Por acordo e com o apoio do PT, a CPI da Petrobras aprovou ontem a convocação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O requerimento foi incluído como prioritário pelo relator da comissão, Luiz Sérgio (PTRJ). A justificativa é que o ministro precisa esclarecer a suspeita de escuta ilegal na cela em que o doleiro Alberto Youssef ficou preso no início da Operação Lava-Jato, deflagrada em março de 2014. Os petistas negociaram a inclusão de Cardozo na lista de convocados para deixar de fora os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social), citados na delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa, além dos ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, que receberam recursos de empreiteiras investigadas.
JORGE WILLIAM/01-07-2015CPI da Petrobras. Cardozo: em nota, ministro da Justiça disse que “comparecer ao Parlamento é sempre uma honra”Foram convocados na sessão de ontem os presidentes das duas maiores empreiteiras do país, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Marcelo Odebrecht e Otávio Marques Azevedo foram presos no mês passado na fase “Erga Omnes” da Lava-Jato. O consultor da Toyo, Julio Camargo, e o policial Jayme de Oliveira Filho, o Careca, foram chamados. Os dois são citados na investigação contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A CPI aprovou ainda a convocação da advogada Beatriz Catta Preta, que se notabilizou pela realização de delações premiadas na Lava-Jato. A advogada foi chamada após ter conseguido no Supremo Tribunal Federal (STF) um habeas corpus para que um de seus clientes, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, não tivesse de comparecer à comissão para acareações nesta semana. Os parlamentares querem saber como os clientes dela têm pago seus honorários, uma vez que se comprometeram a devolver para os cofres públicos os recursos desviados. Foi aprovada ainda a realização de uma nova acareação, envolvendo Augusto Ribeiro de Mendonça, executivo da Setal e também delator, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato de Souza Duque e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
A inclusão de Cardozo entre os convocados ocorre no momento em que a bancada do PT questiona a atuação do ministro por falta de “controle” da Polícia Federal. Luiz Sérgio afirmou que o objetivo é esclarecer a suspeita de grampo. Para isso, a CPI chamou ainda os delegados da PF Márcio A. Anselmo, Igor Romário de Paula, Maurício Grillo e Daniele Rodrigues. Foi requerido o acesso a cópia de sindicâncias e inquéritos relativos à escuta.
— O depoimento de delegados da PF trouxe uma dúvida entre nós sobre a legalidade ou não dos grampos. Então, entre esses requerimentos, está a convocação do ministro José Eduardo Cardozo para que, como chefe da PF, possa esclarecer essas dúvidas que passaram a pairar sobre nós — afirmou o relator.
Cardozo disse, por intermédio de sua assessoria, ser uma “honra” comparecer ao Congresso. “Não vejo nenhum problema em comparecer à CPI. Se eu puder colaborar de alguma forma para a elucidação dos fatos, eu o farei. Comparecer ao Parlamento é sempre uma honra para mim”, diz o ministro na nota.
FAMILIARES DE YOUSSEF
Não há data para a realização do depoimento do ministro. No mês passado, a CPI já tinha mirado o PT ao convocar o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e o tesoureiro da campanha da presidente Dilma em 2010, José de Filippi. Esses depoimentos também não foram realizados nem têm data marcada. A comissão voltou a aprovar a quebra de sigilo de familiares de Youssef.