PF inclui empresa de Dirceu entre suspeitas de lavagem de dinheiro

12 jul 2015

CLEIDE CARVALHO E LEONARDO GUANDELINE

JD Consultoria integra lista de 31 empresas que participariam de fraudes

-SÃO PAULO- A Polícia Federal (PF) incluiu a JD Consultoria, do ex-ministro José Dirceu, na lista de empresas usadas para lavagem de dinheiro no esquema de fraudes na Petrobras.

ANDRÉ COELHO/4-11-2014Lava-Jato. José Dirceu: empresa de ex-ministro é investigada pela PF

Em laudo da PF, enviado à Justiça pelo Ministério Público Federal, a consultoria de Dirceu, condenado no processo do mensalão, aparece entre 31 empresas “suspeitas de promoverem operações de lavagem de dinheiro” em contratos das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

Também constam do documento as empresas utilizadas pelo doleiro Alberto Youssef (MO Consultoria, GFD e Rigidez), pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (Costa Global) e pelo consultor Júlio Camargo (Treviso e Piemonte).

Os delegados da Polícia Federal relatam que foi localizada uma planilha eletrônica na construtora Camargo Corrêa com uma descrição de um contrato com Dirceu, cujo objeto seria “serviços de consultoria análise dos aspectos sociológicos políticos do Brasil”. A data do contrato era 22 de abril de 2010 e havia a referência “vencido”.

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Fraude teria gerado sobrepreço de R$ 650 milhões

 

Empresa de Dirceu, segundo a Polícia Federal, recebeu R$ 844 mil

-SÃO PAULO- De acordo com a Polícia Federal (PF), embora a investigação em relação à JD Consultoria tenha sido aprofundada em inquérito separado, “permanece suspeita sobre regularidade dessas relações, reforçada pelo vínculo temporal estabelecido com a obra da UCR/Rnest (Unidade de Coqueamento Retardado, da Refinaria Abreu e Lima)”.

Os pagamentos feitos pela Petrobras ao Consórcio CNCC, chefiado pela Camargo Corrêa, coincidiram, segundo as investigações, com a vigência do contrato entre a construtora e a JD Consultoria. Os pagamentos a Dirceu foram feitos no mesmo período em que o consórcio recebeu da estatal.

De acordo com a PF, o cenário de conluio permitiu ao consórcio impor à Petrobras um sobrepreço de aproximadamente R$ 650 milhões, que representa cerca de 17% do valor do contrato.

Segundo a PF, a Camargo Corrêa repassou R$ 71,480 milhões a apenas quatro das empresas usadas para lavagem de dinheiro — Costa Global, JD Consultoria, Treviso e Piemonte. Entre essas, a empresa de Dirceu foi a que recebeu menos repasses, totalizando R$ 844.650. Para a Costa Global, foram R$ 2,875 milhões. Treviso e Piemonte, empresas usadas pelo operador Júlio Camargo, um dos delatores da Lava-Jato, receberam R$ 67,760 milhões.

Também faz parte da lista da PF a empresa de marketing Muranno, que havia informado ter prestado serviços para a Petrobras na divulgação da Fórmula Indy e recebido o pagamento por meio do esquema controlado pelo doleiro Alberto Youssef, sem ter conhecimento de fraudes. Agora, os investigadores a incluíram entre as que podem ter sido usadas para lavar dinheiro.

O relatório também aponta que as empresas Labogen Química, Indústria Labogen, Piroquímica, Bosred, Hmar e RMV & CVV foram usadas para lavar dinheiro para o consórcio.

DEFESA NEGA ACUSAÇÃO

Em nota ao GLOBO, a defesa do ex-ministro afirma “que nunca teve contrato com o consórcio responsável pela obra da refinaria Abreu e Lima”. Segundo o advogado Roberto Podval, “Dirceu foi contratado pela Camargo Corrêa para atuar em Portugal, como a própria construtora reconhece”. “Portanto não há qualquer relação com contratos ou obras da Petrobras”, conclui a nota, acrescentando que “todas as informações, como contrato e notas fiscais, já foram encaminhadas à Justiça Federal do Paraná em janeiro”. Nos últimos dias, a defesa de Dirceu recorreu à Justiça Federal em busca de um habeas corpus preventivo para evitar que ele seja preso. Até agora, porém, não obteve sucesso.