Quarto ex-diretor da Petrobras é preso; MP diz que encerrou ‘ciclo’

 

Ex-diretor da área Internacional da Petrobras indicado pelo atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), Jorge Zelada foi preso ontem pela Lava-Jato. Ele é acusado, segundo investigadores, de integrar a “camarilha dos quatro”, ex-diretores da estatal envolvidos em corrupção. -CURITIBA, BRASÍLIA E SÃO PAULO- O exdiretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada foi preso ontem de manhã pela Polícia Federal, em Niterói, Região Metropolitana do Rio, na 15ª fase da Operação Lava-Jato. Foi o quarto ex-diretor da Petrobras a ser preso, depois de Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Renato Duque (Serviços) e Nestor Cerveró (Internacional).

Rumo à cela. Zelada, que sucedeu a Nestor Cerveró na área Internacional da Petrobras, chega a Curitiba, após ser preso em Niterói

Com essa prisão, o procurador da República do Paraná Carlos Fernando de Souza Lima, um dos coordenadores da força-tarefa da Lava-Jato, disse que um ciclo se fechou:

— A “camarilha dos quatro” está bem delineada — disse, referindo-se a Costa, Cerveró, Duque e Zelada.

Chamada de Conexão Mônaco, a nova fase da Lava-Jato investiga corrupção, fraude em licitações, desvio de verbas públicas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Zelada substituiu Cerveró na área Internacional.

DINHEIRO ENVIADO PARA CHINA

Ao analisar as contas bancárias do ex- diretor, o Ministério Público Federal (MPF) considerou que o acúmulo de recursos no exterior era incompatível com a renda de Zelada. Em março, autoridades do Principado de Mônaco bloquearam €10,2 milhões em uma conta mantida pelo ex- diretor no banco Julios Baer.

Uma das razões que levaram o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, a decretar a prisão de Zelada, foi a descoberta de que ele enviou parte do dinheiro mantido na Suíça para contas em Mônaco e China, a fim de esconder os recursos desviados da Petrobras.

“Receoso de ter suas contas na Suíça sequestradas, como ocorreu com Paulo Roberto Costa, Zelada transferiu os saldos para contas no Principado de Mônaco, esperando pôr a salvo seus ativos criminosos do sequestro e confisco da Justiça”, disse Moro. As transferências ocorreram em julho e agosto de 2014, já com a LavaJato em andamento.

Zelada assumiu a diretoria da área Internacional em 2008, quando Cerveró deixou o cargo para dirigir as finanças da BR Distribuidora. Ficou no cargo de 2008 a 2012, quando foi demitido pelo Conselho de Administração, dois meses após Graça Foster assumir a presidência da estatal.

DEFESA CONTESTA PRISÃO

Zelada foi citado em pelo menos duas delações da Lava-Jato. Costa declarou que Zelada e Cerveró “sabiam e participavam do processo (de corrupção), se beneficiando das vantagens indevidas”. Pedro Barusco, ex- gerente da área de Serviços da Petrobras, afirmando que Zelada recebia propinas das empreiteiras com obras na Petrobras. E disse que Zelada tinha contas no mesmo banco Safra, na Suíça.

A Justiça suspeita que Zelada tenha recebido propinas no aluguel de navios-sondas. Moro bloqueou R$ 20 milhões das contas bancárias de Zelada no Brasil e as contas da Z3 Consultoria em Energia Ltda, da qual Zelada tem 90% das cotas. O advogado do ex-diretor, Eduardo Moraes, contestou a prisão de seu cliente.

— O decreto de prisão preventiva do meu cliente é ilegal. Vou entrar com habeas corpus — disse Moraes, afirmando que seu cliente nega ter contas no exterior.

 

Zelada era afilhado de Eduardo Cunha na estatal

 

O ex-diretor internacional da Petrobras, Jorge Zelada, substituiu o então diretor da área Nestor Cerveró, em 2008, em meio a problemas na governança da estatal e no relacionamento do governo com o PMDB. Cerveró, ligado ao senador Delcídio Amaral (PT-MS), tinha apoio do PMDB do Senado. Na época, quando a estatal já previa prejuízos com o caso da Refinaria de Pasadena, nos EUA, um acordo determinou que Cerveró sairia para dar lugar a um nome do PMDB da Câmara.

Engenheiro de carreira da Petrobras desde 1980, Zelada foi escolhido pelo deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), então presidente do partido em Minas Gerais e deputado federal. Houve uma disputa entre as bancadas do PMDB da Câmara do Rio e de Minas pelos comandos de Furnas e da Diretoria Internacional da Petrobras. Os cariocas ficaram com Furnas, cuja indicação foi feita por Eduardo Cunha; enquanto Diniz bancou o nome de Zelada.

No ano seguinte, Diniz morreu. Zelada ficou sem padrinho no cargo e passou a desconsiderar as demandas dos peemedebistas mineiros que se uniram para pedir internamente que alguém no partido com poder assumisse a “paternidade” para mantê-lo no cargo.

Foi aí, segundo relatos de integrantes do PMDB ao GLOBO, que Cunha passou a bancá-lo na diretoria da estatal. No entanto, Zelada passou a se enfraquecer dentro da empresa e sua atuação começou a ser acompanhada com lupa por Maria das Graças Foster, quer era diretora de Gás e Energia da Petrobras no governo Lula por indicação da então ministra Dilma Rousseff.

Em 2011, ao assumir a Presidência da República, Dilma começou a desfazer os acordos políticos que mantinham na diretoria da Petrobras para trocar executivos nos quais não confiava. Em 2012, ela finalmente reuniu as condições para trocar o então presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, por Graça.

GRAÇA ACUMULOU POSTO

A executiva desencadeou então uma reestruturação da diretoria, que levou à demissão de Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços), que foram substituídos por nomes próximos aos partidos que haviam indicado os antecessores: PP e PT, respectivamente.

No caso da Diretoria Internacional, que era da cota do PMDB, Zelada também foi demitido, mas Graça não escolheu substituto. O posto foi fechado e a diretoria passou a ser acumulada pela própria presidente da Petrobras.

No relato de executivos da estatal, foi uma forma de estancar esquemas de corrupção. Na Petrobras, essa decisão é apontada como um dos agravantes do difícil relacionamento entre Dilma e Cunha. Um grupo de peemedebistas de Minas, liderados pelo deputado Mauro Lopes, chegou a fazer um abaixo-assinado pedindo à cúpula partidária a permanência de Zelada no cargo, mas ninguém se moveu, nem mesmo Cunha, que já enfrentava restrições de Dilma.