Lula tenta reconquistar Renan

Ex-presidente almoçou por mais de duas horas com peemedebista para reaproximá-lo de Dilma, mas não poupou sucessora de críticas

Simone Iglesias, Maria Lima e Júnia Gama

Em meio à crise política que se arrasta, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou ontem em Brasília para almoçar com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tentar promover a reaproximação dele com o governo da presidente Dilma Rousseff. Os dois passaram pouco mais de duas horas discutindo a relação, sob o testemunho do líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), e do senador Edison Lobão (PMDB-MA), mas o gesto de Lula não foi suficiente para Renan baixar o tom das críticas que tem feito à presidente.

- O que nós (ele e Dilma) temos são diferenças institucionais. Acho que ela precisa rapidamente apresentar ao Brasil um plano de desenvolvimento, um programa de governo - disse Renan pouco depois de se despedir de Lula na porta de sua residência.

No relato de testemunhas da conversa, Lula não ajudou muito Dilma no almoço. O ex-presidente se mostrou impaciente com a "inércia" de sua sucessora para tocar os programas do governo. Ele disse que Dilma precisar sair "da pauta tóxica" - do ajuste fiscal e CPI - e que o Planalto virou "refém de uma agenda amarga". À noite, Lula jantaria com Dilma.

O almoço de Lula e Renan foi combinado no último sábado no casamento do médico Roberto Kalil, em São Paulo. Lula, Renan e Dilma dividiram a mesma mesa na festa. Lula tenta ajudar Dilma a ampliar o apoio no Senado, já que o Planalto vem enfrentando reiteradas traições dos aliados na Câmara. Outra preocupação é a confirmação no Senado da indicação de Luiz Fachin para o Supremo Tribunal Federal.

Lula reclamou das paralisações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do adiamento do programa de concessões, que seria lançado ontem, mas ficou para junho. Sobre a indicação de Fachin, Renan negou ter ouvido qualquer apelo de Lula em favor do jurista:

- Não fez (pedido). O presidente conhece minha posição de garantir absoluta tramitação ao nome do ministro Fachin, indicado pela presidente. Marquei a votação para terça-feira para que todos saibam que é importante ter um quorum significativo. Vou manter a isenção. O presidente do Senado tem apenas um voto. É isso que vai, ao final e ao cabo, valer.

Renan e Delcídio afirmaram que a conversa com Lula envolveu uma agenda no Senado para a votação do projeto de terceirização, que passou na Câmara prevendo a extensão da medida à atividade-fim. Nesse aspecto, Lula, Dilma e Renan concordam. Os três defendem que haja a regulamentação da terceirização, garantindo segurança jurídica aos trabalhadores, mas sem atingir a atividade principal das empresas contratantes. O presidente do Senado também fez críticas ao ajuste fiscal, que também foi abordado no almoço.

- Já falei isso para a presidente e para o ministro (da Fazenda) Joaquim Levy. Acho que o ajuste é mais profundo, tem que ser fiscal, não pode ser um ajuste trabalhista e previdenciário - disse. - Essa conversa com o presidente Lula é importante porque ajuda na definição desse rumo.