Dilma diz que situação do país em 2016 não será ‘maravilhosa’

 

 Depois de admitir que o governo demorou para perceber a gravidade da crise econômica, a presidente Dilma Rousseff disse ontem que o Brasil continuará a enfrentar dificuldades no ano que vem e que a situação econômica “muito provavelmente” não será “maravilhosa” em 2016. Segundo ela, o governo federal está tomando medidas para que o país volte a crescer e a gerar oportunidades “para todos os brasileiros”. As declarações foram dadas em entrevista a duas rádios no interior paulista. Dilma visitou a região para entregar unidades do programa Minha Casa Minha Vida.

— Não tenho como garantir que a situação em 2016 será maravilhosa. Muito provavelmente não será. Mas também não será a dificuldade extrema que muitos pintam. Vamos continuar a ter dificuldades, até porque não sabemos como o mercado internacional vai se comportar — afirmou a presidente.

Dilma considerou “compreensível” que as pessoas se sintam “inseguras e preocupadas com o futuro” neste momento. No entanto, avaliou, a população não deve transformar esse sentimento em pessimismo.

— Acredito que é sempre assim: as pessoas querem que as coisas sejam imediatamente resolvidas. É compreensível, mas nem sempre ocorre assim, nem na vida da gente. Nossa ideia é que dificuldades sejam enfrentadas o mais rápido possível. Mas quanto mais gente estiver torcendo pro “quanto pior melhor”, mais longa será essa travessia.

Ao exemplificar as medidas que devem ser adotadas, ela citou os programas de concessão de obras de infraestrutura; de incentivo a produtores agrícolas, que elevou em até 20% o crédito; de investimento em energia, que privilegia a biomassa; e o incentivo a exportações:

— O real ultravalorizado, se é bom para pessoas viajarem para Miami, é péssimo para a indústria, porque diminui a competitividade. A desvalorização cria inflação, mas tem outro efeito, que é facilitar exportação. Como não confiamos só no câmbio, estamos fazendo programa agressivo de exportação.

Em Catanduva, onde Dilma entregou moradias, cerca de 500 pessoas protestaram no centro da cidade. Os manifestantes colocaram panos pretos nas janelas e fecharam o comércio por cerca de meia hora. A comitiva da presidente não passou pela região onde o ato acontecia. Horas após a entrevista para as rádios do interior, Dilma voltou a falar sobre a crise e reforçou que se trata de uma situação passageira.

— Eu quero dizer que vamos superar esse momento de dificuldade. Temos capacidade de apresentar e construir caminhos. E a gente tem de enfrentar os problemas de frente.

Em Brasília, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), acusou a presidente de zombar da inteligência dos brasileiros ao dizer que desconhecia a gravidade da crise, durante a campanha presidencial do ano passado, e ao lamentar o envolvimento de integrantes do PT no escândalo da Lava-Jato.

— Ou a presidente Dilma vivia em outro país ou em outro planeta. Todos os alertas foram feitos, e ela nos chamava de pessimistas. Não houve desconhecimento por parte da presidente, o que houve foi irresponsabilidade. Dizer hoje que ela desconhecia a gravidade da crise, e que lamenta o envolvimento de petistas no petrolão, é zombar da inteligência do povo brasileiro — disse o tucano.

Aécio lembrou que durante a campanha sempre perguntou a Dilma por que mantinha o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Netto no conselho de Itaipu, quando ele era acusado de receber propina.

— Eu sempre perguntava: “A senhora tem confiança no tesoureiro João Vaccari, acusado de receber propina para seu partido?”. Ela nunca respondeu. Lamentavelmente não se vê, agora, sinceridade no mea-culpa da presidente, que tenta desesperadamente dar uma satisfação à opinião pública.

 

Torcendo contra o agora inimigo

Em jantar na segunda-feira para debater com os líderes da base e da oposição a pauta de votações da semana, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), avaliou que não tem como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não ser tragado pelas denúncias da Operação Lava-Jato.

Para Cunha, Renan deverá aparecer na delação que está sendo negociada pelo lobista Fernando Baiano, preso há nove meses e já condenado a 16 anos de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Baiano é apontado nas investigações como responsável por intermediar o pagamento de propinas a políticos do PMDB. Na conversa com os deputados, Cunha comentou ainda que Baiano poderia “entregar” o empresário Milton Lyra, identificado pelo presidente da Câmara como um operador de Renan em esquema de corrupção.

Renan e Cunha, que ensaiaram uma aproximação no início do ano para enfraquecer o governo Dilma Rousseff, voltaram a se afastar há algumas semanas, depois que o presidente do Senado retomou a relação com o Planalto e apresentou a Agenda Brasil. Como apenas Cunha e o senador Fernando Collor (PTB-AL) foram denunciados na semana passada, o presidente da Câmara atribuiu a exclusão de petistas e de Renan a um “acordão” para atingi-lo.

Cunha reafirmou considerar a denúncia do MP “vazia” e disse que seus auxiliares jurídicos o tranquilizaram, alegando que não é consistente o material apresentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Cunha admitiu que pode ser citado novamente nas delações, mas disse estar seguro de que não haverá provas materiais que o incriminem.

Cunha também disse esperar que o Supremo Tribunal Federal (STF) leve um longo tempo até decidir se irá acatar ou não a denúncia.

— O Supremo está há dois anos e meio para decidir se aceita ou não o pedido de denúncia contra Renan. Não dá para ter dois pesos e duas medidas — comentou, referindo-se à denúncia apresentada pelo MP em janeiro de 2013 contra Renan, acusado de ter a pensão de sua filha paga por lobista da Mendes Júnior.