30 jun 2015
RAMONA ORDOÑEZ
BRUNO ROSA
O novo plano de negócios da Petrobras para o período de 2015 a 2019 prevê o menor nível de investimentos da estatal desde 2008. Afetada pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, e pelo recuo do preço do petróleo no mercado internacional, a Petrobras pretende investir US$ 130,3 bilhões nos próximos cinco anos, número que representa queda de 40,9% em relação ao plano de 2014-2018 (de US$ 220,6 bilhões) eé o menor desde a previsão para o período de 2008 a 2012, que era de US$ 112,4 bilhões. Ou seja, haverá um corte de US$ 90,3 bilhões. Para reduzir o endividamento, a estatal buscou um “plano realista”, de acordo com Aldemir Bendine, presidente da Petrobras. Por isso, a companhia decidiu postegar a construção de oito plataformas, resultando numa queda de 33,3% em sua meta de produção no país para 2020: passou de 4,2 milhões para 2,8 milhões de barris diários de petróleo e gás.
Apesar dos cortes, haverá pequena ampliação na capacidade de refino. Para Bendine e Jorge Celestino, diretor de Abastecimento, a Petrobras pretende retomar as obras da segunda unidade de refino da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, em 2017, e iniciar sua produção no fim de 2018. Em relação ao Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, a Petrobras vai concluir até outubro de 2017 ao menos a central de utilidades (geração de energia, água etc.) para permitir o início de operação da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN). Porém, não há data para concluir as obras da primeira unidade de refino, na qual a estatal buscará parceiros.
— É fundamental a ampliação da nossa capacidade de refino. Vamos concluir o segundo trem (unidade) do Rnest com recursos do próprio caixa da companhia. E, em relação ao Comperj, temos uma unidade a que vamos dar sequência com recursos próprios e vamos buscar soluções complementares. No Comperj, vamos buscar alternativa (de parceiros) para conclusão do primeiro trem — disse Bendine, em coletiva de imprensa na sede da estatal, no Centro do Rio de Janeiro.
SEM LEILÃO DE PRÉ-SAL À VISTA
A diretora de Exploração e Produção, Solange Guedes, destacou que os investimentos para o pré-sal foram mantidos. Ela citou que todas as cinco plataformas a serem contratadas até 2020 serão destinadas à produção de petróleo do pré-sal.
Além do menor nível de investimentos, a companhia também quer aumentar o caixa com maior venda de ativos. Entre 2015 e 2018, a estatal quer arrecadar US$ 57,7 bilhões. Desse total, US$ 15,1 bilhões vão ocorrer até o ano que vem, com destaque para a área de Gás e Energia, com cerca de US$ 6 bilhões, seguido de Exploração e Produção e Abastecimento, com US$ 3 bilhões cada.
— Estamos com esse desafio. Mas estou confiante porque temos ótimos ativos. Fizemos um plano robusto e bastante realista diante da nova realidade pela qual o setor de óleo e gás passa. Todas as majors têm adotado essa mesma estratégia, com redução em seu plano de investimento e um equilíbrio da sua dívida. Nós temos uma situação um pouco inferiorizada em relação às majors porque elas fizeram o seu dever de casa com um pouco mais de antecedência. Nós estamos partindo para esse processo só agora. E é um desafio grande, mas realista. Estamos trabalhando na geração de caixa, procurar otimizar a rentabilidade. A curva de produção reduziu de forma expressiva diante desse novo cenário. A empresa não vai entrar em marcha à ré, não vai parar — disse Bendine.
Especialistas do setor classificaram como positiva a redução nos investimentos até 2019 para reduzir o nível de endividamento da estatal. Porém, alertaram para o fato de que a Petrobras terá dificuldade em conseguir vender todos os ativos no valor que planeja. Segundo Haroldo Lima, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o corte nos investimentos indica um esforço da diretoria para estabelecer um patamar sustentável em decorrência da situação atual.
— É um cenário de aterrissagem moderada. Esse menor patamar de investimento aumenta a possibilidade de a companhia se recuperar — disse Lima.
Marco Tavares, da consultoria Gas Energy, vê com preocupação a redução nas metas de produção da companhia. O analista de investimento Flavio Conde destaca ainda que a freada é a única solução para reduzir o endividamento. Segundo a Petrobras, a meta é que a relação entre a dívida líquida e a geração de caixa operacional caia de 3,33 vezes, em 2015, para uma relação de 2,03 vezes em 2020.
— Como a empresa não consegue gerar mais receita a curto prazo, em razão dos preços dos combustíveis, a única solução é a venda de ativos, que também não é algo fácil — disse Conde.
Gilberto Braga, professor do IbmecRJ, lembra que o novo Plano da companhia é reflexo da queda no preço do petróleo e das dificuldades internas em razão dos casos de corrupção:
— A empresa vai ter que negociar muito para chegar ao patamar desejado até 2018.
Bendine garantiu que, apesar das dificuldades atuais, não haverá emissão de novas ações da companhia no mercado dentro do plano 2015 a 2019. Além disso, ele ressaltou que não vê um novo leilão de pré-sal no horizonte:
— Não há leilão de pré-sal no curto prazo nem a médio prazo até porque há uma discussão de se revisitar o modelo (de partilha, no qual a Petrobras é operadora única e tem que ter 30% de participação).
CONSELHO PEDIU AJUSTE EM METAS
Bendine, porém, não descartou participar de novos leilões, como o da décima terceira rodada, previsto para outubro deste ano.
— Vamos analisar todo e qualquer leilão. Temos uma margem de financiabilidade, o que temos que ver é o custobenefício. Hoje, nosso nível de endividamento não prevê esse investimento adicional — destacou ele.
No plano de negócios, a Petrobras prevê o barril de petróleo em US$ 60, neste ano, e em US$ 70 de 2016 a 2019. A companhia espera um dólar mais valorizado, de R$ 3,10 a R$ 3,56 de 2015 a 2020. O plano, que deveria ter sido anunciado na última sexta-feira, só foi conhecido ontem porque o Conselho de Administração solicitou ajustes nas metas de produção de petróleo propostas pela companhia.
— Eles (conselheiros) querem que o plano transmita confiança, e diante dos problemas do setor naval, com dificuldades na entrega de plataformas, o plano teve que ser colocado em padrões realistas em termos da produção — disse uma fonte.
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-NOVA YORK- Em conversa com jornalistas após fazer o discurso de encerramento de um seminário sobre investimento em infraestrutura no Brasil, que reuniu cerca de 470 empresários e investidores em Nova York, a presidente Dilma Rousseff negou que o corte no plano de investimentos da Petrobras afete o desenvolvimento do pré-sal. Dilma argumentou que a empresa é uma “boa parceira”, o que atrai investidores.
— Quando os preços do petróleo estão mais baixos, todo investidor ou empresa que investe procura reduzir o risco, selecionando os melhores projetos e parceiros que têm conhecimento do que fazem — disse.
Segundo Dilma, a empresa segue atraente porque conhece o pré-sal:
– O investidor diminui riscos ao aplicar onde você sabe que tem petróleo de qualidade e onde tem regras claras, se respeita contratos.
Mais cedo, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, se disse confiante:
— Tenho certeza de que a Petrobras está se recuperando porque a produção de petróleo tem subido. (Isabel De Luca e Carolina Matzenbacher)