Agência de risco S&P coloca nota do Brasil mais perto do rebaixamento
 
29/07/2015

ALTAMIRO SILVA JUNIOR, DENISE ABARCA e FABRÍCIO DE CASTRO

 

Deterioração. País está no último nível do grau de investimento, mas teve a perspectiva da nota revista e pode voltar à condição de país especulativo; economia fraca, dificuldades do ajuste fiscal e Lava Jato pesaram contra; dólar sobe pela 5ª vez consecutiva A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) sinalizou ontem que pode tirar do Brasil o grau de investimento, a nota de crédito que funciona como atestado de que um País é bom pagador de sua dívida e merece a confiança do investidor. Na sequência, a agência alterou suas perspectivas para instituições financeiras. Pesaram nas decisões da agência o fraco desempenho da economia, apercepção de que pode ocorrer “novo deslize” no ajuste fiscal e as investigações da Operação Lava Jato, que na sua avaliação tendem a comprometer ainda mais as perspectivas econômicas.

Com a decisão, o dólar completou a quinta sessão de alta consecutiva em relação ao real e fechou cotado a R$ 3,37, com aumento de 0,27%.

A S&P foi a primeira agência a conceder grau de investimento ao Brasil, em 2010, desencadeando uma onda de benefícios para a economia. A retirada da classificação teria o efeito inverso, contribuindo para agravar a crise. Muitos fundos de investimentos e fundos de pensão estrangeiros seriam forçados, até mesmo por lei, a parar de aplicar seus recursos no País. O crédito ficaria mais caro e escasso para o governo brasileiro e para as empresas.

Ontem, a agência não alterou anotaem si, mas asuaperspectiva. Antes, a perspectiva era “estável”, indicando que não havia a intenção de mudara nota. Agora, passou a ser “negativa”. Isso significa que nos próximos 12 ou 18 meses, a nota pode ser reduzida. O topo do grau de investimento é a notaAAA, conferida apenas a países de primeira linha, como os Estados Unidos. A classificação de crédito do Brasil de longo prazo, em moeda estrangeira, passou a ser “BBB-” na S&P. É o piso do grau de investimento. Mantidaatendência, a próxima mexida na classificação da nota devolve o Brasil ao patamar de país “especulativo” – ou seja, que traz algum risco de não cumprir seus compromissos.

Economia fraca. Em relatório, S&P afirma que a revisão da perspectiva se deve àchance de, ao menos uma em três, que a correção na política do governo enfrente mais dificuldades e que demore mais do que o previsto para que o Brasil volte a crescer firmemente. Em teleconferência, a analista da S&P, Lisa Schineller, reforçou essa análise. Segundo Lisa, atendência do Produto Interno Bruto (PIB) se mostrou pior do que foi previsto em março, quando a S&P afirmou a perspectiva e a nota do Brasil. Na época, também se esperava alguma demora na aprovação de medidas importantes para o ajuste fiscal, por causa da fragmentação política, mas a decepção acabou se mostrando maior do que o esperado. A alteração da meta de superávit primário, na semana passada, não foi um fator, em si, decisivo para a mudança de perspectiva: “A revisão das metas, na nossa visão, foi reflexo da economia mais fraca, da realidade econômica”.

Ainda assim, ela deu um sinal de confiança à equipe do ministro da Fazenda Joaquim Levy: “Mantemos a crença de que a correção de políticas econômicas vai continuar no Brasil”.

A primeira reação do mercado dá sinais do que pode ocorrer em caso de rebaixamento da nota. A primeira reação foi muito ruim por um erro na interpretação. “O pessoal gritou que era rebaixamento e saiu comprando dólares”, disse um profissional, que prefere não se identificar. “Aprimeira impressão para muitos foi de que o País havia perdido o grau de investimento”, disse João Medeiros, diretor da corretora Pionner. Percebido o equívoco, o mercado se acalmou. A Bovespa fechou com alta de quase 2%. O dólar completou a quinta sessão de alta, mas a elevação foi discreta. A moeda bateu em R$ 3,43 após o anúncio da S&P, mas fechou em R$ 3,37. Os juros futuros fecharam com leve alta.