras, disse ontem o presidente da companhia, Aldemir Bendine. Ao fim do ano passado, o endividamento líquido da companhia somava R$ 282 bilhões, com alta de 27% em comparação com a dívida líquida de 2013, de R$ 221,5 bilhões. Na comparação com o terceiro trimestre, quando o endividamento somava R$ 261,4 bilhões, houve aumento de 7,8%.

O maior salto foi nas dívidas de curto prazo, com vencimento em até 12 meses, que saltaram 68%, para R$ 31,5 bilhões. O endividamento de longo prazo, por sua vez, cresceu 28%, para R$ 319,5 bilhões. A relação entre dívida líquida e resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficou em 4,77 vezes, muito acima das 3,52 vezes do segundo trimestre - último balanço que estava disponível - e do nível de 3,5 vezes já declarado como confortável pela administração anterior.

 

http://www.valor.com.br/sites/default/files/crop/imagecache/media_library_small_horizontal/0/12/755/494/sites/default/files/gn/15/04/arte23emp-101-divida-b2.jpg

A dívida bruta da companhia ficou em R$ 351 bilhões, 31% a mais do que no anterior. Considerando os valores em moeda americana, o endividamento total de US$ 132,2 bilhões ficou muito superior ao das maiores petroleiras mundiais. Depois da Petrobras, a mais endividada é a francesa Total, de "apenas" US$ 54 bilhões.

Além do aumento da dívida total, a posição de caixa da estatal brasileira encolheu, e ao fim de dezembro, somava R$ 44,2 bilhões, 24% a menos que os R$ 58,1 bilhões do fim do segundo trimestre. Na comparação com 2013, no entanto, houve alta de 19% nas disponibilidades.

De acordo com o diretor financeiro Ivan Monteiro, a Petrobras pretende visitar mercados pouco acessados nos últimos anos em busca de captações para 2016. Segundo ele, os financiamentos recém-anunciados pela petroleira cobrem as necessidades de captação da empresa para 2015, mas a estatal pretende antecipar captações para as demandas do próximo ano.

"Vamos visitar mercados que não visitamos há muito tempo", disse Monteiro, durante coletiva de imprensa. "Por exemplo, a Petrobras não faz captação de renda fixa no Brasil há 15 anos", complementou o executivo. Já o presidente da empresa, Aldemir Bendine, destacou que as captações anunciadas pela empresa nas últimas semanas, com o Banco de Desenvolvimento da China, estão atreladas a contrapartidas estritamente financeiras.

"Não existe qualquer compromisso com contrapartidas que não sejam financeiras", reforçou Bendine, em referência a notícias de que o financiamento obtido com o banco chinês tinha como garantia a entrega de óleo. Ainda segundo o executivo, o caixa da Petrobras está, atualmente, em US$ 26,5 bilhões, com base em dados de "dias atrás".

Bendine disse, ainda, que a petroleira está debruçada sobre a revisão do plano de negócios da companhia e que, assim que for concluída a nova versão dos planos de investimentos, a companhia voltará ao mercado para compartilhar as informações.(Colaborou Natalia Viri, de São Paulo)

Perdas na área de abastecimento aumentam 120%, para R$ 38,9 bi

 

Por Rafael Rosas | Do Rio

A área de abastecimento da Petrobras fechou 2014 com prejuízo de R$ 38,9 bilhões, uma alta de 120% na comparação com as perdas de R$ 17,7 bilhões registradas no ano anterior. Segundo a companhia, o aumento das perdas "decorreu do impairment, da baixa de gastos capitalizados indevidamente, das baixas dos valores relacionados à construção das refinarias Premium I e II e do provisionamento do Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PDV)".

A estatal destacou que esses fatores foram parcialmente compensados pelos maiores preços médios de realização de derivados em função dos reajustes do diesel e da gasolina ao longo de 2013 e em 2014. Em coletiva de imprensa, o presidente da companhia, Aldemir Bendine, ressaltou que o atual nível de preços de venda dos combustíveis é "justo e traz boa margem de retorno".

Ainda no segmento, a produção de derivados da companhia aumentou 2% no ano passado, para 2,17 milhões de barris por dia. Essa alta foi creditada pela companhia à "melhora sustentável da performance operacional das refinarias".

Já a venda de derivados no mercado brasileiro foi de 2,46 milhões de barris por dia no ano passado, 3% a mais que os 2,38 milhões de barris/dia registrados em 2013. As vendas de diesel subiram 2%, para 1 milhão de barris/dia, enquanto as vendas de gasolina avançaram 5%, para 620 mil barris diários.

Na área de exploração e produção (E&P) o lucro caiu 24% no ano passado, para R$ 32,3 bilhões. "A redução do lucro líquido decorreu do impairment, da baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente, do provisionamento do Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV), da provisão para abandono de áreas, das baixas de ativos por devolução de campos e dos maiores gastos com depreciação de equipamentos, manutenção e intervenção de poços, afretamentos de plataformas, materiais e pessoal", diz a companhia. A produção média diária no ano passado foi de 2,46 milhões de barris/dia, um aumento de 6% sobre os 2,32 milhões de barris/dia do ano anterior.

