Inflação sobe mais que o esperado e leva mercado a prever alta maior de juros

Idiana Tomazelli

Mariana Sallowicz

 

Sob pressão da alta dos preços dos alimentos e da energia elétrica, a inflação acelerou em maio e ficou acima  das expectativas do mercado.Isso levou investidores a apostarem em novas altas da taxa de juros,para tentar conter a escalada dos preços.
Além disso, economistas dizem que ficou mais difícil para o Banco Central (BC) entregar a inflação no centro da meta, de 4,5%, em 2016, como  vem prometendo.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,74%, o maior resultado para o mês desde 2008. A taxa acumulada em 12 meses subiu mais um degrau e,aos 8,47%,está no maior nível desde dezembro de 2003, informou o IBGE. Os economistas projetavam no máximo 0,68%,segundo pesquisa da Agência Estado.

A reação dos investidores foi mudar a aposta no mercado futuro para a definição dos juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em julho.

Até ontem, ainda pairava uma dúvida sobre a continuidade do ritmo de alta nos juros. Agora, mais uma elevação de 0,5 ponto porcentual na Selic, a taxa básica da economia, é dada como certa. Hoje, a taxa é de 13,75% ao ano.

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, vê espaço para duas novas altas,uma de 0,5 ponto porcentual e a seguinte de 0,25 ponto, com a Selic em 14,5% no fim de 2015, com cortes em 2016. “O BC vai fazer esse esforço grande para elevar a taxa rapidamente, mas depois corta também de forma acelerada.” Para ele, o IPCA acumulado  em 12 meses subirá até agosto, quando deve atingir 8,70%.Perfeito prevê o IPCA em 8,30% neste ano, acima do teto da meta do governo, de 6,50%. Para 2016, a estimativa é de 4,9%.

Para o economista da RC Consultores Marcel Caparoz, o IPCA deverá encerrar 2016 em 6,3%. Ele disse queo ajuste econômico entrou nas casas das famílias por meio da redução da demanda por serviços. Mas, continuou,a pressão de uma inflação de 8,3% em 2015 vai jogar por terra a pretensão do BC de trazer a inflação para o centro da meta em 2016. “Esse discurso do BC de que a inflação vai convergir para o centro da meta no ano que vem não é factível.”

A surpresa no IPCA veio de produtos in natura. Só a cebola subiu 35,59% em maio, enquanto o tomate teve alta 21,38%.
Agricultores reclamam da umidade elevada, que disseminou uma praga nas lavouras, cujo custo para combatê-la é elevado
demais para os produtores.

Já a tarifa de luz subiu 2,77% por causa de reajustes em seis regiões e aumento de impostos em quatro. Em alguns locais, a alta ultrapassou 10%, como em Vitória (ES) onde a alíquota de PIS/COFINS subiu 529,25%.