'Governo foi Pollyanna', diz petista que ajudou a derrotar o Planalto

 

 Um dos nove petistas que votaram contra o governo e a favor da mudança no fator previdenciário, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) disse, nesta quinta-feira, que vai deixar o cargo de vice-líder do governo na Câmara, mas critica a responsabilidade colocada nele e em outros petistas pela derrota de ontem. Segundo Zarattini, que relatou a primeira medida provisória do ajuste fiscal, o governo foi avisado que isso iria ser incluído na votação das MPs, mas agiu como "Pollyanna", numa referência a personagem do livro de Eleanor H. Porter que é ingênua e age de forma otimista em relação ao futuro.

— Desde o começo foi colocado para o governo que essa questão do fator ia entrar. O governo foi suficientemente avisado de que teria esse desfecho e de que ele teria que ter atuado. O governo, no fim, passou a ser "Pollyanna", passou a acreditar que o Eduardo Cunha não colocaria em votação, consideraria como matéria estranha à MP, que o Arnaldo Faria de Sá aceitaria um acordo para retirar a emenda e que mesmo que fosse a votação, o plenário rejeitaria — disse Zarattini, acrescentando:

 

Aí não dá para falar que a culpa é dos nove do PT, dos 12 do PC do B, dos 20 do PMDB. Não é. Há uma vontade majoritária na Casa de mudar o fator previdenciário. Se o líder do PT não tivesse orientado para votar contra, o PT votaria 100% a favor.

Para Zarattini, a aprovação da mudança no cálculo do fator previdenciário pela Câmara na noite de ontem irá pressionar o grupo de debate, montando pela presidente Dilma Rousseff para debater fórmulas de modificação do fator previdenciário a encontrar uma solução para essa pauta. Segundo ele, o movimento sindical cobra há muito tempo uma solução. O deputado do PT disse que se a presidente eventualmente vetar a mudança, esse grupo poderá propor uma alternativa.

— Eu não acho que a fórmula aprovada ontem seja a melhor e o governo pode trabalhar uma solução alternativa — disse Zarattini.

Indagado se a decisão dele e de outros partidos da base votarem a favor da modificação do fator não expõe o governo, Zarattini afirmou:

— Estamos todos a favor da ajuste. Votamos a favor das MPs. A questão do fator previdenciário é uma coisa a longo prazo, não estamos tratando do ajuste. Se for implantado em 2016, muita gente pode até deixar para se aposentar mais adiante.

O deputado petista não quis polemizar e confrontar as críticas feitas pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), que considerou um equívoco a decisão de Zarattini de votar a favor do fator previdenciário. Mas avisou que deixará o cargo de vice-líder do governo na Casa.

— Vou me afastar da vice-liderança do governo. Fica mais fácil recompor. Não é crise — disse o petista.