Uma rotina de ‘dólares’, cuecas e roedores 

 

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Desde que a CPI da Petrobras foi instalada na Câmara, em fevereiro, e enviadas as medidas de ajuste fiscal pelo governo, o tom das diferenças partidárias no Congresso subiu e o nível baixou.

Nesta quinta-feira, sindicalistas protestavam pelo Salão Verde com notas de “PTrodolares” enfiadas em cuecas vermelhas, referência ao líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE), que teve um assessor preso com dólares na cueca em 2005. Diante da porta do plenário, os manifestantes jogaram para o ar imitações de notas de dólar, com os rostos da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula e do tesoureiro afastado do PT João Vaccari.

“PT, pode esperar, a tua hora vai chegar”; “Eduardo Cunha manda prender a Dilma e o Lula”; “Ô Dilma, que papelão! Roubar do povo pra pagar o petrolão”, gritavam sindicalistas, acompanhados pelo deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), que até o ano passado presidia a Força Sindical.

Paulinho está por trás de todos os “incêndios” mais recentes na Casa. Apesar de formalmente afastado do sindicato, comanda os manifestantes. Anteontem, na votação do texto-base da MP 665, que dificulta o acesso ao seguro-desemprego, sindicalistas jogaram das galerias cópias de notas imitando dólares, com imagens de Lula e Dilma. Também carregavam cartazes com fotos de deputados ligados ao meio sindical, como Vicentinho (PT-SP), acusando-os de “roubar” benefícios dos trabalhadores.

Em abril, quando Vaccari foi à CPI para explicar doações ao PT feitas por empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato, foram soltos cinco roedores na sessão. O responsável pela confusão foi Márcio de Oliveira, servidor da 2ª vice-presidência da Câmara, que trabalhara no gabinete de Paulinho.

Os mesmos modelos de cartazes com as imagens de Dilma, Lula e de deputados petistas, que circularam anteontem na Câmara na mão de sindicalistas ligados à Força Sindical, apareceram ontem colados em postes e paredes da região central de São Paulo. As imagens trazem o carimbo de “procurados” em alusão à votação da medida que muda as regras de benefícios trabalhistas.

Na montagem com a imagem de Dilma, está escrito que a presidente “roubou meu seguro desemprego, meu abono (PIS/Pasep)”, e “metade das pensões das viúvas”. A recompensa, segundo o cartaz, é “um país melhor”. Os mesmos dizeres aparecem no material com os rostos de Lula, Vicentinho, Paulo Teixeira, Vicente Candido e José Mentor.

O diretório do PT-SP informou que entrará com uma ação judicial pedindo a busca e apreensão dos “cartazes apócrifos e criminosos”.

Quando era oposição, petistas e seus aliados usavam a mesma estratégia para chamar a atenção no Congresso. Em 1998, na votação da reforma da Previdência, manifestantes da CUT, ligada ao PT, invadiram o plenário da Câmara. Chegaram a fazer uma assembleia para decidir se liberavam o plenário para os deputados. Na época, a CUT era presidida por Vicentinho. Na votação de mudanças na CLT, o então deputado petista Paulo Paim rasgou a Constituição e atirou um pedaço na direção de um colega que o chamara de moleque. Paim depois se desculpou.