MPF: propina de R$ 100 mil foi roubada no Centro do Rio

 

Um roubo de R$ 100 mil no centro do Rio está entre as provas usadas pelo Ministério Público Federal para denunciar o ex- diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e mais quatro pessoas acusadas de favorecer a contratação de uma empresa italiana pela Petrobras.

O dinheiro estaria sendo levado para Duque na sede da Petrobras por João Bernardi, que é apontado como controlador das contas da off- shore Hayley S/ A na Suíça, com o auxílio da advogada Christina Jorge e Antônio Briganti.

“Além disso, os denunciados participaram de depósitos de US$ 1 milhão em favor de Renato Duque nas contas da Hayley S/ A na Suíça, controlada por João Bernardi”, segundo o procurador da República Diogo Castor de Mattos.

O MPF reforçou ontem também a existência de um esquema de lavagem de dinheiro que envolve a utilização de obras de arte para pagar propina.

Duque é acusado de receber 13 obras de arte no valor de R$ 577,4 mil a título de “vantagem indevida” de Bernardi. A compra das obras foi registrada em nome dele e da Hayley do Brasil, mas quem dispunha de fato das obras de arte era o ex- diretor da Petrobras, segundo Mattos.

De acordo com ele, “a lavagem de dinheiro por intermédio de aquisição de obras de arte é uma forma inovadora de ocultar o real proprietário dos valores provenientes de crimes”. A defesa de Duque considerou a denúncia improcedente e baseada em delações que não se comprovam.

Além das quatro pessoas envolvidas no pagamento de propina por meio das obras de arte, foi denunciado também Julio Camargo, consultor da Toyo Setal. Os cinco responderão pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva.

Segundo o MPF, eles participaram de um esquema para favorecer a empresa italiana Saipem na contratação de obras da Petrobras.

Duque: foi denunciado três vezes “Para isso, utilizaram- se de transações bancárias nas contas da Hayley/ SA, offshore uruguaia que mantinha contas na Suíça e que, posteriormente, remetia os valores como simulação de investimentos na sua subsidiária Hayley do Brasil”.

O MPF diz ainda que Bernardi era representante comercial da Saipem do Brasil, subsidiária da Saipem italiana, quando ofereceu vantagem indevida para Duque, na época diretor da área de serviços da Petrobras, para assegurar que a estatal contratasse a italiana para obras de instalação do Gasoduto Submarino de Interligação dos Campos de Lula e Cernambi. Christina e Briganti dividiam a administração das empresas com Bernardi.

Esta é a terceira denúncia que o MPF oferece contra Duque. Em abril, Duque, o extesoureiro do PT João Vaccari Neto e o empresário Augusto Mendonça Neto, dono do grupo Setal, foram denunciados por lavagem de dinheiro pelos procuradores. O juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia. Na última semana de março, Vaccari, Duque e outras 25 pessoas viraram réus sob a acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

 

MP analisa suposta doação ao PMDB

 

O superintendente da Odebrecht Infraestrutura, Fábio Gandolfo, afirmou em depoimento à Polícia Federal ( PF) que as empresas do consórcio Angramon, responsável pela montagem da Usina Angra III, receberam pedido de doação para a campanha do PMDB durante reunião realizada em agosto do ano passado. Segundo ele, o pedido foi feito por Ricardo Pessoa, da UTC, empresa que lidera o consórcio, e a Odebrecht se recusou a contribuir. O Ministério Público Federal investiga pagamentos de propina feita a partidos políticos por meio de doações oficiais de campanha. O PMDB nega qualquer irregularidade e afirma que nunca autorizou qualquer pessoa a pedir contribuições em nome do partido.

Gandolfo foi levado coercitivamente a depor à PF na última terça- feira, na 16 ª Fase da Operação Lava- Jato. Afirmou não saber se outras empresas do consórcio fizeram contribuição a partidos políticos. Gandolfo era o representante da Odebrecht no Angramon e também representa a empresa junto à Marinha no Projeto Submarino Nuclear ( Prosub), na Eletronuclear e na construção de um estaleiro na Bahia.

A reunião de agosto de 2014 do Angramon também foi citada pelo delator Dalton Avancini, ex- presidente da Camargo Corrêa. Segundo ele, no encontro foi discutido “acerto futuro do pagamento de propina a funcionários da Eletronuclear”. As empresas teriam se comprometido a pagar 1% do valor do contrato ao PMDB e a dirigentes da Eletronuclear. Num novo encontro, seriam acertados detalhes de como seriam feitos os pagamentos a políticos.

Foi com base na delação de Avancini que a PF passou a investigar Othon Luiz Pinheiro da Silva, presidente licenciado da Eletronuclear, que foi preso na 16 ª Fase da Lava- Jato, suspeito de ter recebido R$ 4,5 milhões em propina da Andrade Gutierrez e da Engevix.

Também ao depor à PF, Renato Abreu — sócio da holding MPE, que participava do consórcio por meio da empresa EBE — negou que tenha conversado sobre pagamento a políticos. Informou apenas que Pessoa disse às demais empresas que o consórcio teve “gastos extras” de R$ 3 milhões, sem especificar a despesa. Abreu negou ter conhecimento sobre pagamentos de propina. Porém, disse que quem participava das decisões do consórcio era seu sócio David Fischel, que morreu em outubro de 2014.