O globo, n. 30070, 05/12/2015. País, p. 4

O homem que controla as planilhas de cargos e votações

 

SIMONE IGLESIAS

O ex-ministro Eliseu Padilha é famoso por dominar planilhas de votação e dos cargos dos partidos no governo. Conhecimento que usará para mapear a tendência de votos do processo de impeachment.

-BRASÍLIA- Organizado e metódico, Eliseu Padilha está sempre com planilhas atualizadas sobre as votações do governo, a posição de cada bancada e os cargos que cada partido ocupa em Brasília e nos estados. Acompanhou com lupa os votos dos aliados e da oposição nas votações de todos os projetos do ajuste fiscal até agora. Conhecimento que utilizará, a partir de agora, para acompanhar as movimentações no Congresso do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

Famoso por mapear votações e fazer previsões certeiras dos resultados no Congresso, Eliseu Padilha sempre foi conhecido como um peemedebista de origem tucana. Ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique Cardoso de 1997 a 2001, perdeu poder com a vitória de Lula em 2002, ficando longe da Esplanada por 14 anos.

Fiel ao vice-presidente Michel Temer, voltou ao centro do poder após uma difícil transição para o lado petista da força. Para os que o conhecem, foi uma guinada que poucos esperavam. Padilha é histórico adversário do PT. Mas aderiu ao governo Dilma na campanha da reeleição, em 2010.

Desafeto dos petistas gaúchos, de quem ganhou o apelido nada lisonjeiro de “Eliseu Quadrilha”, tornou-se ministro da Aviação Civil em janeiro. Com os desacertos da articulação política palaciana — liderada por Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas —, que levou, entre outros problemas, à eleição de Eduardo Cunha a presidente da Câmara como opositor ao governo, Dilma o chamou para a Secretaria de Articulação Política. Disse não à presidente, que delegou a missão a Michel Temer.

— Vou aceitar por nós dois — disse Temer a Padilha, depois de, mesmo a contragosto, ter acumulado a função com a Vice-Presidência da República.

Padilha foi quem assumiu a pasta de fato, passando a despachar no quarto andar do Palácio do Planalto e colecionando o que chama de boicotes diários dos ministros do núcleo político petista. Da presidente, ao assumir a Aviação Civil e, depois, de forma extraoficial, as relações institucionais, recebeu a garantia de que teria um “orçamento robusto” e “carta branca”. Em um ano em que as crises econômica e política foram permanentes, não teve nenhum dos dois.

Nos pouco mais de três meses em que ficou à frente da articulação política, os relatos são de que ocorria uma guerra fria no quarto andar do Planalto, entre ele e um grupo de peemedebistas, na ala oeste, e Mercadante, na ala leste.

Aos 69 anos, advogado de formação, foi deputado federal e é um influente político no Rio Grande do Sul. Apesar disso, a relação com Dilma nunca passou de protocolar. Gentil, ele sempre frisa, mas protocolar.

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Planalto age para evitar debandada do PMDB

JÚNIA GAMA 

Ministro da Saúde afirma que atuará na estratégia de defesa de Dilma.

“Sou contra o impeachment, sempre fui. Acho que o Brasil tem que aprender a conviver com crises e sobreviver a elas” Celso Pansera Ministro de Ciência e Tecnologia

-BRASÍLIA- Preocupado com possível debandada do PMDB depois que o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) decidiu deixar o cargo, o Planalto se mobilizou ontem para garantir que os demais representantes do partido na Esplanada permanecerão. Interlocutores da presidente Dilma telefonaram ao líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), para assegurar que os dois ministros indicados pela bancada, Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), continuarão no governo.

O líder procurou os dois ministros e obteve a resposta de que não haverá mudanças.

— Há chance zero de eles saírem — informou Picciani a auxiliares palacianos.

Ao GLOBO, Pansera disse ontem que permanece enquanto Dilma determinar, e se disse contra o impeachment. Para o ministro, as divisões no PMDB são “naturais” e mostram que parte da legenda vai trabalhar pelo impedimento a partir de agora:

— Sou contra o impeachment, sempre fui. Acho que o Brasil tem de aprender a conviver com crises e sobreviver a elas. É normal que um partido de centro como o PMDB se divida em momentos de pressão como este. Mas hoje a maioria no partido é contra o impeachment, em que pese ter alguns quadros que vão trabalhar pelo impeachment.

Castro também afirmou que não pretende deixar o ministério e que participará, inclusive, da estratégia de defesa de Dilma na Câmara. O ministro defende que o PMDB indique apenas deputados contrários ao impeachment para integrar a comissão especial que analisará o processo:

— Estamos traçando a estratégia para o PMDB fazer a defesa de Dilma no Congresso. O PMDB foi às urnas com Dilma, que se reelegeu e tem o direito e o dever de exercer seu mandato. O PMDB faz parte do governo e não houve nenhum fato que fizesse o partido mudar de opinião. Não há fato que sustente o impeachment, não houve crime por parte da presidente. O PMDB tem compromisso com o estado democrático de direito. Seria o último partido a entrar numa aventura dessas.

Questionado se acreditava que o vice Michel Temer deveria fazer defesa mais clara de Dilma, o ministro respondeu:

— Ele é o vice. O partido dele está no governo. Ele vai se pronunciar na hora certa.

A ala governista do PMDB na Câmara quer que Dilma preencha o cargo de Padilha com outra indicação da bancada para firmar o apoio dos deputados nessa fase. A avaliação é que, hoje, a bancada está dividida.

A tendência é que os nomes saiam da bancada mineira no PMDB, que ficou fora da distribuição de ministérios e da liderança na Câmara. Já há inclusive nomes sendo cogitados: Newton Cardoso Junior, Mauro Lopes e Leonardo Quintão.

Há percepção de que trabalhar pelo impeachment é “jogo de alto risco”. Há dúvidas, porém, sobre a permanência de Henrique Alves no Turismo, pela pressão sobre o ministro, ligado ao grupo de Temer, para que faça o mesmo que Padilha.