Valor econômico, v. 15, n. 3741, 23/04/2015. Finaças, p. C2

 

Balanço da Petrobras sugere pregão volátil

 

Por Téo Takar e Aline Cury Zampieri | De São Paulo

 

DivulgaçãoRali recente com ações da Petrobras pode estimular embolso de lucros

O balanço de 2014 da Petrobras veio pior que o esperado pelos analistas de ações e sugere um pregão volátil para a Bovespa nesta quinta-feira. Ontem, minutos após a divulgação do resultado, por volta das 19h40, os recibos de ações (ADRs) ON da estatal negociados no pregão noturno ("after hours") da Bolsa de Nova York chegaram a cair 5%, depois se recuperaram e subiam 2% às 20h00.

Na Bovespa, Petrobras ON (0,52%) e PN (0,22%) registraram intensa volatilidade ao longo do dia, mas terminaram o pregão com altas moderadas. Analistas já alertavam, independentemente dos números no balanço, que as ações estavam esticadas e poderiam passar por uma correção hoje. A ação PN acumula alta de 35% neste mês e a ON sobe 40%.

"Os ajustes foram maiores que o projetado pelo mercado. O 'impairment' [baixa de ativos] chegou a R$ 44 bilhões. A expectativa era de uma baixa de R$ 20 bilhões. O lado bom é que o balanço veio sem ressalva do auditor externo. Mas essa baixa maior de ativos pode ter sido decorrente de pressão do auditor para aprovar as contas", avalia o estrategista da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira.

Para o analista da Independent Research, Pedro Galdi, o ponto que mais preocupa no balanço é o elevado grau de alavancagem da companhia. Segundo a Petrobras, a relação dívida líquida/Ebitda alcançou 4,77 vezes no fim de 2014. "E o primeiro trimestre deve ser pior, porque o endividamento continua crescendo. Vamos ver qual argumento a diretoria vai dar para reduzir essa alavancagem no médio prazo."

O lado positivo do balanço, na opinião do analista da Clear Corretora, Raphael Figueredo, foi a transparência. "Os números agora trazem a realidade da empresa, algo muito esperado pelo mercado. Eles fizeram uma baixa contábil grande mas, aparentemente, ajustaram todos os ativos que não estavam dando lucro, ineficientes ou que sequer saíram do papel."

Em relação às ações, a opinião dos analistas é que a alta recente "aconteceu muito rapidamente". "Houve uma melhora na percepção de risco a partir da informação de que o balanço seria divulgado", ressalta Pereira, da Guide Investimentos. As ações saíram da casa dos R$ 8 na metade de março, atingindo os R$ 13 na semana passada. "O papel vai ter que se ajustar aos fundamentos. O fato é que a Petrobras continua muito endividada."

 

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Figueredo, da Clear Corretora, também acredita que a fase do "rali" de Petrobras já passou. "Com o balanço na mão, o mercado vai se voltar para os fundamentos. Investidores podem embolsar os ganhos amanhã [hoje]. Seria muito justo. E é preciso destacar que a apresentação do balanço é uma obrigação da empresa. E a Petrobras está bem atrasada", ressalta.

Ontem, apenas a expectativa pela divulgação do balanço da Petrobras já foi suficiente para que o mercado brasileiro registrasse uma significativa melhora na percepção de risco dos investidores, que se refletiu em alta das principais ações, especialmente das estatais. Independentemente das demonstrações da companhia, a sensação entre os investidores é que um grande peso foi retirado das costas do mercado.

Analistas são unânimes em afirmar que o atraso na divulgação do balanço vinha prejudicando a Petrobras, travando a Bovespa e, principalmente, manchando a imagem do país no exterior nos últimos cinco meses. Com a "limpeza" nas contas, o Brasil deve voltar a ganhar espaço na cena internacional.

O Ibovespa fechou em alta de 1,59%, aos 54.617 pontos, com bom volume, de R$ 6,936 bilhões. A lista de maiores altas trouxe Vale PNA (9,80%) e ON (9,70%), Bradespar PN (8,05%) - que possui ações da Vale em sua carteira de investimentos - e as estatais, Eletrobras PNB (6,48%), Eletrobras ON (5,94%) e Banco do Brasil ON (4,05%). Entre os bancos privados, que representam a maior parcela do Ibovespa, Itaú PN subiu 2,78% e Bradesco PN ganhou 1,34%.

A Vale divulgou ontem sua produção no primeiro trimestre, com elevação de 4,9% da produção própria de minério de ferro, na comparação anual. No entanto, analistas atribuíram a forte alta das ações à recuperação no preço do minério de ferro na China, que ontem avançou 4,1%, para US$ 52,90 por tonelada.

Também colaborou para o ajuste nos preços a informação de que a anglo-australiana BHP Billiton decidiu adiar um projeto para expansão da capacidade de um porto utilizado para o escoamento de minério na Austrália Ocidental.