Operador de empreiteiras preso recebeu R$ 220 milhões em 11 anos

 

Os presidentes das duas maiores empreiteiras do país devem ser denunciados hoje pelo Ministério Público Federal ( MPF), em Curitiba. No início da semana, a Polícia Federal ( PF) indiciou Marcelo Odebrecht, da Odebrecht, e Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, pelos crimes de fraude em licitação, corrupção e lavagem de dinheiro.

GERALDO BUBNIAK/ 20- 6- 2015Lava- Jato. O presidente da Odebrecht já em Curitiba, após ser preso pela Polícia Federal. Ele continua na prisão

A denúncia de hoje deve chegar aos operadores dos pagamentos de propinas, como Mario Góes, que liga as duas empresas. Análise feita pela PF nas contas de uma das empresas do operador, a Rio Marine, mostra que ele recebeu R$ 220 milhões de várias construtoras entre 2003 e 2014.

A Odebrecht pagou R$ 1,5 milhão para a empresa em 2004, quando ganhou a licitação para construir uma plataforma. A Andrade Gutierrez fez dois repasses, que somam R$ 5 milhões, em 2007 e 2008, que casariam com dois contratos assinados com a estatal. Segundo a PF, as construtoras não conseguiram comprovar que os pagamentos foram feitos para receber serviços de consultoria. Isso indicaria o pagamento de propina.

OUTROS EXECUTIVOS NA MIRA

A força- tarefa da Operação LavaJato juntou indícios de que a Odebrecht teria obtido vantagens em seis obras da Petrobras, orçadas em R$ 11,4 bilhões, por meio do pagamento de propinas. Já a Andrade Gutierrez teria cometido irregularidades em quatro contratos com a estatal, que somam R$ 4,9 bilhões. As empresas negam envolvimento.

A tendência é que os procuradores acompanhem os pedidos feitos no indiciamento. Caso o juiz Sérgio Moro concorde com a denúncia, os executivos passarão a ser tratados como réus no processo.

Contra Marcelo, pesa a acusação de que ele conhecia e participava de todo o esquema de corrupção que beneficiava a Odebrecht. Ao longo do processo, o MPF tem sustentado que e- mails trocados entre a cúpula da empreiteira mostram que Marcelo sabia das negociações irregulares.

Ainda devem ser denunciados três executivos da Odebrecht: Rogério Araújo, Márcio Faria e César Rocha. Rogério é apontado como responsável por fazer depósitos em contas mantidas no exterior pelos exdiretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró. Para comprovar a relação, os investigadores cruzaram telefonemas de Rogério ao operador Bernardo Freiburghaus com depósitos recebidos por Costa em contas que seriam administradas por esse operador.

PRAZO DE EXPLICAÇÃO AMPLIADO

O ex- funcionário Alexandrino Alencar é apontado como responsável por representar a Odebrecht no cartel de empreiteiras e por negociar pagamento de propina para beneficiar a Braskem na compra de nafta da Petrobras.

O presidente da Andrade Gutierrez também é acusado de ter conhecimento do esquema, que teria começado na gestão do seu antecessor, Rogério Nora de Sá.

Também devem entrar na lista do MPF o executivo da Andrade Elton Negrão e os exdiretores Antônio Pedro Campello de Souza e Paulo Dalmazzo, apontados como responsáveis pelas reuniões no cartel para combinar vencedores de licitação e por negociar pagamento de propina

Ontem, Moro concordou com o pedido feito pela defesa de Marcelo Odebrecht e estendeu para o dia 27 o prazo para receber explicações sobre anotações encontradas no celular dele.

 

Juiz vê ‘ especulação abstrata’ em pedido de CPI

O juiz Sérgio Moro disse ontem, em despacho, que a convocação da advogada Beatriz Catta Preta para depor na CPI da Petrobras foi baseada em “especulação abstrata”. Catta Preta defendeu alguns delatores da Operação Lava- Jato. Moro informou ainda que não deverá aceitar o requerimento do deputado federal Celso Pansera ( PMDB- RJ) para que a criminalista seja ouvida no Congresso.

ANDRÉ COELHO/ 17- 9- 2014Alvo. Catta Preta, ao lado de Paulo Roberto Costa, um dos seus ex- clientes

Antes de tomar uma decisão definitiva, o juiz quer saber a opinião da Ordem dos Advogados do Brasil ( OAB) e do Ministério Público Federal. A OAB já enviou ofício à CPI pedindo que a decisão seja reconsiderada.

Os pedidos de convocações à CPI costumam ser feitos ao juiz para que ele avalie se os depoimentos à comissão atrapalham as investigações.

Segundo o pedido de Pansera, Catta Preta deveria explicar a origem do dinheiro usado por acusados como Júlio Camargo, Pedro Barusco e Augusto Mendonça para pagar seus honorários. Na decisão, Moro admite que a questão dos honorários de advogados é “polêmica”, mas afirma que “o requerimento não veicula qualquer apontamento concreto” contra a advogada.

O juiz chamou a atenção para o fato de que só Catta Preta foi convocada, enquanto os defensores de Renato Duque e Nestor Cerveró, que não firmaram acordos de delação, não foram chamados.

Para o juiz, atender ao pedido dos deputados “apenas causaria constrangimentos aos acusados e seus defensores, não se vislumbrando, com facilidade, o seu propósito, especialmente quando concentradas somente sobre os acusados que resolveram colaborar com a Justiça e nenhum outro”.

A convocação acontece pouco após o consultor Júlio Camargo, da Toyo Settal, ter acusado Cunha de pedir propina de US$ 5 milhões. Foi Catta Preta quem orientou a delação de Camargo. Pansera, autor do requerimento, é aliado de Cunha e diz que discute com colegas se manterá a convocação.

— Ela ( Catta Preta) se especializou em delação premiada. Queremos ouvi- la ( sobre) como se deram esses processos. A presença dela terá caráter pedagógico. É preciso tornar públicas as coisas. Agora, ela está indo trabalhar no exterior. Parabéns para ela — disse.

Esta semana, Catta Preta renunciou a todos os seus clientes na Lava- Jato. O presidente da CPI da Petrobras, Hugo Motta ( PMDB- PB), disse que está mantida a convocação da advogada, que deve ser ouvida em agosto, para investigar “a origem desses recursos”.