Ainiciativa do ex- presidente Fernando Henrique Cardoso, líder máximo do PSDB e maior figura da oposição, de pedir que a presidente Dilma renuncie ou reconheça que errou, num “gesto de grandeza”, reforçou comparações entre a crise atual e a que levou à cassação de Fernando Collor. O próprio FH, no texto que pôs em circulação em rede social na segunda- feira, recordou que, naquela época, o deputado Ulysses Guimarães entendeu que o presidente havia perdido as condições para governar.
A decisão de FH, de colocar esta posição em rede social na segunda- feira, criou fato importante, e agitou ainda mais os meios políticos, no momento em que o Congresso precisa acelerar, não só o que falta aprovar no ajuste fiscal — não é muito, é verdade —, mas provavelmente preparar- se para sancionar novas medidas a serem propostas pelo Executivo, diante do agravamento da crise econômica.
Para isso, é essencial que o Congresso de fato supere a questão das “pautas- bomba”, engendradas na Câmara sob a presidência de Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), que vê, de forma equivocada, nesta tática, maneira de se livrar de denúncia do Ministério Público Federal ao Supremo, por alegadamente receber propina do esquema do petrolão.
As manifestações do último domingo, a terceira em pouco mais de sete meses do segundo mandato de Dilma, precisam servir de uma espécie de divisor de águas no comportamento do Congresso diante da grave crise econômica, que se retroalimenta com o imbróglio político.
Se a crise política tem uma dinâmica, a econômica tem outra, com um calendário próprio. Hoje, não se tem dúvida que Joaquim Levy e Nelson Barbosa assumiram os ministérios da Fazenda e do Planejamento sem o conhecimento completo do real cenário econômico.
Sabia- se da “contabilidade criativa”, das “pedaladas”, mas não da dimensão dos estragos. E nem se previa a velocidade com que a economia começaria a se retrair, com os inevitáveis efeitos no mercado de trabalho, acentuados por uma inflação em disparada. Esta, muito devido à necessária correção das tarifas públicas contidas artificialmente, no ano passado, com objetivos eleitoreiros.
Com a constatação de que o calendário da crise política ficou imprevisível, impõe- se a necessidade de imprimir maior velocidade no enfrentamento da crise econômica — além da imperiosa extinção das tais “pautas- bomba”, em que se incluem descabidas derrubadas de vetos importantes feitos pela presidente de projetos aprovados no Congresso de forma irresponsável.
O relógio da crise na economia parece correr mais rapidamente. E o enfrentamento dela não deverá se resumir à atual pauta do ajuste. O combate à crise certamente se estenderá no decorrer do ano que vem. É algo de que os políticos precisam ter consciência.