Valor econômico, v. 16, n. 3753, 12/05/2015. Política, p. A6

Youssef tenta envolver Planalto em depoimento

 

Por Fábio Pupo | De Curitiba

 

Geraldo Bubniak/AGB/FolhapressAlberto Youssef: operador reafirmou na CPI diversas acusações que já estavam nos autos da Operação Lava-Jato

O operador de propinas Alberto Youssef afirmou ontem em depoimento aos deputados da CPI da Petrobras, em Curitiba, que o Palácio do Planalto tinha conhecimento dos pagamentos de propina e chegou a abrigar reuniões para discutir a interlocução do então diretor da estatal Paulo Roberto Costa com outros participantes do esquema atualmente investigado. O doleiro foi um dos sete depoentes convocados a falar na sessão, que durou quase dez horas e não teve intervalos. Youssef reafirmou vários trechos já tornados públicos e ainda mencionou um pagamento que teria sido feito a mando do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Youssef narrou que Costa se negou a negociar com a nova liderança do PP após uma briga interna na legenda. "Em determinado momento, ocorreu o racha do partido e isso foi parar no Palácio. O Paulo disse pro Meurer [Nelson Meurer, então novo líder do PP] que o Palácio era quem falava quem seria o seu interlocutor", afirmou. "Que eu me lembro, [o cenário] foi conversado com Ideli Salvatti e Gilberto Carvalho", disse.

Ideli Salvatti é hoje ministra dos Direitos Humanos e foi encarregada da articulação política do governo entre 2011 e 2014. Carvalho, hoje na presidência do Conselho do Serviço Social da Indústria (Sesi), foi secretário geral da presidência no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

Em outro momento de seu depoimento, Youssef afirmou que, para ele, o Planalto não coordenava, mas tinha conhecimento do esquema de pagamento de propinas. Em delação, ele já havia dito que pessoas como a então ministra Dilma Rousseff e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabiam do repasse de valores. "Confirmo e digo que isso é no meu entendimento. Não digo que havia uma coordenação [do Planalto], mas acredito que eles tinham conhecimento, no meu entendimento, do que acontecia", afirmou.

Segundo Youssef, houve um pagamento de aproximadamente R$ 6 milhões feito a mando de Lula a agências de publicidade. Youssef teria participado da operação desse pagamento, mas disse que tomou conhecimento do envolvimento de Lula por comentários de Costa. "Eu ouvi isso do Paulo Roberto Costa e confirmo", afirmou.

Youssef diz que, no começo, Lula ficou contrariado com a indicação de Costa ao cargo de diretor. A nomeação foi um pedido do PP. "Eu sei que demorou um ano para que o Paulo Roberto Costa fosse nomeado. Ouvindo as conversas do deputado falecido José Janene [ex-líder do PP], acredito que ele [Lula] ficou contrariado sim", afirmou, sem saber detalhar o motivo.

Vários questionamentos feitos durante a sessão já tinham sido respondidos por Youssef nos autos. Além dele, decidiu responder às perguntas Iara Galdino, apontada como operadora de propinas. Ela alegou que foi condenada a 12 anos na Lava-Jato por causa de uma delação premiada "mentirosa" de Lucas Pacce Júnior, também apontado como operador do esquema.

A CPI tentou ouvir outros cinco réus, que decidiram ficar em silêncio. Foram eles Mário Góes (apontado como operador), Nestor Cerveró (ex-diretor da área Internacional da Petrobras), Fernando Soares (apontado como operador), Guilherme Esteves (apontado como operador) e Adir Assad (apontado como operador).

Apesar de ficar em silêncio durante o depoimento, Cerveró reclamou em comentários iniciais que está sendo "execrado" por voltar ao Brasil para se defender das acusações. "Eu estava de férias na Inglaterra. Fui preso e execrado porque voltei ao Brasil para enfrentar as acusações existentes, confiando na Justiça brasileira", afirmou.

Para hoje, estão previstos os depoimentos dos supostos operadores Nelma Kodama, Rene Luiz Pereira, Carlos Habib Chater e os ex-deputados João Correia Argolo, André Vargas e Pedro Correa.

Os depoimentos ocorrem no auditório da sede da Justiça Federal, em Curitiba. Os depoentes estão presos na carceragem da Polícia Federal, na capital paranaense, e no Complexo Médico Penal, na região metropolitana. Para vir à Justiça, eles ficam sob escolta de policiais federais.