O globo, n.30.022, 18/10/2015. País, p. 6
Aproibição de doação de empresas para candidatos e a consequente redução nos valores arrecadados pelas campanhas eleitorais ameaçam aerados supermarqueteiros na política brasileira. Diante do novo cenário, dirigentes partidários estudam formas mais simples e baratas de conquistar votos, enquanto profissionais que se destacaram nas disputas dos últimos anos já anunciam que não pretendem trabalhar na eleição municipal do ano que vem.
MARLENE BERGAMO/FOLHAPRESS/10-10-2010PT sem estrela. João Santana não fará campanhasMarqueteiro mais bemsucedido do país na última década, o baiano João Santana, responsável pelas campanhas presidenciais de Dilma Rousseff em 2010 e 2014 e de Lula em2006,é um dos nomes que deve ficar fora de cena. Na última eleição municipal, em 2012, ele havia comandado a candidatura à prefeitura de São Paulo do petista Fernando Haddad, então estreante em disputas eleitorais eque mesmo assim saiu vitorioso.
Agora, os dirigentes do PT paulistano dão como certo que Haddad não contará com Santana na tentativa de reeleição, justamente por causa da necessidade de redução de custos. Em 2012, a empresa do marqueteiro ficou com 44% do total de dinheiro gasto pela campanha do PT à prefeitura de São Paulo (faturou R$ 30 milhões dos R$ 68 milhões).
— Teremos uma campanha diferente das últimas em função da forma de financiamento. Provavelmente um dos setores que terá que mudar radicalmente é o marketing. Mas não sabemos ainda como vai ser — diz o presidente do PT de São Paulo, Paulo Fiorilo, que não se arrisca a estimar quanto as campanhas conseguirão arrecadar apenas com doações de pessoas físicas.
Do lado do PSDB, a mudança também é motivo de preocupação. O presidente estadual do partido em São Paulo, Pedro Tobias, afirma que torce para que o Congresso consiga flexibilizar a decisão do Supremo Tribunal Federal ( STF) quanto ao impedimento de doações de empresas.
— Não estamos achando saída. O maior objetivo é que as campanhas sejam mais transparentes, mas essa proibição vai acabar levando as campanhas para o caixa dois. É certo que as mudanças vão baratear um pouco as campanhas, mas não o suficiente para os candidatos não precisarem de doação de empresas. Tem que torcer para o Congresso aprovar a emenda — avalia Tobias
Responsável por três das últimas quatro campanhas do PSDB na cidade de São Paulo, Luiz Gonzalez é outro marqueteiro deve ficar de fora da eleição do ano que vem. Será a primeira vez em 16 anos que ele não comandará uma campanha para a prefeitura paulistana. Em 2000, fez a campanha de Geraldo Alckmin (PSDB), em 2004, a de José Serra (PSDB), em 2008, a de Gilberto Kassab (DEM) e, em 2012, Serra novamente. Foram duas vitórias e duas derrotas.
Este ano, o marqueteiro foi alvo de sondagens de pré- candidatos, mas tem dito que não tem planos de fazer campanhas tão cedo. Reservado, Gonzalez não costuma dar entrevistas. Ao GLOBO, ele disse apenas que provavelmente nem estará no Brasil no segundo semestre de 2016.