O segmento de gás e energia, por sua vez, fechou o ano passado com prejuízo de R$ 936 milhões, revertendo ganhos de R$ 1,26 bilhão obtidos um ano antes. As perdas foram causadas por maiores custos com importação de gás natural liquefeito (GNL) e de gás natural para atender a demanda do setor termelétrico. Além disso, houve uma provisão de R$ 1,6 bilhão para perdas com recebíveis do setor elétrico.

"Estes fatores foram compensados parcialmente pelos maiores preços médios de realização de energia elétrica, em função do menor nível dos reservatórios, e do ganho obtido com a venda da participação total na empresa Brasil PCH S/A (R$ 646 milhões)", informa o balanço.

Petrobras poderá fazer avaliações de ativos do pré-sal

 

Por Assis Moreira | De Madrid

A Petrobras poderá vender ativos do pré-sal onde tem participação maior dos 30% previstos em lei, conforme avaliações em exame em Brasília. O Valor apurou que a ideia é uma maneira de combinar a preservação do mínimo legal de participação da Petrobras e assegurar os investimentos necessários para exploração de novos campos.

Assim, seriam vendidos basicamente campos até agora não explorados, onde o novo sócio da empresa poderia pôr mais capital.

Em Madrid, ao ser indagado pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor , se a venda de ativos do pré-sal seria algo fora de questão, o vice-presidente Michel Temer respondeu que "aí é questão de a Petrobras examinar tecnicamente". Para o vice-presidente, "o que for útil para a Petrobras recuperar cada vez mais a imagem vale a pena fazer".

Indagado sobre a possibilidade de troca de petróleo por financiamento com a China, como foi proposto pelo governo chinês há dois anos, em sua visita a Pequim, Temer respondeu que se trata "de algo que pode ajudar a Petrobras, é positivo, mas isso depende de avaliação interna da companhia".

Pela manhã, o vice-presidente avaliou que a divulgação de balanço auditado da Petrobras ontem vai ajudar a recuperar a "boa imagem" da companhia petroleira. Para Temer, a divulgação dos balanços é "uma coisa muito honesta e muito adequada, acho que isso vai ajudar a tirar aquela (imagem)de que a Petrobras está numa péssima situação".

Na terça-feira, em Lisboa, ele disse que confiava na palavra da Petrobras e da presidente (Dilma Rousseff), de que a situação na empresa de petróleo já estava limpa. Recentemente, Dilma declarou que a estatal tinha superado seus problemas e "está de pé e limpou tudo o que tinha que limpar".

Presidente admite parceiros para concluir Comperj

 

Por Cláudia Schüffner, Rodrigo Polito e André Ramalho | Do Rio

A Petrobras pretende buscar parceiros para investimentos futuros na retomada do projeto petroquímico do Comperj, no município fluminense de Itaboraí, disse ontem o presidente da estatal, Aldemir Bendine. O empreendimento foi o principal responsável pela baixa de ativos e respondeu, sozinho, por R$ 21,8 bilhões do "impairment" total de R$ 44,6 bilhões contabilizado pela companhia em 2014.

"Sobre o complexo petroquímico, podemos buscar interessados em investir. Esses movimentos de atratividade são cíclicos e vamos buscar parceiros para concluir esse trabalho", disse durante entrevista coletiva.

Segundo ele, apesar dos problemas associados ao empreendimentos os investimentos para conclusão da refinaria fluminense estão garantidos. "Estamos fechando o plano de negócio. Não temos uma data explicitada, mas entendemos que naquela refinaria [do Comperj] estamos com 86% do cronograma físico concluído e não teria cabimento deixar um ativo como aquele se depreciar. Vamos fazer um esforço para concluir", acrescentou o executivo.

Apesar das baixas expressivas no setor de refino, o presidente da Petrobras destacou que a estatal pode voltar a investir na expansão do segmento nos próximos anos. "Os projetos foram baixados, o que não quer dizer que futuramente, se houver necessidade de investir na capacidade de refino, possamos investir, não especificamente naqueles projetos, mas naquelas localidades", disse o Bendine, fazendo alusão aos projetos das refinarias Premium I e II, no Ceará e no Maranhão, que foram engavetados sem sair do papel.

De acordo com o executivo, a companhia e o país ainda são dependentes da importação de combustíveis e continuar investindo em refino é "salutar" para a empresa. Além do Comperj e das refinarias Premium I e II, a Petrobras deu uma baixa de R$ 9,1 bilhões no chamado "trem 2", de refino, do projeto de Abreu e Lima, em Pernambuco. A petroquímica Suape foi responsável por mais R$ 3 bilhões em "impairment".