Título: Processado, deputado desiste de vaga no TCU
Autor: Rothenburg, Denise; Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 14/09/2011, Política, p. 3

Sob acusação de improbidade administrativa, Jovair Arantes é pressionado pela própria bancada e abandona disputa. PTB deve anunciar apoio a Ana Arraes

Esvaziado dentro do partido e processado na Justiça, o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), decidiu abandonar a disputa para ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). A tendência do partido é apoiar a líder do PSB, Ana Arraes (PE), mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. A decisão foi anunciada ontem, logo depois de uma reunião dos deputados petebistas no Congresso Nacional. No mesmo dia, a 9ª Vara da Justiça Federal de Goiás abriu processo de improbidade administrativa contra o deputado por suposto tráfico de influência no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o parlamentar teria exercido tráfico de influência ao participar de um suposto esquema de "troca de favores" com funcionários do INSS. Jovair foi colocado sob suspeita a partir de escutas telefônicas flagradas pela Polícia Federal, durante a Operação Guia. O MPF destaca que os grampos mostram a participação do petebista em um esquema no qual ele indicava cargos para o INSS de Goiás em troca de benefícios a correligionários.

Em uma das escutas interceptadas, um funcionário do INSS se referia a Jovair como "comandante" e acertava a indicação de aliados do parlamentar para cargos do instituto em Goiás. "O comando efetivo do INSS em Goiás pertencia a Jovair Arantes. O acompanhamento meticuloso das escutas telefônicas realizadas na operação policial permitiu constatar que o parlamentar possuía tentáculos espalhados em diversos setores do instituto, representados por servidores estrategicamente lotados, com a finalidade única de atender os pleitos dos correligionários do político", destaca o procurador da República Raphael Perissé, no documento protocolado na Justiça Federal.

Jovair Arantes responderá ao processo na Justiça Federal, uma vez que o foro privilegiado para autoridades, cuja instância é o Supremo Tribunal Federal (STF), abrange apenas as ações da área criminal. Caso seja condenado por improbidade administrativa, o deputado pode perder o mandato e ter os direitos políticos suspensos. "Isso é denúncia velha e requentada. Ontem, houve um apelo para que eu permanecesse na liderança do partido e não concorresse ao TCU. Não pude recusar um apelo do meu partido", justificou o deputado.

Pressão partidária O deputado diz que a notícia é antiga e não está relacionada ao fato de ter desistido da briga pelo TCU. Na verdade, o PTB vinha há dias pressionando seu líder a não entrar na briga. Da parte dos pernambucanos, que representam 20% da bancada petebista na Câmara, havia um interesse especial em apoiar Ana Arraes. E esse interesse vai além do prestígio a uma conterrânea ilustre. Em breve, o governo deve fechar os nomes dos diretores de estatais relacionadas à região, como a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf).

E agora, com a desistência, há uma esperança de alguns em obter o apoio de Eduardo Campos quando o partido for reivindicar postos no Planalto. Hoje, os petebistas pretendem se reunir com a deputada Ana Arraes e com Eduardo Campos para anunciar formalmente o apoio à candidata socialista. O PMDB, por sua vez, que mantém a candidatura de Átila Lins, fará um jantar em sua homenagem.