PT e base aliada defendem Dilma e tentam demonstrar unidade

 

Os discursos dos dirigentes do PSDB na convenção do último domingo dizendo-se prontos para assumir o governo funcionou como catalisador da reação da presidente Dilma Rousseff e do PT. Os petistas decidiram usar o discurso “golpismo” como forma de tentar reaglutinar sua base social. O movimento, capitaneado pela própria presidente, foi seguido no Congresso, onde as bancadas de deputados e senadores do PT divulgaram notas atacando o PSDB e ocuparam as tribunas.

GIVALDO BARBOSAUnidos? Em reunião, Temer e aliados: apoio ao mandato de Dilma e do vice

Os líderes da base reuniramse com o vice Michel Temer e, em tom menos agressivo, também defenderam em nota o mandato de Dilma e do vice. No documento, os parlamentares afirmaram “seu profundo respeito à Constituição e seu “inarredável compromisso" com a vontade popular expressa nas urnas”.

— Muitas vezes aparece uma ou outra informação segundo a qual um partido está descontente, então eles decidiram foi exatamente revelar essa unidade. No latim se diz: verba volant scripta manent, quer dizer: as palavras voam, o escrito se mantêm. Foi isso que eles fizeram — justificou Temer.

O governo está preocupado com o tamanho das manifestações contra a presidente marcadas para o dia 16 de agosto, desta vez com articulação forte dos partidos de oposição. O temor é que elas piorem ainda mais o clima político e influenciem os ministros do Tribunal Superior Eleitoral ( TSE), que julgará ação proposta pelo PSDB apontando abuso do poder econômico na campanha à reeleição de Dilma e do vice Michel Temer, no ano passado.

Hoje, a preocupação com este julgamento do TSE é maior do que com o do TCU sobre as chamadas “pedaladas fiscais”, que poderia ensejar um pedido de impeachment da presidente. Petistas contabilizam, no momento, que três dos sete ministros do TSE votariam com a oposição. O temor é que o depoimento à Justiça Eleitoral de Ricardo Pessoa, dono das construtoras UTC e Constran, marcado para o próximo dia 14, vire um voto e garanta maioria para a oposição.

BANCADAS PETISTAS: TOM DURO

Nas notas divulgadas ontem, o tom das bancadas petistas foi duro: “O PSDB parece também desconhecer que o Brasil não é mais uma ‘República de Bananas’, que dá ensejo a golpes com base em pretextos jurídicos canhestros”, diz trecho da nota divulgada pelo PT no Senado.

Os senadores do PT recorreram até a Tancredo, avô do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), para atacá-lo. “Aécio Neves, que parece cada vez mais inspirado pelo espírito golpista da UDN de Carlos Lacerda, deveria se inspirar mais na figura democrática e visceralmente antigolpista de seu avô”, diz a nota.

Na noite de segunda-feira, Dilma recebeu o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e Michel Temer para uma reunião reservada no Palácio da Alvorada, que durou mais de uma hora. Dilma fez um apelo a Cunha para que evite pautar projetos que prejudiquem as contas do governo e pediu que fosse adiada a votação da proposta que aumenta a correção do FGTS. A presidente argumentou que a aprovação poderia “quebrar” o Minha Casa Minha Vida, cujos empréstimos são subsidiados pelo fundo. Houve certa tensão quando Cunha rebateu Dilma, afirmando que isso não é verdade, já que a mudança ocorrerá apenas sobre os depósitos futuros. 

 

‘Código do poder’ foi rompido

 

Em 1985, como um dos primeiros a entrevistar o então presidente José Sarney em seu gabinete, afoito pergunteilhe quem achava que poderia ser seu sucessor.

— Meu filho, certas palavras são impronunciáveis na boca do presidente. Seu eu tratar desse tema, meu governo acaba agora.

Dilma rompeu esse “código do poder”, pela primeira vez, ao dizer que não haveria “impeachment nenhum”. Com isso, levou a discussão para dentro do governo. “Não vou cair” soa agora até mais forte.

Se Lula também errou ao se antecipar ao calendário da crise, com frases do tipo “eu vou me defender na rua, não vou me suicidar”, no máximo, comete um “spoiler”, sem a responsabilidade de estar sentado na cadeira de presidente.

Na entrevista, Dilma repete o equívoco de comparar delações sob tortura com delações premiadas, sancionadas por ela, com pompas e circunstâncias, dentro do programa de combate à corrupção.

Fica patente na entrevista que a presidente ainda não botou os pés na realidade da crise política que consome seu governo, principalmente quando é abordada sobre o fato de partidários do PMDB já estarem conversando abertamente com setores do PSDB sobre sua saída. Ela não só nega, como ainda diz que “o PMDB é ótimo”. A não ser que estivesse aí exercitando uma fina ironia, já no limite do deboche.

Em todo caso, Dilma, imobilizada, fez o que Ulysses Guimarães costumava dizer: “Minha filosofia é a do soldado francês: estou cercado, eu ataco!”

 

Aécio Neves e seu ato falho

 

Em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, o senador Aécio Neves cometeu um ato falho ontem e disse que, no domingo passado, havia sido “reeleito presidente da República”. Na verdade, ele se referia à sua recondução à presidência do PSDB na convenção do fim de semana.

A afirmação surgiu quando o senador, candidato derrotado às eleições presidenciais de 2014, respondia a pergunta sobre a possibilidade de impeachment de Dilma Rousseff.

— O que nós dissemos na convenção deste domingo, que me reelegeu presidente da República, é de que o PSDB é um partido pronto para qualquer que seja a saída, inclusive a permanência da presidente — disse Aécio.

O comunicador que conduzia a entrevista brincou, então, com o senador:

— O senhor não deve ter notado, mas falou que na convenção foi reeleito presidente da República. O senhor já usou essa expressão...

— Não, presidente do PSDB — retrucou Aécio, sem se referir ao erro.

Aécio classificou como “patética” a entrevista da presidente à “Folha de S.Paulo”, e disse que ela “está acuada”. Ele também refutou a afirmação de que a oposição está defendendo um golpe contra a democracia.