Valor econômico, v. 16, n. 3754, 13/05/2015. Opinião, p. A12

 

Mercado de trabalho encolhe e já tem impacto na renda

 

Desde o fim de 2014, aproximadamente 1,5 milhão de pessoas engrossaram as filas de trabalhadores em busca de emprego, elevando a 8 milhões o número de brasileiros desempregados no primeiro trimestre. Com isso, a taxa de desemprego apurada pela mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) atingiu 7,9% no primeiro trimestre, a maior em dois anos. O número de desempregados aumentou 23% no primeiro trimestre e 12,6% na comparação com igual período de 2014; e pode crescer mais ao longo do ano com a desaceleração da economia.

A taxa média de desocupação de 7,9% embute algumas realidades mais perversas. Se entre os homens o desemprego é de 6,6%, a taxa chega a 9,6% para as mulheres. A falta de trabalho penaliza os menos instruídos, sendo de 14% entre os que não concluíram o ensino médio. A taxa atinge 17,6% na faixa de jovens de 18 anos a 24 anos, que estão ingressando no mercado de trabalho.

Os números apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) incluem, pela primeira vez, informações sobre trabalho e rendimentos em todas as 27 unidades da federação, expondo também as desigualdades regionais. O Nordeste, que havia liderado a melhoria do mercado de trabalho nos últimos anos, está com uma taxa de desocupação de 9,6%, a maior desde o segundo trimestre de 2013, enquanto a região Sul registra 5,1%, a maior em três anos. Na região Sudeste, a taxa é de 8%, chegando a 8,5% em São Paulo; na Norte é de 7,9%; e na região Centro-Oeste, de 7,3%.

Outras pesquisas já vinham mostrando a deterioração do mercado de trabalho. A Pesquisa Mensal do Emprego (PME), também do IBGE, havia calculado uma taxa de desemprego de 6,2% em março, em seis regiões metropolitanas, em comparação com 5% um ano antes. O rendimento médio real dos trabalhadores caiu 2,8% em março sobre fevereiro e 3% na comparação com março do ano passado. Já o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) contabilizou a redução de 50,4 mil vagas no primeiro trimestre e salários médios menores. Empresas e sindicatos informam a ocorrência de demissões em algumas montadoras e novas rodadas de férias coletivas em outras.

Em relação à remuneração, a Pnad Contínua mostrou que o rendimento médio real habitual ficou estável no primeiro trimestre em R$ 1.840 mensais, em comparação com o mesmo período de 2014, e teve até um pequeno aumento de 0,8% em relação ao quarto trimestre de 2014. O comportamento da renda explica em parte o aumento do desemprego porque sua estagnação, e até queda em algumas regiões, leva pessoas que estavam fora do mercado a voltar a procurar uma ocupação porque a renda familiar não é mais suficiente.

O mercado de trabalho está sendo monitorado de perto pelo Banco Central por causa do debate sobre o impacto do emprego e da renda no controle da inflação, especialmente dos preços dos serviços e de outros bens não comercializáveis (Valor24/4), e das discussões no mercado financeiro a respeito de até que ponto o governo, com baixa popularidade, vai sustentar o combate à inflação caso o desemprego suba muito.

A recente ata do Copom, que saiu no mesmo dia da divulgação da Pnad Contínua, indica que o Banco Central avalia que a "estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho tem arrefecido" e que há um "início de um processo de distensão". Mas a sinalização é de que o ajuste ocorrido ainda é insatisfatório: "Não obstante a concessão de reajustes para o salário mínimo não tão expressivos, bem como a ocorrência de variações reais de salários mais condizentes com as estimativas de ganhos de produtividade do trabalho, o Comitê avalia que a dinâmica salarial ainda permanece originando pressões inflacionárias de custos".

Não fosse pela ata, a previsão de novas elevações dos juros básicos reforça a expectativa de que o desemprego pode se aprofundar mais. Há outros motivos ainda, a começar pela desaceleração da economia, a demora no lançamento do pacote de investimentos em infraestrutura, pelo debate a respeito da necessidade de revisão das regras de desoneração da folha de pagamentos, além do impacto das investigações da Operação Lava-Jato no arrefecimento das atividades da construção e do setor de óleo e gás.