Delator aponta para eleição de Lula e Dilma

27/06/2015
EDUARDO MILITãO, PAULO DE TARSO LYRA, JULIA CHAIB E ANDRÉ SHALDERS
 
A delação premiada do presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), joga de vez o escândalo da Petrobras no Palácio do Planalto. Ao longo dos 27 depoimentos prestados ao Ministério Público Federal (MPF) na sede do Ministério Público Militar, para não chamar a atenção da imprensa, ele confirmou o pagamento de R$ 62 milhões em doações para políticos de diversas legendas.

Desse total, R$ 7,5 milhões destinaram-se à campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, e R$ 2,4 milhões para a campanha de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. Lula e Dilma aparecem ao lado de 16 políticos. Todos receberam recursos que, segundo o empreiteiro, são do esquema que sangrou os cofres da Petrobras.

Parte da lista de Pessoa, divulgada na noite de ontem pela revista Veja, mostra doações oficiais registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), segundo levantou o Correio. Porém, a tese dos investigadores da Lava-Jato, embasada em depoimentos e transferências bancárias, é que doações no “caixa 1” foram usadas para mascarar pagamentos de propina das empreiteiras do esquema.

Além de Lula e Dilma — cuja doação já havia sido divulgada em maio pelo próprio Pessoa —, outros petistas surgem na lista. O empreiteiro informou um pagamento de R$ 250 mil para a campanha do atual chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, quando ele disputava a eleição para o governo de São Paulo. Tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, teria recebido os recursos destinados à disputa eleitoral. Também receberam doações da UTC o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto (R$ 15 milhões); o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (R$ 3,2 milhões); o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (R$ 2,6 milhões); e o secretário municipal de Saúde de São Paulo, José de Fillipi (R$ 750 mil).

Collor
Outros políticos aparecem na lista. Quem mais recebeu dinheiro da empresa comandada por Pessoa foi o senador Fernando Collor (PTB-AL), com doações totais de R$ 20 milhões. Na relação, há ainda aqueles que já haviam sido citados em delações anteriores, como os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), com R$ 2 milhões em doações; Edison Lobão (PMDB-MA), com R$ 1 milhão; Benedito de Lira (PP-AL), com R$ 400 mil; e os deputados Arthur Lira (PP-AL), com R$ 1 milhão e Dudu da Fonte (PP-PE), com R$ 300 mil. A citação ao ex-senador Gim Argello (PTB-DF) também já havia sido feita como destinatário de uma doação de R$ 5 milhões. Há também nomes novos, como o do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), com R$ 200 mil em doações, e o do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), com R$ 150 mil.

Uma agenda até então desconhecida do empreiteiro, planilhas e demais documentos de Pessoa — que, segundo as investigações, era o coordenador do cartel de construtoras que lesava a Petrobras — devem atormentar ainda mais o meio político. Os documentos reforçam as acusações de que as empreiteiras combinavam licitações, embutiam de 1% a 3% nos preços e pagavam propinas a políticos, funcionários da Petrobras e operadores. Só para o caixa 2 do PT, foram R$ 3,6 milhões. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, os pagamentos feitos pela UTC Engenharia ao PT sob forma de caixa dois incluíram repasses em 2010, 2011, 2012 e 2014 nas mãos de Filippi — totalizando R$ 750 mil. Para Vaccari, foram R$ 2,9 milhões, divididos em parcelas em 2011, 2012 e 2013.

Reunião de emergência
A homologação da delação de Pessoa já preocupava o Palácio do Planalto desde a quinta-feira, quando as primeiras informações de que o STF acataria o depoimento do presidente da UTC circularam em Brasília. Dilma reuniu-se emergencialmente com Edinho Silva e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no Palácio do Planalto. Ontem, mais uma vez, o grupo foi acionado, desta vez, no Palácio da Alvorada, com as presenças de Aloizio Mercadante e do assessor especial da presidência, Giles Azevedo.

