Disputa pelo último reduto petista

27/07/2015 

Paulo de Tarso Lyra 

 

 

Dilma Rousseff e Lula em Goiana (PE), nas eleições de 2014: agenda comum pela região Nordeste (Ricardo Stuckert/Instituto Lula - 21/10/14)

Dilma Rousseff e Lula em Goiana (PE), nas eleições de 2014: agenda comum pela região Nordeste

 

 

Aécio Neves recebe o apoio da família de Eduardo Campos, em 2014: tucano quer iniciar périplo por Maceió (Rapha Oliveira/Esp.DP/D.A Press - 11/10/14)

Aécio Neves recebe o apoio da família de Eduardo Campos, em 2014: tucano quer iniciar périplo por Maceió

 

A presidente Dilma Rousseff, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciam o mês de agosto de olho no Nordeste. Três das principais lideranças políticas do país planejam uma série de viagens à região para cativar os nordestinos. Enquanto os governistas correm atrás da popularidade perdida, o tucano tenta reverter a desvantagem recente da oposição nesses nove estados. Ainda que desgostosos com o governo federal, jamais, nos últimos 13 anos, os moradores da região deram votos suficientes para que a oposição sonhasse em retornar ao Palácio do Planalto.

Pelo contrário. Foi no Nordeste, em todas as recentes eleições presidenciais, que o PT assegurou a hegemonia na corrida pela Presidência da República. Na disputa de 2014, a mais acirrada desde 1989 e vencida por Dilma por uma margem apertada de 3,4 milhões de votos, a petista abriu impressionantes 12,2 milhões de frente sobre o candidato tucano. Somadas as três regiões em que Aécio levou vantagem Sul, Sudeste e Centro-Oeste , ainda restaria uma vantagem de 4 milhões pró-Dilma.

Mas a hegemonia está claramente ameaçada. A mais recente pesquisa de avaliação do governo mostra que a imagem positiva da presidente derrete no Nordeste. A aprovação ao Executivo Federal é de apenas 13% o dobro da média nacional, de 7,7%. A chegada ao volume morto, como Lula classificou a situação do PT e de Dilma, é nítida, e preocupa muito o ex-presidente. Há pouco mais de um mês, durante evento com o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe Gonzáles, Lula mostrou-se apreensivo. Estamos perdendo o Nordeste muito rápido, admitiu.

Há duas semanas, Lula encontrou-se com Dilma em um almoço no Palácio da Alvorada. Ao lado do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, ficou acertado que a presidente viajaria mais, para, nas palavras de Lula, colocar a cabeça no ombro do povo. As viagens acontecerão por todo o país, mas a Região Nordeste transformou-se na prioridade. Precisamos reforçar as ações do governo e do PT na região ao longo dos últimos anos, defendeu o secretário de Organização do PT, Florisvaldo de Souza.

Ficou acertado que Lula também viajará pelos mesmos estados. A agenda ainda está em elaboração, e não necessariamente vai coincidir com a de Dilma. O que não impede, em alguns casos, de ambos participarem de um evento conjunto. A força da imagem de Lula é importante para o PT e para o governo. Qualquer movimento que ele fizer servirá para reforçar nosso legado, prosseguiu Florisvaldo.

Um dos petistas mais próximos de Lula, o ex-deputado Devanir Ribeiro (SP) lembra que Lula reativará as caravanas que fizeram com que ele conhecesse as múltiplas realidades do país, no início da década de 1990, pavimentando a caminhada rumo ao Planalto, em 2002. Nós passamos pelo Nordeste, pelo Sul, Centro-Oeste e fizemos ainda o circuito das águas (região amazônica), recorda Devanir. Isso não é uma questão de governo, é uma questão do PT, reforçou.

Oposição
Aécio Neves também está de malas prontas para viajar pelo Nordeste. Em 14 de agosto, ele estará em Maceió para dar a largada ao processo de filiação de novos tucanos. Aproveitará para iniciar a caravana em uma cidade governada pelo PSDB o prefeito é Rui Palmeira. Alagoas foi governada por tucanos durante oito anos, com Teotônio Vilela Filho, mas, atualmente, é comandada pelo peemedebista Renan Calheiros Filho.

Na véspera 13 de agosto Aécio estará em Pernambuco, mas, a princípio, não terá nenhuma agenda política. O tucano participará, em Recife, da missa em homenagem ao ex-governador Eduardo Campos, morto em 13 de agosto de 2014, após um acidente aéreo em Santos (SP), em plena corrida presidencial. No segundo turno, Aécio obteve o apoio da família de Campos na disputa contra Dilma Rousseff.

Para o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), mais do que viagens aos estados do Nordeste, o PSDB precisa fazer um trabalho de base na região. Eventos, como bem pode se depreender da etimologia da palavra, significam uma participação eventual, pontual. Precisamos mais do que isso, defendeu. O Nordeste, para nós, é um desafio. Precisamos estimular o surgimento de novas lideranças na região, prosseguiu ele. Curiosamente, no Congresso, nomes importantes da legenda são nordestinos, como o ex-líder e vice-presidente da CPI da Petrobras Antonio Imbassahy (BA); o líder da minoria, Bruno Araújo (PE); e o líder no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).

Pestana admite que o PSDB enfrenta muitas adversidades, e essa fragilidade tem se repetido ao longo das últimas disputas presidenciais. Mas temos um atual momento muito bom e propício para reverter essa situação, apostou o mineiro.

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Encontro para sair da crise

Paulo de Tarso Lyra 


Em busca de recuperar a credibilidade e o protagonismo político, a presidente Dilma Rousseff definirá hoje, com a coordenação política de governo, a pauta da reunião com os governadores, prevista para a próxima quinta-feira, em Brasília. No fim do primeiro semestre, os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), respectivamente, trouxeram os 27 governadores para o Congresso para reclamar do centralismo fiscal da União. Agora, Dilma quer estabelecer com esses mesmos administradores estaduais um pacto de governabilidade construída sobre premissas orçamentárias.

Dilma deve debater na quinta a proposta de unificação progressiva da alíquota do ICMS e de repatriação de recursos do exterior. As duas iniciativas tramitam no Congresso e interessam aos governadores desde que tramitem em conjunto. O governo propôs a criação de um fundo composto por uma parte dos recursos que seriam repatriados do exterior. A equação, se der certo, será benéfica para todos os entes federados. A União tributaria esses recursos que hoje estão no exterior, e os governadores teriam um “colchão” para compensar perdas com a mudança de alíquotas do ICMS.

Perante seus ministros, hoje, incluindo os integrantes da equipe econômica, Dilma cobrará maneiras de cumprir as promessas que deve fazer aos governadores. O problema é que, apesar da revisão para baixo da meta de superavit primário — de 1,1% para 0,15% —, os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, aprofundaram o corte no Orçamento suprimindo mais R$ 8,6 bilhões dos ministérios, somando-se aos R$ 69,9 bilhões que já haviam sido contingenciados em maio. Com menos recursos disponíveis, a retomada no nível de investimentos ficará adiada por mais tempo.

Durante a coordenação política de hoje, o vice-presidente Michel Temer e o ministro da Secretaria de Aviação, Eliseu Padilha, também devem cobrar, mais uma vez, de seus colegas de Esplanada, agilidade na conclusão dos cargos de segundo e terceiro escalões. Na próxima semana, o Congresso volta do recesso e, se as demandas ainda não tiverem sido completamente atendidas, a pressão da base aliada será intensa.