Térmicas mais caras do sistema serão desligadas

06/08/2015

Por Rafael Bitencourt e Natalia Viri | De Brasília e São Paulo

 

 Autoridades do setor elétrico aprovaram ontem, em reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), o desligamento de 21 usinas térmicas com custo de operação superior a R$ 600 por megawatt-hora (MWh). A medida prevê uma economia, até o fim deste ano, de R$ 5 bilhões para os consumidores atendidos pelo sistema elétrico nacional.

A decisão indica uma maior segurança do governo em relação ao abastecimento de energia. Desde o ano passado, todas as térmicas que operam na base, inclusive Xavantes, com custo de operação de R$ 1.170 por MWh, vinham sendo despachadas integralmente para garantir a segurança do sistema.

De acordo com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, já é possível falar em risco zero de abastecimento, com o funcionamento apenas das térmicas com custo até R$ 600 por MWh. Sem essas térmicas - e considerando a chamada "ordem de mérito", em que as usinas termelétricas são acionadas do menor para o maior custo -, o CMSE ainda aponta risco de 1,2% de falta de energia. "O risco existe, academicamente. Mas, na prática, é igual a zero. É por isso que estamos desligando esse conjunto de térmicas", disse.

Braga informou que as usinas receberão o comando de desligamento à zero hora do próximo sábado. Esses empreendimentos respondem pela capacidade de geração de 2 mil megawatts (MW) médios - energia capaz de abastecer 2,7 milhões de domicílios.

O ministro explicou que ainda é cedo para avaliar se haverá impacto sobre o sistema de bandeiras tarifárias. A expectativa é de mudança na indicação de alto custo na conta de luz com a bandeira vermelha. "A Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] analisará a decisão do CMSE para saber se haverá alteração na bandeira vermelha. O que podemos assegurar é que haverá sim redução de custo", afirmou o ministro.

Conforme informou o Valor na semana passada, analistas já trabalham com a possibilidade de uma bandeira amarela nas contas de luz ainda neste ano, o que poderia reduzir as contas, em média, em até 6%.

O mecanismo de bandeiras visa transferir para o consumidor os custos maiores com geração. Quando o custo da térmica mais cara em operação está acima de R$ 388 por MWh, a bandeira é vermelha, o que implica taxa de R$ 5,50 a cada 100 kilowatts-hora (kWh). Entre R$ 388 e R$ 200 por MWh, a bandeira é amarela, com taxa adicional de R$ 2,50 por kWh. Abaixo disso, não há cobrança.

Mesmo sem as usinas mais caras, o sistema elétrico contará ainda com a operação do conjunto de térmicas com a capacidade de 10 mil MW médios. "Já chegamos, em alguns momentos, a ter o despacho de 15 mil MW médios", ressaltou Braga. O estudo, que apontou para a possibilidade de desligamento das usinas, foi elaborado e proposto pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, afirmou que o desligamento das 21 térmicas mais caras do sistema veio da constatação de que houve melhora nas condições gerais de abastecimento do país.

Entre os fatores positivos estão as mudanças favoráveis das condições climáticas e a previsão de redução na demanda de consumo em 1,8% esse ano. Além disso, inclui-se o movimento de expansão da geração eólica e o aumento da produção em grandes hidrelétricas: Teles Pires, na divisa Mato Grosso e Pará, e as usinas do rio Madeira, Jirau e Santo Antônio, em Rondônia.

"Há uma previsão de chegarmos ao nível de armazenamento de 30,8% ao fim do período seco neste ano", disse Chipp, após reunião do CMSE. O percentual mencionado pelo diretor do ONS está relacionado ao volume de água nos reservatórios das grandes hidrelétricas do país. Neste ano, com a redução do consumo de energia e a melhora nas chuvas, especialmente no Sul, os reservatórios do país têm se recuperado em pleno inverno, o período mais seco do ano.

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Produção de petróleo no país volta a cair em junho

 

Por André Ramalho | Do Rio

A produção nacional de petróleo voltou a cair em junho, depois de registrar em maio o primeiro mês de alta no ano. Ao todo, foram produzidos no mês retrasado, em média, 2,396 milhões de barris diários, o que representa uma queda de 0,7% sobre maio, informou a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Na comparação com junho do ano passado, por sua vez, a produção de óleo cresceu 6,7%. Segundo a ANP, o pré-sal respondeu por 31% da produção nacional de óleo em junho, ou 751,2 mil barris/dia.

A produção de gás natural totalizou a média de 95,5 milhões de metros cúbicos diários (m3 /dia). O volume representa aumento de 2,6% sobre maio deste ano e de 10,3% ante junho de 2014. O aproveitamento do gás natural foi de 96,2%. A queima, por sua vez, somou 3,6 milhões de m3 /dia. O volume significa aumento de 12,9% em relação a maio. Na comparação anual, houve queda de 15,1%.

A produção total de óleo e gás somou 2,997 milhões de barris diários de óleo equivalente (boe/dia). Só no pré-sal, foram produzidos 926,1 mil boe/dia, aumento de 3,4% em relação a maio. Lula, na Bacia de Santos, é o maior campo da região. Já no pós-sal, segundo a ANP, foram produzidos 2,071 milhões de boe/dia, o menor patamar registrado este ano.

A Petrobras responde, sozinha, por 82% de toda a produção de óleo e gás do país. A petroleira britânica BG, segunda maior produtora, por sua vez, responde por 5,5% do volume total produzido, enquanto a sino-espanhola Repsol Sinopec, terceiro do ranking, representa 2,2%.

Com média de 371 mil barris diários, Roncador, na Bacia de Campos, segue como maior campo produtor de petróleo do país, seguido de Lula (296 mil barris/dia), no pré-sal de Santos. Sapinhoá (200 mil barris/dia), localizado na mesma região, completa a lista dos três maiores campos produtores de óleo do país.

Acompanhando o aumento da produção de gás, o consumo do combustível cresceu 2,39% no país, em junho, na comparação com igual mês de 2014, segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). Ao todo, foram consumidos, em média, 77,69 milhões de m3 /dia no mês retrasado.

O desempenho foi puxado pelas termelétricas, que consumiram 34,32 milhões de m3/dia - alta de 8,05% na mesma base de comparação. Outro destaque positivo foi a alta de 8,15% no segmento comercial, que totalizou 856 mil m3 /dia.

As vendas de gás para a indústria se mantiveram estáveis - queda de 0,33%, para 27,74 milhões de m3 /dia. A comercialização de gás natural veicular (GNV), com alta de 0,3%, e para as residências (-0,73%) também não sofreu grandes variações no período.

No primeiro semestre, o mercado brasileiro acumulou alta de 2,32%, na comparação com igual período de 2014, também alavancado pelas termelétricas (9,63%).