Valor econômico, v. 16, n. 3787, 05/06/2015. Brasil, p. A3

 

Questões tributárias e PIB fraco pressionam ações de bancos

 

Por Fabiana Lopes e Aline Cury Zampieri | De São Paulo

 

Leo Pinheiro/ValorBorges, da Ativa: 2013 e 2014 foram atípicos e resiliência do setor está ameaçada

Depois de anos na preferência de investidores e analistas, as ações de bancos brasileiros despencaram em maio e há indicações de que a cautela com o setor será mantida. Os papéis de Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil caíram mais de 10%, enquanto as units do Santander recuaram 2%. No mesmo período, o Ibovespa caiu 6,17%.

Apesar das pressões que ainda se mantêm, os especialistas no mercado ponderam que os bancos se mostram, no geral, robustos e a baixa recente pode gerar algumas oportunidades de compras de ações.

No mês passado, especificamente, as ações reagiram à elevação da alíquota da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) das instituições financeiras, em meio ao ajuste das contas públicas promovido pelo governo. A possibilidade de fim da isenção fiscal sobre a parcela de lucro distribuído na forma de juros sobre capital próprio (JCP) também entrou na conta e, segundo analistas, seguirá gerando pressão sobre os papéis. Além disso, há a preocupação de que a desaceleração econômica tenha efeitos negativos, com deterioração dos ativos e aumento da inadimplência.

A analista da Concórdia Karina Sanches lembra que, no caso da CSLL, o mercado já esperava um aumento de 2 pontos percentuais sobre a alíquota de 15%, mas a correção das ações se intensificou quando a elevação se confirmou em 5 pontos percentuais, para 20%. "Com isso, esperamos um impacto negativo entre 7% e 8% no lucro líquido dos bancos", comentou.

Para o sócio da Canepa Gestora de Recursos, Eduardo Roche, além do impacto da CSLL, algumas "sombras" ainda pairam sobre o setor financeiro e podem pressionar as ações. No curto prazo, diz, uma dessas pressões é a discussão sobre JCP.

O cenário de preocupação com o setor chega depois de um período em que os bancos se mantiveram firmes. "Os anos de 2013 e 2014 foram atípicos com aumento de spreads, manutenção de inadimplência e despesas de provisão que não cresceram", lembra o analista da Ativa Lenon Borges. Com isso, os retornos foram favoráveis e as ações do setor figuravam entre as preferidas.

 

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A continuidade dessa resiliência, no entanto, foi ameaçada pela piora do cenário econômico e pela perspectiva de aumento do desemprego. Nesse contexto, é unânime entre analistas que acompanham o setor que deve haver um movimento - mesmo que não muito forte - de deterioração dos ativos. "Todo mundo já falava de desaceleração de crédito e aumento de inadimplência, e isso aconteceu até mais rápido que o esperado. Esse também foi um dos motivos que levaram a uma forte correção (das ações)", avalia o analista do BB Investimentos, Carlos Daltozo.

Em relatório divulgado no fim de maio, o UBS avalia que a qualidade dos ativos permanece como a questão central na cabeça dos investidores. Riscos de provisionamento subiram com a piora do quadro macroeconômico e as implicações da Operação Lava-Jato. O UBS espera, por exemplo, que o crescimento agregado de crédito desacelere para 8,2% em 2015, ante 9,2% em 2014, o menor nível desde 2003. Ainda de acordo com o UBS, a deterioração do cenário macroeconômico provocou uma elevação na projeção de provisões para empréstimos.

Roche, da Canepa, afirma que, apesar da correção das ações e das incertezas, os balanços dos bancos ainda são saudáveis. "Estamos muito distantes do cenário de três anos atrás, quando a inadimplência era bem maior", diz. Ele comenta que era esperado um certo aumento na inadimplência, que já se mostrou nos dados de crédito referentes a abril e divulgados recentemente pelo Banco Central (BC). "Mas os spreads mais que compensaram esse aumento."

A inadimplência média nas operações de crédito com recursos livres aumentou 0,2 ponto percentual entre março e abril, para 4,6%.

Se de um lado as pressões não se esgotaram, do outro, a correção do último mês trouxe oportunidades para quem quer começar a investir no segmento. "Essa forte pressão vendedora gerou oportunidades de entrada. A correção foi até um pouco exagerada", opina Daltozo, do BB.

O estrategista da XP Investimentos, Celson Plácido, também acredita que o setor está atrativo e crê que as ações devem apresentar desempenho superior ao do Ibovespa. Segundo ele, o índice é negociado a 12,5 vezes a relação preço/lucro projetada em 12 meses e ações como as do Itaú, por exemplo, valem atualmente 8,4 vezes. Para Plácido, boa parte dos riscos para o setor já está no preço dos papéis e, até agora, o aumento de inadimplência tem sido compensado por margens maiores.

Na quarta-feira antes do feriado, as ações do Itaú caíram 2,52% (cotadas a R$ 33,96), as do Bradesco cederam 2,28% (a R$ 28,20) e as do BB recuaram 3,62% (a R$ 22,60). As units do Santander tiveram baixa de 1,91% (a R$ 15,86), enquanto o Ibovespa exibiu perda de 1,32%, aos 53.522 pontos.