O PT se mexe e não sai do lugar

O Estado de São Paulo, n. 44455, 05/07/2015. Notas e Informações, p. A3

O PMDB não vê a hora de se livrar da “aliança” com o governo, para não afundar junto, e quer que Michel Temer se livre do abacaxi da articulação política. E a presidente da República está de volta do exterior, com a “agenda positiva” embaixo do braço, para anunciar novas proezas que farão os brasileiros esquecer da “crise passageira” que o País enfrenta. O noticiário político está repleto de uma ampla variedade de assuntos que se resumem a um só: o fundo do poço cavado por Lula, Dilma, o PT & Cia.

 

José Dirceu sabe muito bem quais são suas próprias vulnerabilidades. E tem ampla experiência em processos criminais e rotina carcerária. Com 70 anos, cada vez que olha para sua tornozeleira eletrônica deve pensar que já está na hora de saborear em paz os frutos de seu prestigiado trabalho e convocou um batalhão de bem pagos advogados para garantir isso. É realmente melhor prevenir transtornos do que ser obrigado a enfrentá-los – só que a Justiça recusou-lhe o habeas corpus.

 

Já o ministro da Justiça, a quem a Polícia Federal está subordinada, parece não acreditar em prevenção de danos, porque não faz nada para impedir as investigações e “vazamentos seletivos” de delações que apontam o dedo para o PT. Está na hora, portanto, de José Eduardo Cardozo deixar o cargo, proclamam os petistas atrás da moita, ao mesmo tempo que divulgam um comunicado com juras de amor eterno ao ministro.

 

Esse movimento pendular do PT, um dos segredos de sua bem-sucedida trajetória política, faz parte da estratégia de mobilização geral do partido exigida por Lula para neutralizar os efeitos dos escândalos de corrupção que, melhor do que ninguém, ele próprio deve saber que ainda não vieram todos à tona. A prisão de Jorge Zelada, sucessor de Nestor Cerveró na diretoria da Petrobrás, é uma evidência disso. Dessa perspectiva, a exortação de Lula aos petistas soa como um pedido de socorro.

 

Não é à toa, portanto, que o PMDB anda ansioso para se livrar do peso de sua aliança com o governo Dilma. Partidos se aliam ao governo para compartilhar o poder. Com a presidente da República à beira do precipício, o PMDB tem hoje mais poder de fato do que ela, como se vê pelas votações no Congresso. E o comandante dos peemedebistas, Michel Temer, parece estar chegando ao limite de sua lealdade a Dilma Rousseff, que lhe atribuiu a articulação política do Planalto, mas não consegue – ou não quer – que o governo entregue os cargos que tem prometido em troca de apoio. Assim, Eduardo Cunha, que não para de bater no governo, tornou-se ardoroso defensor da tese de que Temer deve aproveitar, provavelmente em agosto, a conclusão da votação do ajuste fiscal no Congresso para dar como cumprida sua missão de articulador político.

 

Não é provável que, no curto prazo, o PMDB oficialize seu rompimento com o governo. Isso lhe acarretaria mais problemas do que vantagens, principalmente quando se leva em conta que ocupa seis Ministérios. Mas é provável que, quando 2018 estiver mais perto, se o atual equilíbrio de forças se mantiver, o rompimento se tornará inevitável, até para viabilizar o eventual lançamento de candidatura própria à sucessão de Dilma.

 

Mas tudo isso é especulação. O que há de concreto hoje é o acúmulo de evidências, no noticiário político, do esgotamento do ciclo petista.