Título: PR fora de sintonia com o Planalto
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 01/09/2011, Política, p. 3

O presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), avisou ontem ao secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que o partido não sentará para conversar com o governo enquanto não forem concluídas as investigações sobre o escândalo no Ministério dos Transportes. Há duas semanas, Ideli chamou o líder do partido na Câmara, Lincoln Portela (MG), e sinalizou que o Planalto quer se reaproximar do PR. Nascimento disse que, agora, isso é impossível. "Estamos pensando na biografia do PR. Quem tiver feito algo errado, será punido. Vale para qualquer um, até para mim. Mas eles têm de apontar quem errou", disse Nascimento ao Correio.

O senador amazonense disse que não estipulou um prazo para que o governo apresente as conclusões das investigações em curso na Controladoria-Geral da União (CGU) e na Polícia Federal. "Não colocamos uma faca no pescoço do governo. Mas ano que vem teremos eleições municipais e esse assunto precisa ser esclarecido", disse ele. Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Luciano Castro (PR-RR) acrescentou: "Precisamos saber quem é ficha suja e quem é ficha limpa em nosso partido. Pela legislação eleitoral, quem for ficha suja não poderá disputar", brincou Castro.

Nascimento mantém a decisão de não apoiar a assinatura da CPI da Corrupção. Reconhece que, se quisesse tomar uma atitude de revanchismo, teria feito isso no dia em que fez o primeiro discurso no Senado. Naquele dia, ao dizer que o "PR não era lixo para ser varrido para baixo do tapete", a oposição ouriçou-se e chegou as conseguir as 27 assinaturas necessária para a instalação da CPI. O Planalto agiu rápido para conter a ofensiva e conseguiu retirar duas assinaturas.

No PR, contudo, a decisão passada já não é unânime. O líder do partido na Câmara, Lincoln Portela (MG), assinou a proposta da CPI. "Não dei qualquer orientação partidária, foi uma decisão pessoal minha", completou Portela. Mas correligionários do deputado mineiro admitem que, caso o governo demore em apresentar as conclusões dos inquéritos, o partido poderá apoiar as investigações cobradas pela oposição.

O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, reafirmou a Nascimento que o PR é importante e que o governo gostaria de tê-lo novamente na base de sustentação no Congresso. E que, do ponto de vista do Planalto, não há qualquer "criminalização do PR". Nascimento discorda: "Fizeram todo aquele barulho conosco sem provas. E nos outros casos não acontece nada".

Motim no PMDB do Rio A bancada fluminense do PMDB decidiu entregar todos os cargos no governo federal. Os oito deputados federais assinaram um documento ontem com outros quatro pontos, para demonstrar o descontentamento com o restante da base aliada. Além de abrir mão dos postos, ele reiteraram apoio à presidente Dilma Rousseff e à candidatura de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) à Presidência da Câmara, se posicionaram contra a prorrogação da DRU e pediram a abertura de ações fiscalizadoras de gastos públicos ¿ o que, na prática, significa a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). O princípio de "motim" foi liderado pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).