Por meio de sua assessoria, Mercadante disse desconhecer a delação premiada de Pessoa, mas afirmou que a “UTC, por ocasião da campanha ao governo do estado de São Paulo, em 2010, fez uma única contribuição, devidamente contabilizada e declarada à Justiça Eleitoral, no valor de R$ 250 mil”. E que a empresa Constran Construções, que pertence ao mesmo grupo, “fez uma contribuição, também devidamente contabilizada e declarada à Justiça Eleitoral, no valor de R$ 250 mil”.

Já Edinho Silva confirmou que esteve com o empresário Ricardo Pessoa por três vezes para tratar de doações de campanha. A primeira, no comitê da campanha em Brasília. Após esse contato, “o empresário organizou o fluxo de doações em três parcelas, que totalizaram R$ 7,5 milhões. Edinho garantiu jamais ter tratado de assuntos relacionados a qualquer empresa ou órgão público com o empresário, e lembrou que as contas da campanha presidencial de Dilma foram auditadas e aprovadas por unanimidade pelo TSE.

O senador Aloysio Nunes confirmou ter recebido, de maneira legal, uma doação de R$ 200 mil da Constram para a campanha de 2010 e nega que esse recurso tenha qualquer vinculação com o esquema do petrolão. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) afirmou que Ricardo Pessoa doou R$ 150 mil para o PSB de Minas Gerais, acertados em uma reunião na sede da UTC, em 2014, em São Paulo, e que esses recursos foram distribuídos por ele, na qualidade de presidente do PSB mineiro, a diversas candidaturas estaduais. O deputado Artur Lira (PP-AL) negou ter recebido R$ 1 milhão em doações, e afirma ser legal e declarada ao TSE a doação de R$ 400 mil ao seu pai, o senador Benedito de Lira (PP-AL). Os demais citados não foram localizados para comentar as denúncias.


A planilha do empreiteiro
Confira a relação dos políticos que Ricardo Pessoa acusa de terem recebido dinheiro

Favorecido Valor
Campanha de Dilma (2014) R$ 7,5 milhões*
Campanha de Lula (2006) R$ 2,4 milhões

Senadores
Fernando Collor (PTB-AL) R$ 20 milhões
Gim Argello (PTB-DF) R$ 5 milhões
Ciro Nogueira (PP-PI) R$ 2 milhões
Edison Lobão (PMDB-MA) R$1 milhão
Benedito de Lira (PP-AL) R$ 400 mil
Aloysio Nunes (PSDB-SP) R$ 200mil?

Ministros
Aloizio Mercadante (PT), Casa Civil R$ 250mil
Edinho Silva (PT), Secretaria
de Comunicação Social*

Deputados federais
Arthur Lira (PP-AL) R$ 1 milhão
Dudu da Fonte (PP-PE) R$ 300 mil
Júlio Delgado (PSB-MG) R$ 150mil?

Outros
João Vaccari Neto,
ex-tesoureiro do PT R$ 15 milhões
José Dirceu, ex-ministro R$ 3,2 milhões
Fernando Haddad (PT),
prefeito de São Paulo R$ 2,6 milhões
Sergio Machado, ex-presidente
da Transpetro R$ 1 milhão
José de Fillipi (PT), secretário
municipal de Saúde de
São Paulo R$ 750mil

*Movimentou os recursos por ser tesoureiro da campanha de Dilma em 2014


Petista se vê alvo de “preconceito de gênero”
A presidente Dilma Rousseff disse, em entrevista ao jornal norte-americano The Washington Post, que é alvo de “preconceito de gênero”. Para ela, a fama de durona tem origem sexista. A petista deu a declaração após ser questionada sobre o estilo centralizador. “Você já ouviu falar que um presidente homem põe o dedo em tudo? Eu não”, disse. “Acredito que há um pouco de viés sexista ou viés de gênero. Eu sou descrita como uma mulher dura e forte que põe o nariz em tudo o que não deveria. E eu estou (me dizem) cercada por homens muito bonitos”, completou. Dilma embarca hoje para os Estados Unidos. Na entrevista, publicada na quinta-feira à noite no site do periódico norte-americano, Dilma falou sobre ajuste fiscal e disse que o governo “esperou sete anos” para tomar as medidas de agora.