Muito para poucos

 

A decisão do BNDES de abrir os dados de suas operações reforça uma crítica recorrente ao banco: ele é focado em grandes empresas e operações. Entre 2012 e 2015, 1.160 pessoas jurídicas ( entre empresas, governos e entidades) fecharam operações diretas e indiretas não automáticas, ou seja, que passam pelo crivo do banco estatal de fomento. Mas apenas 57 empresas, menos de 5% do total, abocanharam 52,5% do montante contratado no período. Ou seja, este pequeno grupo ficou com R$ 168,775 bilhões, de um total de R$ 321,345 bilhões.

O levantamento foi feito a partir de compilação realizada pelo Núcleo de Jornalismo de Dados do GLOBO. Entre as 57 empresas, há algumas de um mesmo grupo econômico, que obtiveram, no período, ao menos R$ 1 bilhão. Nenhuma outra categoria chega perto da soma dos contratos deste grupo. Nem mesmo governos, que contratam o financiamento de grandes obras de infraestrutura e saneamento, por exemplo. Entre 2012 e 2015, 66 entes públicos, como prefeituras, ministérios e governos estaduais obtiveram do banco R$ 52,728 bilhões, ou 16,4% do total. Outras 1.037 empresas e instituições dividiram os 31,1% restantes, ou R$ 99,842 bilhões.

— Isso leva a um questionamento: estas grandes empresas precisam de um órgão como o BNDES? Em um país como o nosso, é justo dar crédito facilitado e subsidiado a quem pode operar em Bolsa, captar no mercado externo? Acredito que o banco deveria ser focado em micro, pequenas e médias empresas, em inovação e em economia criativa. Ele deveria induzir a nossa economia ao futuro — diz o economista Joaquim Elói Cirne de Toledo.

BNDES: CRÉDITO DE ACORDO COM O PORTE DA EMPRESA

Para Reinaldo Gonçalves, professor de Economia Internacional da UFRJ, a concentração é esperada por se tratar de grandes grupos, o que reforça o desenho da estrutura do sistema capitalista:

— O BNDES não é um banco de varejo. É natural que conceda crédito a grandes empresas. O lado ruim disso é que esse movimento reforça a concentração de poder econômico e político no país.

Em nota, o BNDES disse que “o valor dos financiamentos é proporcional ao porte das empresas e ao tamanho dos projetos de investimento. Aí estão investimentos de infraestrutura, logística, energia, mobilidade urbana, petróleo e gás, mineração, telecomunicações etc”. O banco informou que os desembolsos a micro, pequenas e médias empresas somaram R$ 60 bilhões ( dos quais R$ 11,5 bilhões via Cartão BNDES) em 2014, o que representou 32% do total desembolsado no ano ( R$ 187 bilhões). Em número de operações, as micro, pequenas e médias responderam por 96%. Foram 1.100 operações de um total de 1.130 em 2014. O BNDES considera microempresas aquelas que têm receita operacional brutal anual de até R$ 2,4 milhões. As pequenas são as que têm receita entre R$ 2,4 milhões e R$ 16 milhões. As médias têm faturamento entre R$ 16 milhões e R$ 90 milhões.