Setor elétrico ajuda Petrobras

Valor econômico, v. 16, n. 3757, 16/05/2015. Empresas, p. B2

 André Ramalho

Rodrigo Polito

 Camila Maia

 Thais Carrança

 

A Petrobras surpreendeu o mercado na sexta-feira ao anunciar lucro líquido de R$ 5,33 bilhões no primeiro trimestre, acima da média esperada pelos analistas consultados pelo Valor.

O resultado ficou 1% abaixo do lucro do mesmo período de 2013.

Quatro bancos estimavam que a empresa fecharia com lucro o trimestre. Na média, o resultado esperado era de R$ 3,9 bilhões. Outras duas instituições previam prejuízo. Se consideradas na amostra, o lucro médio cai para R$ 2,72 bilhões.

A surpresa ficou por conta da reversão de uma provisão de R$ 1,3 bilhão em recebíveis do setor elétrico, que teve efeito positivo de R$ 855 milhões no lucro apurado de janeiro a março.

A Petrobras havia feito uma reserva de R$ 4,5 bilhões em créditos de liquidação duvidosa em 2014, referentes a valores a receber que incluiam a dívida das empresas do setor elétrico no Norte do país, devido ao fornecimento de combustíveis e outros produtos para geração termelétrica.

Segundo a companhia, com a implementação dos novos reajustes tarifários, a expectativa passou a ser de um "maior equilibrio financeiro do setor".

Com isso, deve haver a redução da inadimplência relativa ao fornecimento de combustíveis, "provavelmente a partir do segundo trimestre", permitindo a reversão de parte da provisão.

Em coletiva de imprensa concedida após a publicação dos resultados, o diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, afirmou que a estatal "agregou garantias à uma negociação que já havia sido feita", criando a possibilidade de fazer a reversão. A negociação foi feita na celebração do acordo de confissão de dívida.

A receita de vendas da estatal somou R$ 74,35 bilhões, uma queda de 9% na comparação com a receita de R$ 81,5 bilhões obtida entre janeiro e março do ano passado.

No entanto, a empresa conseguiu reduzir os custos em quase 17%, o que aumentou a chamada margem bruta (o que sobra da receita depois de descontados os custos) de 23,5% para 30,1%, o melhor resultado desde o primeiro trimestre de 2012. O item de maior peso na lista de custos é de matéria-prima e produtos para revenda, que caiu 32%, de R$ 36,6 bilhões para cerca de R$ 25 bilhões.

O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado cresceu 50%, para R$ 21,518 bilhões.A média das previsões dos analistas indicava uma receita de R$ 77,73 bilhões e um Ebitda de R$ 17,64 bilhões.

 

 

Em comentário que acompanha os resultados, Aldemir Bendine, presidente, afirma que a melhora no Ebitda é explicada pela maior produção de petróleo, pelas maiores margens nas vendas de combustíveis no Brasil e pelos menores gastos com participações governamentais e importações.

A queda do lucro líquido, por sua vez, refletiu a desvalorização cambial registrada no período.

A alta de 20% do dólar no trimestre não atingiu só o resultado. Um indicador muito sensível para os planos da empresa, o endividamento, também acusou o golpe. A dívida bruta no fim de março chegou a R$ 400,64 bilhões, alta de quase R$ 50 bilhões ante os R$ 351,03 bilhões de dezembro.

Descontado o caixa de R$ 68 bilhões, a dívida líquida ficou em R$ 332,45 bilhões, equivalente a 5,01 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação (Ebitda) ajustado acumulado nos últimos 12 meses, de R$ 66,31 bilhões.

A medida de endividamento ficou no dobro da meta de longo prazo estabelecida pelo conselho para esse indicador, de 2,5 vezes.

Em uma maneira própria de calcular essa relação - prática que tem sido usada de forma repetida nos últimos anos -, a Petrobras informou no relatório de resultados que a razão entre dívida líquida e Ebitda ficou em 3,86 vezes.

A diferença em relação ao índice de 5,01 vezes, usado amplamente pelos analistas de mercado e pelas principais agências de classificação de risco, explica-se pelo fato de a estatal usar o Ebitda anualizado para fazer a conta.

Em vez de usar o Ebitda acumulado em 12 meses, considera que o resultado do primeiro trimestre se repetirá nos três trimestres seguintes. O conceito, contudo, ignora efeitos sazonais no resultado nas parciais trimestrais.

Nas notas do balanço, a empresa informa que considera utilizar "fontes tradicionais de financiamento" - como bancos, agências de crédito à exportação e mercado de capitais - para captar os recursos de que necessita em 2015.

Mas o impacto do dólar poderia ter sido mais dramático caso a empresa fizesse a chamada contabilidade de hedge. O resultado abrangente foi um prejuízo R$ 5,09 bilhões no primeiro trimestre do ano, contra o resultado positivo de R$ 6,6 bilhões apurado no mesmo intervalo de 2014.

Essa medida de lucro, uma novidade do padrão contábil IFRS, considera não apenas o lucro líquido que aparece na demonstração de resultados (DRE) do período, mas também outros efeitos que as normas contábeis determinam ou permitem que sejam registrados diretamente no patrimônio líquido.

Entre esses lançamentos está o efeito da variação cambial, com impacto negativo de R$ 28,3 bilhões no patrimônio líquido.