Inflação é a maior desde 1996

09/07/2015 
Rosana Hessel

 

Keila Venera gastava R$ 100 por semana para fazer 25 jogos. Hoje, com o mesmo dinheiro, não faz 20 (Antonio Cunha/CB/D.A Press)

Keila Venera gastava R$ 100 por semana para fazer 25 jogos. Hoje, com o mesmo dinheiro, não faz 20



A inflação de junho fechou no maior patamar para o mês desde 1996. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,79%, ante o 0,74% de maio. No acumulado no ano, a expansão foi de 6,17%, próximo ao teto da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5% anuais. Em 12 meses até o mês passado, o salto foi de 8,89%, conforme dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O comportamento resistente da carestia reforça a aposta dos especialistas de que o Banco Central será obrigado a manter a elevação dos juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 28 e 29 de julho. 

De acordo com dados do IBGE, as principais altas no mês passado foram jogos de azar, de 30,80%, passagens aéreas, de 29,19% e taxa de água e esgoto, de 4,95%. Entre os alimentos, a vilã continuou sendo a cebola, que encareceu 23,78% no mês e 148,13% no ano. Essa forte alta é reflexo de uma oferta menor do produto, que vem tendo que ser importado, e, por conta da alta do dólar, o impacto no preço ao consumidor acabou sendo bem maior, explicou a gerente de Pesquisa do IPCA, Irene Machado. 

O aposentado Odilon Barbosa, 73 anos, admite que não tem como cortar a cebola da lista de compras e o jeito é diminuir a quantidade. Aumentou o preço de muitas verduras e de legumes. Só nessa área, acredito que meu gasto semanal tenha aumentado pelo menos 35%, disse. A cabeleireira Keila Venera, 26 anos, se considera uma viciada em loteria e conta que está ficando inviável fazer a mesma quantidade de jogos que fazia anteriormente. Os R$ 100 semanais com que fazia 25 cartelas, hoje não são mais suficientes para 20. Percebi na hora quando aumentou, e acho que se subir de novo, eu vou cogitar parar de jogar, anunciou. 

Sem refresco 
O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, destaca que, apesar da desaceleração dos preços do grupo de alimentos e bebidas, cuja alta passou de 1,37%, em maio, para 0,63%, em junho, não há expectativa de uma freada na carestia a curto prazo. Os produtos alimentícios deram uma recuada marginal, mas acho que isso não alivia o quadro inflacionário, avaliou. 

Ele demonstra preocupação em relação à forte alta do custo de vida. Não vejo, a curto prazo, sinais de arrefecimento da inflação. É possível variações mensais menores, uma vez que o grosso dos reajustes nos preços administrados já ocorreu, alertou. Ele lembrou que o índice de disseminação do IPCA continua elevado, em 67,8%, o que sinaliza que a carestia não deve perder força tão cedo, e, por isso, ele mantém a previsão de alta de mais 0,5 na taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Copom. Para o ano, a expectativa do economista para a Selic está em linha com a do mercado, que deverá encerrar dezembro a 14,5% ao ano. 

Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, também acredita que essa alta de 0,79% em junho não deverá alterar os rumos da decisão do Copom deste mês, e a Selic deverá subir de 13,75% para 14,25%. O resultado de junho, segundo ele, ficou um pouco abaixo da mediana das expectativas do mercado, de 0,82%.